Transição entre ciclos

As eleições de 2016 indicam uma transição entre a "velha" e "nova" política, com a  convivência de ambas, dentro do que já se caracterizou como a "contemporaneidade do não coetâneo" (Hélio Jaguaribe). Não foi apenas entre o acima e abaixo do paralelo 16. Acima (norte, nordeste e centro-norte) prevaleceu inteiramente a velha política, com os mesmos candidatos "de sempre" nas capitais. Vencendo no primeiro turno ou disputando no segundo. Abaixo do paralelo 16, duas grandes novidades: em São Paulo, os eleitores elegeram um novo prefeito que se encaixa no perfil desejado pelos manifestantes das ruas: um não político, moderno, mais autêntico. O marketing político não criou uma nova imagem, apenas reforçou os reais. Os com perfil "velho", populistas, foram amplamente derrotados.
No Rio de Janeiro, a disputa no segundo turno está entre duas opções do "velho", o que segundo alguns cientistas políticos, seria do atraso: seja o populista, mais à direita, como o da esquerda radical. Com um agravante: seria um retrocesso, em relação a Eduardo Paes, indicando que as evoluções não são continuas, contemplando avanços e recuos.

Adotamos no tema, duas grandes categorias do eleitorado das grandes cidades, predominantemente urbanas: o da renda e padrões de consumo e cultura, dividido entre o segmento de maior renda, envolvendo as classes A e B; os de média renda, caracterizados como classe C e os de menor renda, os de classe D e E.

Dentro das categorias de opinião pública, os primeiro estão inteiramente dentro da opinião publicada, e os dois últimos dentro da opinião não publicada. A classe C é o grande conjunto descaracterizado. Na realidade existe como "resíduo" embora seja a maior parte da população. Nem são enquadráveis nitidamente como ricos, tampouco como pobres.

Em São Paulo, a expectativa mais provável, embora não desejável pela opinião publicada, era da vitória do populismo, dividido entre o populismo petista, com três candidatos, e o populista de grande visibilidade popular. Todos foram superados pela nova figura, que conseguiu conquistar "corações e mentes" dos eleitores das classes C, D e E, pela ampla e profunda rejeição desses aos políticos tradicionais. As circunstâncias criaram e reforçaram a imagem de que todo "político é ladrão". Em sendo político, já carregava a rejeitada pecha de "ladrão". Declarando-se não político, poderia não ser, ou pelo menos, não parecer.

Em São Paulo, essa percepção do eleitorado foi decisiva. No Rio de Janeiro, não. Freixo pode ter a imagem de honesto, mas ao ficar do lado de Dilma, deixa em dúvida. O PT ganhou a fama de ser a maior quadrilha que "roubou todo o Brasil". No Rio de Janeiro, com maior impacto em função dos roubos na Petrobras. O PT ainda é defendido ardorosamente por uma minoria. Predominantemente de classe média. Mas de baixo impacto eletivo.

A imagem de seriedade e honestidade de Freixo pode tê-lo levado ao segundo turno, mas não o suficiente para derrotar Crivella. Diversamente de Dória Jr  não conseguiu conquistar corações e mentes dos mais pobres, inteiramente "ressabiados" com o PT e a esquerda.

Crivella e Russomanno representam uma nova força política, que tem por base a cultura evangélica. Uma cultura ainda não consolidada e muito dividida entre uma multiplicidade de igrejas e pastores.

Em São Paulo os evangélicos conseguiram aumentar o tamanho da sua bancada na Câmara Municipal, com uma importante participação das "Tias Eron". O nome e a figura ficaram nacionalmente conhecidas por que seria o voto decisivo na pronúncia do ex- Presidente da Câmara, Eduardo Cunha, no Conselho de Ética. Mas fracassaram na eleição de quem poderia representa-los na Prefeitura.

Já no Rio de Janeiro, tem a possibilidade de eleger um ex-pastor. A dúvida é se seguirá, como uma trajetória, ou se será circunstancial.

(cont)



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