Os movimentos sociais não dependem apenas das mudanças de percepção individuais, tampouco de manifestações coletivas mobilizadas por mecanismos não personalizados. Como são as redes sociais.
O processo político continua requerendo a presença física de pessoas, de líderes capazes de catalisar as aspirações coletivas. Nas manifestações coletivas as pessoas podem participar por um sentimento comum. Podem aplaudir os vários porta-vozes, as lideranças pessoais, mas no processo eleitoral elas precisam votar num candidato, devidamente registrado, vinculado a um partido também legalizado.
Os integrantes do MTST (Movimento dos Trabalhadores, sem Teto) podem dar todo apoio ao seu líder Guilherme Boulos, mas não podem elegê-lo a qualquer cargo se ele não estiver filiado a um partido e ter a sua candidatura devidamente registrada.
Eles defendem uma democracia popular, onde isso seria possível, mas o sistema existente é o da democracia representativa. Não estamos mais na Grécia Antiga.
A posição de rebeldia dos jovens participantes ou mesmo das lideranças dos movimentos de rua, os levam a não aceitar o enquadramento no sistema político e eleitoral vigente. Tendem a ser revolucionários combatendo e pretendendo romper o sistema com o qual não concordam. O que limita a sua capacidade de ação efetiva na mudança da sociedade. Ficam na dependência da mudança dos políticos tradicionais eleitos dentro das regras do sistema.
Alguns começam a perceber que ficar no combate do lado de fora, esperando que os que estão dentro façam as mudanças, não é produtivo, não é efetivo. Alguns começam a aceitar e ingressar no jogo político institucionalizado. Sofrendo as críticas dos companheiros que os consideram "traidores da causa revolucionária". Na cidade de São Paulo, 3 líderes dos movimentos se elegeram vereadores. Alguns outros concorreram, sem sucesso. Não estão todos do mesmo lado, mas aceitaram o jogo da democracia representativa.
Poderá ser o início de um novo ciclo ou ser abortado, por não contar com o suficiente apoio popular. Vale dizer, por não terem votos suficientes para eleger bancadas significativas. Uma coisa é promover mobilizações socais pelas redes, outra é transformar essas mobilizações em votos.
Os revolucionários que contam com o inflamado apoio dos seus seguidores diretos se frustram quando percebem que aqueles que eles defendem (os mais pobres ou excluídos) não os apoiam na hora do voto. Uma coisa é "viralizar" na rede social, outra é transformar os seguidores em seus eleitores.
O cenário otimista é que esse processo tenderá a se transformar em votos, crescer e se ampliar.
As eleições na cidade de São Paulo, indicaram a ocorrência inicial desse processo. De um lado elegeu um não político, relativamente jovem, prometendo seriedade nas contas públicas, apesar de apoiado pelo sistema político tradicional. De outro elegeu o "decano" dos ativistas com o maior número de votos entre todos os vereadores. Em ambos os casos, as ruas foram às urnas, embora de correntes populares opostas. E não faltaram eleitores que votaram nos dois.
Mas esse fenômeno eleitoral se limitou a São Paulo.
Terá sido um acidente circunstancial ou o início efetivo de um novo ciclo político?
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