Um novo ciclo de investimentos

Com a crise econômica geral e a fiscal em particular, houve uma redução generalizada dos investimentos, afetando mais profundamente os de infraestrutura, a cargo do Estado.
Está havendo uma retomada lenta da economia, porém os investimentos ainda demorarão. Os industriais, que são preponderantemente privados, dada a capacidade ociosa ainda a ser vencida não ocorrerão de imediato. Os imobiliários pela falta de segurança, ainda das pessoas em assumir compromissos de longo prazo também demorarão. E também os de infraestrutura pela retirada do Estado, em todos os níveis de Governo, sem recursos orçamentários para os investimentos diretos. 

Com a absoluta escassez de recursos para investimentos públicos por parte do Governo Federal, da maioria dos Governos Estaduais e Municipais os novos empreendimentos em infraestrutura dependerão de aportes de recursos do setor privado.

Nos Governos Estaduais e Municipais, ainda com alguma margem, a alternativa para ampliar os volumes será o uso de Parceiras Público Privadas. Mas tanto na União, como na maioria dos Estados e Municípios nem as PPPs serão viáveis, por absoluta inexistência do P público. A alternativa que resta é das concessões comuns (ou plenas), com o investimento totalmente realizado pelo setor público e remuneração pela cobrança de tarifas dos usuários. Sem qualquer subsídio, essas tendem a ser elevadas, podendo reprimir a demanda.

Ao longo ainda de 2017 e da maior parte de 2018 ainda prevalecerá a cultura do investimento público. Os que ainda tiverem margem irão cuidar de completar os empreendimentos em andamento ou até paralizados, tendo em vista as eleições de outubro. Os sem margem, ficarão pressionando - ainda que inutilmente - o Governo Federal para obter alguma verba. 

A situação se agravou pela revelação das irregularidades nos fundos de investimentos em infraestrutura, com recursos do FGTS, assim como pela inadimplência dos tomadores de financiamento na Caixa Econômica Federal, para as obras de infraestrutura da Copa. 

Uma expectativa realista (e não ilusória) é de que ao longo de 2018 o Poder Público, quando muito completará obras, sem novas contratações e os Governos atuais não deixarão carteira de projetos para serem iniciados pelos novos em 2019. Restarão os investimentos de algumas Prefeituras, que não terão mudanças em 2019. Mas as maiores também estão sem ou com pouca margem para iniciar novos empreendimentos em infraestrutura. 

2018 será ainda um ano de esperança e de pressões para a retomada de investimentos públicos. Mas a realidade vai se impor acima das colocações da existência de imensos déficits e pouco dos investimentos desejados irão se efetivar ou serem iniciados.

2019 ainda será um ano de transição, mas com crescimento da percepção de que os investimentos em infraestrutura só serão possíveis pelo setor privado.

Com a responsabilidade transferida para o investidor privado as motivações não serão as mesmas do investimento público. 

O investimento público é movido pela existência de uma insuficiência de atendimento, também caracterizada como déficit. Essa é calculada ou determinada por estudos estatísticos e dá origem a pressões da sociedade para a eliminação desse déficit. O mais usual é o déficit habitacional, seguido do de saneamento.

Para o investidor privado, déficit não é sinônimo de demanda. A figura do déficit é criado pelos agentes do setor interessados em obter recursos públicos para o próprio setor. Mas além dos eventuais interesses corporativos, o investidor privado quer saber adicionalmente se as pessoas não atendidas estão interessadas em ser atendidas pelo serviço público e se estão dispostas a pagar por elas. 

Um caso típico é o da expansão ou melhoria de rodovias. As pessoas querem uma eventual duplicação da via, mas não estão dispostas a pagar o valor do pedágio. 

Para o investimento público a principal motivação é uma demanda social. Para o investimento privado o interesse está apenas na demanda econômica. Para o atendimento da demanda social ele quer o subsídio governamental. O que enfrenta resistências políticas.

Até a superação de uma cultura de confusão entre as responsabilidades do investimento público e o privado, este último ficará limitado, por conta dos maus entendimentos. 

Dentro desse quadro, um volume expressivo de investimentos privados em infraestrutura só deverá ocorrer  a partir do segundo semestre de 2019.

Mas ainda em 2018 e início de 2019 poderá haver uma demanda por estudos e projetos, seja para a preparação de MIPs (Manifestações de Interesse Privado) como para preparação de propostas para concorrer nas licitações. 

Segundo essa perspectiva os empreendimentos privados, com maior atratividade estarão:

  • ainda no setor de petróleo e gás;
  • na geração de eletricidade por fontes alternativas (principalmente, solar, eólica e biomassa);
  • estações de esgoto em grande cidades;
  • ferrovias para o transporte de produtos agricolas para exportação.
(cont)





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