Revoluções industriais e verdes (4)

As condições descritas anteriormente, apontam para uma nova oportunidade histórica para o Brasil. É novamente um momento em que o país, pela sua sociedade e seu Governo, pode estabelecer ou optar por um projeto nacional.


O mundo precisa de alimentos. O Brasil é um dos países que pode suprir o mundo de alimentos. Poderá assumir esse papel ou recusá-lo.

A razão para assumir é, principalmente de caráter econômico, embora envolva questões humanitárias. A exploração das vantagens comparativas pode ser o motor de uma nova etapa de forte crescimento econômico e a retomada das posições de relevância no contexto mundial.

Através da dinamização da economia através do agronegócio tornar-se uma das maiores economias mundiais.

As razões para não assumir são várias.

A primeira é também de natureza econômica, retomando às mesmas questões de 70 anos  com o fim da Segunda Guerra Mundial.  O Brasil era um país agrário e a sociedade - ainda altamente elitizada - se dividia entre se manter com base na produção e exportação do caté e açúcar ou buscar se industrializar. 

Optou por se industrializar, o que o fez com sucesso, mas não se ajustou aos novos ciclos das ondas ou revoluções industriais e hoje está em grave crise estrutural. 

Essa crise se manifesta por sintomas financeiros, centrada no desequilibrio fiscal. Mas a causa principal foi a tentativa dos Governos anteriores (Lula 2.0 e Dilma 1.0), através do Estado, em recuperar um modelo econômico esgotado (ou falido).   

Caracterizada como "nova matriz econômica", pela visão financista ou monetarista da economia, na visão estruturalista foi uma vã tentativa de salvar a indústria brasileira - ainda fortemente concentrada em São Paulo e nos estados do sudeste, com expansão para o sul - através do desenvolvimento do mercado interno. 

A estratégia dilmista não deu certo por várias razões, mas a  principal foi a "revolta" do setor agrário que apesar de desprezada pelo projeto da Industrialização Brasileira, persistiu em crescer e gerar divisas pelas suas imensas exportações de grãos. Sob sucessivas críticas porque eram exportações de commodities e não de produtos de "maior valor agregado". 

A essa visão restritiva se somava a exportação de minério de ferro, outra imensa commodity, então com elevados preços provocados  pela intensa e temporária demanda   da China. 

Com um grande volume de exportações, o Brasil gerou superávits comerciais, apreciou o real, com a contrapartida do enfraquecimento do dólarApesar disso as exportações de commodities continuaram crescendo, impulsionadas pelas melhorias das cotações no mercado internacional. O mesmo não ocorreu com as exportações industriais que foram refluindo, inclusive com perdas de mercados anteriormente conquistados. 

Apesar de alertas de alguns economistas de que o Brasil estava acometido da tal "doença holandesa" o Governo Dilma achou por bem manter o dólar depreciado, para através da importação de produtos mais baratos, controlar a inflação e até mesmo reduzir os juros. Deu errado e deflagrou uma série de desequilibrios, mascarada pelas "pedaladas". 

Além de perder mercados externos a indústria brasileira perdeu  grande parte do mercado interno. A grande onda de importação de produtos mais baratos para o consumidor tirou daquela indústria a oportunidade de se beneficiar da expansão do consumo doméstico.

A inviabilidade de continuidade dessa tentativa de sustentar o modelo da "industrialização voltada para o mercado interno", obrigando o Governo a um ajuste fiscal, sem poder recorrer a mais aumentos de impostos  - dada a resistência da sociedade - desencadeou a crise ora próximo ao "fundo do poço".

A crise atingiu o cerne do modelo econômico implantado e vigente dentro do projeto de industrialização brasileira: o consumo das famílias. Gerando um círculo vicioso: longo mas que pode ser resumido em resumo em três ligações: menos consumo das famílias = maior desemprego = menor consumo das famílias. 

Apesar da crise da indústria brasileira e da sustentação do agronegócio, dar maior relevância a este e elegê-lo como o pilar da nova fase de crescimento econômico gera a sensação de regressão e de frustração. 

Voltariamos a ser um país agrário e não mais industrial. Um país dependente de commodities. E uma plena confissão de fracasso como país.  

A crise foi agravada pela ampla contaminação dos órgãos pela corrupção. A detecção dessa contaminação e o seu combate levou à paralisia de muitas atividades. Mas isso são outros ou mais "quinhentos".

(cont)   
 

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