Um poder podre é responsabilidade do povo que o elegeu

Diz a Constituição que "todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição (parágrafo único, do artigo 1º).

Se o poder que temos não presta é porque o povo o elegeu. 

Então antes de discutir qualquer reforma política na superestrutura institucional é preciso responder a duas questões básicas:
  1.  porque o povo elege um poder ruim, um poder podre, um poder imprestável?
  2. no que as medidas propostas de reforma política vão alterar ou melhorar as escolhas do povo?
Toda e qualquer reforma política tem que ser avaliada em termos de efetividade, ou seja, tem que afetar os comportamentos e decisões do povo. Reforma política só será efetiva se promover alteração dentro do eleitorado. Do contrário, mude isso ou aquilo, o povo continuará elegendo as mesmas porcarias atuais.  

O problema não é a reforma política. O real seria a "reforma do povo": do povo brasileiro.

Será que o povo acha que os candidatos que está elegendo são porcaria? (com perdão dos suínos). Ou acha que eles o representarão e atenderão às suas reivindicações?

A reforma política é proposta pela elite, por acadêmicos, organizações da sociedade que tem uma visão idealizada da realidade e representam, do ponto de vista eleitoral, uma pequena fração do total. Enquanto essa elite não conseguir alcançar "corações e mentes" dos demais eleitores, principalmente dos ditos "grotões", pouco vai mudar. O vai mudar para ficar tudo na mesma. E os atuais "donos do poder" vão continuar donos. Pode se derrubar um Eduardo Cunha, mas logo surgirá um Eduardo Cunha 2, também legitima (ou legalmente) eleito. 

A visão da elite é que a vontade do povo é sequestrada pelos políticos. Que o povo é enganado pelas mentiras dos políticos, iludido pelos meios de comunicação.

Cabe lembrar, no entanto, que os programas de televisão e rádio são relevantes para as eleições dos cargos majoritários, mas poucos para os cargos no Legislativo, que contam com pouco tempo de exposição - quando contam. 

A relação dos candidatos a deputados com seus eleitores é mais direta, "olho no olho". A menos do eleitorado das grandes cidades, onde esse contacto é limitado. Os eleitores votam na imagem que o candidato passa. Que pode ser bem maquiada pelo marketing político.

Pode se assumir que os 2/3 dos deputados federais, os que escandalizaram a elite brasileira, com as suas manifestações primárias na declaração de voto  a favor ou contra o impeachment, foram eleitos na relação pessoal com os eleitores. E, por isso, os deputados votaram agradecendo e em nome dos seus eleitores. 

Em relação, por exemplo, a proposta de voto distrital, a questão não é se esse regime vai melhorar a qualidade dos eleitos, mas se vai melhorar a qualidade dos eleitores? Porque quem tem o voto é o eleitor, é o povo. E é ele que vota nos seus candidatos e os elege ou não. Nenhum político se auto-elege.

Para que ocorra efetivamente uma reforma política, a elite precisa superar os seus preconceitos e reformar visões equivocadas. 

Um delas é querer que o político deixe de ser um deseducador para ser um educador. 

Outra é que reforma política é uma questão de legislação. 

Mas a mais importante é a auto-imagem de povo. A elite acha que é o povo. Influencia ou determina o seu comportamento. Mas quando ele se olha no espelho, a imagem que ela vê não lhe é agradável.









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