Revoluções industriais e verdes (2)

A decadência do Brasil Industrial fez emergir o Brasil do Agronegócio, até então sufocado e exercendo um papel de apoio ao primeiro. 

Com a queda sucessiva de participação  dentro da economia brasileira - medida pelo PIB -  a indústria vem perdendo o protagonismo de motor do crescimento econômico, o que vem sendo assumido pelo agronegócio. A decadência da indústria se reflete na decadência geral da economia brasileira.

Embora a economia brasileira já seja, predominantemente, de serviços, esses ainda não tem independência para assumir o comando da economia, estando acoplados à produção industrial ou agrícola. 

A compra de serviços puros - os realizados por pessoas - pelos consumidores ainda é relativamente pequena. A maior compra é dos serviços agregados aos produtos físicos, seja através das empresas produtoras, como diretamente na venda ao consumidor. O mesmo ocorre com as exportações de serviços. 

Os serviços poderão assumir esse protagonismo no futuro, com a plena inserção do Brasil na 4ª Revolução Industrial. Mas para isso dependerá da geração de demandas e de renda, que no curto e médio prazo serão produzidos pelo agronegócio.

A crise brasileira é acima de tudo uma crise de demanda, com a economia presa a um círculo vicioso dentro do circuito econômico do mercado interno. 

Quando ocorreu a crise financeira internacional nos anos de 2007 e 2008, o Governo Brasileiro desenvolveu uma estratégia anticíclica, estimulando o consumo interno e puxando a produção nacional para o seu atendimento. 

Mesmo depois de amainada a crise financeira internacional o Governo deu continuidade à estratégia, mediante medidas artificiais e, principalmente, através dos gastos públicos, sucessivamente financiados por elevações tributárias. 

Com isso conseguiu sustentar o nível de produção, medida pelo PIB, e os níveis de emprego, às custas da descapitalização das duas principais estatais, a Petrobras e a Eletrobras e também dos Bancos Oficiais, de "pedaladas fiscais" e do aumento da divida  pública. Com isso conseguiu conquistar a reeleição da sua Presidente, sob intensas críticas e oposição popular. Gerando a perda de confiança dos agentes econômicos privados.

Dada a inviabilidade de continuar utilizando os recursos públicos para promover ou sustentar a economia e de aumentar os tributos, o Governo teve que apelar para um ajuste fiscal, que não se concretizou inteiramente.

Sem o apoio das medidas promocionais, o consumo das famílias começou a enfraquecer. Com a retração das compras o comércio passou a vender menos, reduziu as encomendas à indústria que, diante da formação de grandes estoques, passou a reduzir a produção e a demitir trabalhadores. As demissões geraram um clima de insegurança que ampliou a retração das compras, provando novas e sucessivas ondas de demissão, cada uma delas causando a seguinte. 

O resultado é que de uma situação próxima ao pleno emprego e elevação sucessiva de postos de trabalho formal passou-se para um quadro de  reduções sucessivas do volume total de empregos formais e aumento dos níveis de desocupação. 

Passou de 6,2 % no último trimestre de 2013 para acima de 10%, no primeiro trimestre de 2016, levando 11 milhões de trabalhadores à desocupação.

Com o aumento da desocupação reduz-se a massa salarial, repercutindo na diminuição das compras. Mesmo a massa salarial remanescente, também reduz as compras, em função da insegurança em relação ao futuro. Principalmente nas compras a prazo, o que é o mais comum nas compras de bens de consumo durável.

Em resumo, a freada no consumo das famílias leva à redução do comércio, que demite. O comércio encomenda menos da indústria, que sem pedidos reduz a produção e também demite. As demissões reduzem o poder de compra, ampliando a freada no consumo. 

A crise fiscal não é apenas do excesso de gastos, mas da redução da arrecadação. Também aqui ocorre o círculo vicioso.    

Dada a inviabilidade de aumentar os recursos públicos para dinamizar a economia, através do consumo, só existem duas alternativas estruturais: ampliar as exportações e investir, com recursos privados, em infraestrutura.

A ampliação das exportações dependem, de um lado, da  existência de um mercado internacional comprador e, de outro duas condições do lado do produtor nacional: disposição de exportar e condições de competitividade para conquistar a demanda externa, superando os concorrentes.

Apesar da crise internacional e baixo ritmo de crescimento  econômico global, há uma enorme demanda mundial de importações, da qual o Brasil tem uma participação mínima: abaixo de 2%.

Ou seja, a dificuldade principal não está do lado externo, em que pese a falta de suporte dos acordos comerciais.  Esses ajudam, mas não são restritivos.

As principais dificuldades para a ampliação das exportações de produtos industrializados estão na baixa disposição dos produtores brasileiros em dedicar maior fatia da sua capacidade produtiva para os mercados externos. Tanto de parte das multinacionais que se instalaram no Brasil para atender ao mercado doméstico, como das nacionais que preferem a suposta comodidade de ficar no mercado nacional. Para disfarçar a sua falta de disposição de enfrentar o mercado mundial, passam a alegar a falta de apoio do Governo, a baixa cotação ou volatilidade cambial, a carga tributária, os encargos sociais, os "juros escorchantes" e muitos outros motivos. Alguns são efetivamente significativos. Mas outros são meras desculpas, para a indisposição. 

Em muitos casos, a indústria brasileira não tem competitividade para concorrer com os competidores internacionais, principalmente os asiáticos. E nesses casos, mesmo que exista a demanda externa e a disposição de exportar os industriais não teriam preços e qualidade para serem aceitos pelos compradores externos.

Além da natural complexidade e demora em efetivar as exportações de produtos as condições de competitividade não geram resultados de curto prazo. E em muitos casos, nem a médio prazo. Não se trata de medidas pontuais e isoladas. É uma questão de redirecionamento radical da indústria brasileira.

A reversão da indústria brasileira  voltada para o mercado interno para uma indústria voltada para o mundo (o que inclui o mercado nacional) será um processo demorado. Irequerer grandes investimentos, eventuais abandonos de ativos construidos anteriormente e, principalmente mudança cultural. Não apenas dos industriais, mas também das autoridades governamentais e de toda sociedade. 

Com um agravante: estamos diante da emergência de uma nova Revolução Industrial. Que tem sido caracterizada como a 4ª Revolução Industrial. 

Segundo a visão estratégica a alternativa para o futuro não seria de recuperar e redirecionar o parque industrial  atual, mas criar uma nova indústria dentro dos conceitos ou concepções da IV Revolução Industrial. Uma delas é a destruição criativa. O que poderá implicar no sucateamento de muitas fábricas atualmente instaladas no país. Gerando problemas de desemprego e esqueletos urbanos.

Teremos coragem de destruir um projeto bem sucedido, mas que se esgotou, se tornou obsoleto e ineficaz para criar uma nova indústria brasileira?

Com uma única certeza e inúmeras incógnitas. A neo-industrialização não será igual à anterior. Mas como será ainda não sabemos.  

 

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