Redução dos juros básicos e os empregos

O Banco Central fez uma redução da taxa de juros básica, desejada pelo mercado, mas não esperada. As Centrais Sindicais querem mais, mas é uma sinalização importante, dentro da expectativa de melhoria da economia e dos empregos.
O reflexo direto da baixa da SELIC é sobre as contas do Tesouro Nacional, com uma contenção no crescimento da dívida pública. A expectativa é que com o teto de gastos não haverá um aumento do déficit primário. Com isso os encargos com os juros da dívida pública, que continuarão não sendo pagos, mas rolados, serão menores. 
Será um pequeno alívio, no endividamento, mas não implicará em gastos maiores por parte do Governo. Portanto, o efeito sobre programas governamentais para promover o aumento de empregos será nulo. Embora vá haver grandes pressões para o Governo gastar mais.
A curto prazo, mesmo com o desejo manifestado pelo Presidente da República, em retomar as grandes obras do PAC, não terá recursos para tal. Não existe - embora desejável - a possibilidade imediata de retomada da construção de obras públicas, gerando novos empregos. O 
que poderá se conseguir é conter o volume de demissões com a conclusão de algumas obras. 

O mais importante da decisão de 11/01/2017 do Banco Central é assegurar que as expectativas consideradas se efetivem: 

  • redução continuada da inflação;
  • retomada da atividade econômica.
Caso essas se efetivem haverá continuidade nos cortes, alcançando o nível desejável de um dígito na taxa nominal e da ordem de 6% na taxa real. O que ainda é alto, mas o suficiente para tornar a caderneta de poupança novamente atraente e  fica abaixo das perspectivas de retorno de investimentos produtivos. O que levaria, segundo as teorias economicas e manifestações empresariais a investir os seus excedentes de renda a no aumento da capacidade produtiva, em vez de aplicá-los em inversões financeiras.

A redução da inflação decorre de dois fatores, um natural e outro de caráter micro-econômico. Ao longo de 2016, fatores climáticos adversos, com perdas de safras, de produtos alimentícios elevou a taxa de inflação e sustentou os preços elevados que só começaram a ceder no último trimestre de 2016, com a entrada de novas safras. 

A persistência da inflação decorre da estratégia dos agentes produtores de 'recomposição de margens'. Diz a teoria econômica  de que diante de uma demanda menor, o vendedor reduz os preços para manter as vendas. Mas a estratégia da recomposição da margem faz o contrário. 

Essa estratégia empresarial - o que corresponde a movimentos microeconomicos - desfoca os produtos que estão perdendo vendas para se concentrar em produtos voltados para um patamar de renda superior. Em termos simplistas busca migrar de um mercado popular para um mercado de elite. 

Enquanto o Governo, os macroeconomistas influenciando a sociedade através do noticiário da midia se preocupam com os 12 milhões de desempregados, o empresário se volta para os 98 milhões ainda ocupados, com renda e ainda importantes consumidores.

Alguns casos de sucessos dessa estratégia, animam consultores e executivos empresariais a seguir essa estratégia. É, por exemplo o caso da P&G. "A Procter & Gamble, maior fabricante de produtos de limpeza doméstica e de higiene pessoal do mundo, encerra 2016 com expansão, de dois dígitos, da receita no Brasil... A empresa reduziu as promoções, aumentou o foco em marcas de maior preço". (valor, 20/12/2016).

Por outro lado são registrados casos de insucesso, como o das Lojas Marisa: "Marisa reconhece erros e volta a focar mulheres da classe C" (valor 09/12/2016). 

As tentativas de recomposição das margens empresariais, contiveram a redução da inflação, alimentando a continuidade e aprofundamento da recessão. Um volume maior de insucessos do que de sucessos fez com que prevalecesse a tradicional teoria econômica, de redução dos preços diante do enfraquecimento da demanda. Com isso a inflação recuou ficando dentro do teto da meta de inflação. O que teria justificada a redução de 0,75 pts na taxa SELIC.

A ameaça permanece. Com a melhoria da demanda não faltarão empresários e executivos dispostos a recompor as margens, no mais curto prazo possível. E os trabalhadores começarão campanhas para recuperação das perdas. 

Os sindicatos dos trabalhadores tem compromisso com a sua base; não com a macroeconomia. Vão lutar pela recuperação das perdas salariais dos empregados que remanescerem. Tanto os empregadores, como os empregados reagem a situações concretas, no campo da microeconomia. 

Já as Centrais Sindicais tem maior compromisso com a macroeconomia, tendo que avaliar os impactos mais gerais das ações individuais dos seus associados.

(cont)














9valo

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