Um bom ou mau projeto nacional? (4) - Reindustrialização

Dentro da perspectiva de que o Brasil para se tornar um país desenvolvido precisava ter uma indústria própria, foi estabelecido um imenso e diversificado parque industrial, concentrado em São Paulo, a partir dos anos 50. Até os anos 80 a indústria foi o motor do desenvolvimento econômico brasileiro, protegido por barreiras determinadas pelo Estado Brasileiro.
Perdendo substância, a partir dos anos noventa, com a abertura da economia para importações, é - atualmente - uma indústria - em geral - desatualizada tecnologicamente,  com baixa produtividade e não competitiva mundialmente.

Restabelecer um projeto nacional com base na reindustrialização não basta determinar o desejo, mas precisa identificar pontos fortes e fracos para avaliar em que setores a industria brasileira teria condições de ser ou tornar-se mundialmente competitiva.

Diante de um mundo globalizado, com restrições crescentes ao protecionismo - apesar dos esforços de Trump - qualquer indústria para se manter no mercado precisará ser mundialmente competitiva.

Do conjunto da indústria de transformação, um primeiro destaque deve ser dada à indústria de processamento ou transformação de matérias primas nacionais, separa em dois segmentos: a de alimentos e a de produtos florestais.

Essas deverão ser incorporadas à categoria de agronegócio, que segundo as entidades do setor, representaria cerca de 20% do PIB.

Este segmento industrial será empurrado pela produção agropecuária. Uma discussão a ser considerada é se esse segmento terá condições de se tornar motor do desenvolvimento econômico brasileiro, atendendo à opção de agregar maior valor às matérias primas agro-pecuário-florestal.

Do restante da indústria de transformação, duas classificações devem ser consideradas: o mercado comprador, se nacional ou mundial e o capital das empresas predominante no setor: se multinacional ou nacional.

A questão de fundo dessa avaliação está na perspectiva de que o Brasil dispõe já de um imenso mercado interno, mas ainda com grande potencial de expansão.

A indústria voltada para o mercado interno não exerce mais o papel de motor primário do desenvolvimento econômico. Exerceu esse papel na fase inicial da industrialização, por estar voltada para a substituição de importações. 

A demanda estava criada e suprida por importações. A implantação de uma indústria no território nacional, para suprir essa demanda, financiada por recursos externos e governamentais, gerou empregos, capturou renda dos demandantes e deu partida a um círculo virtuoso: a renda paga aos trabalhadores transformou-se em consumo, demandando mais produtos industriais. Ela criava a sua própria demanda.

Esse círculo foi rompido com a escassez de recursos públicos e a abertura da economia para importações. Agora essa indústria depende da demanda criada pela renda paga aos trabalhadores de outros setores, não apenas dela. Ela é puxada pelo crescimento do consumo das famílias. Também é puxada pelos gastos com investimentos, tanto públicos como privados. (esta questão será objeto de uma análise específica. As aqui consideradas são as indústrias voltadas para o consumo das famílias).

As nacionais voltadas para  o mercado interno precisam ser competitivas para enfrentar a concorrência externa, não instalada no país.

Essa concorrência é baseada em dois fatores principais:  preço mais baixo e inovação tecnológica.

Os produtos com preços mais baixos são oriundos principalmente da Asia, onde a indústria associando uma larga escala de produção e custos mais baixos de mão-de-obra podem oferecer preços não acompanháveis pela produção industrial brasileira. A superação da concorrência desses produto só poderia ocorrer com uma alta desvalorização do real, perante as moedas estrangeiras ou mecanismos protecionistas, como impostos diferenciados.

Tais proposições ou pretensões da indústria nacional esbarra nos interesses dos consumidores, que querem preços menores de venda, não importando se a produção é nacional ou estrangeira.

A sobrevalorização do dólar só ocorreria com crise cambial o que passa a ser cada vez menos possível de ocorrer, diante das exportações crescentes da commodities agricolas. E que podem ser reforçadas pelo aumento da produção e exportação de petróleo.

Um tratamento tributário diferenciado enfrenta dificuldades com o Sistema Internacional de Comércio, gerido pela OMC. Exemplo recente é o Inova Auto, criado pelo Governo Dilma, mesmo sabendo que seria contestado na OMC. Em conluio com a Indústria Automobilistica instalada do Brasil, jogou com a demora dos processos dentro da OMC. 

Não podendo contar com esses dois instrumentos, a única barreira que persiste é a ineficiência logística. Enquanto essa persistir alguns mercados regionais poderão resistir à concorrência estrangeira. Fora disso estarão condenadas ao declínio e até ao desaparecimento, deixando de ser um fator de desenvolvimento, e se tornando um problema social.

As industrias de multinacionais voltadas apenas para o mercado interno decorrem das estratégias de assegurar a participação no mercado brasileiro com a montagem final de seus produtos criados no exterior. Alguns podem ter adaptações para o mercado nacional, mas a sua opção é importar o produto inteiramente produzido no exterior ou montar no Brasil, para ser mais competitivo em relação aos seus concorrentes externos. 

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