Previdência: visões diferentes

A reforma da previdência tem sido tomada por slogans, palavras de ordem, números arranjados ou manipulados, sem a devida discussão sobre a sua efetiva necessidade e impactos.
A dificuldade de aprovação decorre de visões distintas sobre a aposentadoria.

A mais significativa é a visão individual, o que tem forte efeito político, porque é a visão do eleitor. O eleitor é um indivíduo. Um conjunto de indivíduos elege um deputado federal. Um número maior de indivíduos elege um Senador e outro maior ainda elege o Presidente da República.

O politico que quer se eleger precisa atentar para as visões, interesses e desejos de cada um dos seus eleitores. E os eleitores, na sua maioria, são contra a reforma previdenciária.

E por que são contra?

O Governo e os defensores da reforma não enfrentam essa questão. Preferem colocar outra visão, outros números que, atá agora, não tem convencido o número de congressistas necessário para aprovar. E esses são contra porque o seu eleitor é contra. Uma parte apenas é contra por princípio, por oposição ao Governo ou para defender interesses de grupos que fazem parte do seu eleitorado.

Há uma hipótese de natureza cultural. 

Há pessoas que trabalham porque gostam do seu trabalho. Não é um sacrifício, mas é um prazer. Mas são minoria.

Outros trabalham pela necessidade de sobrevivência presente. 

Mas uma grande parte, se não a maioria, trabalha para poder se aposentar. O sonho de vida, o objeto de desejo é uma aposentadoria remunerada, sem ter que trabalhar.

Discute-se se isso tem um fundamento religioso, se é fruto de um processo histórico ou se é um traço cultural. 

Mas o fato real é que essas pessoas começam a trabalhar pensando na sua aposentadoria. O início do trabalho é o marco de uma contagem regressiva do tempo adicional que precisam trabalhar para poder se aposentar.

A aposentadoria é "vendida" como um sonho idílico do "sombra e água fresca", em o trabalhador pode desfrutar das delícias da vida sem ter obrigação diária de ir à empresa, à repartição, para poder ter uma renda.

Para esse trabalhador, as condições para poder se aposentar, são as vigentes quando ingressa no mercado de trabalho, marcada pela sua primeira carteira de trabalho ou pelo ingresso no serviço público. E as incorpora como direito.

Para ele qualquer mudança nessas regras que piore as condições para obter a sua aposentadoria é percebida como uma retirada de direito. E ele é contra. E induz o deputado a votar contra. 

O Governo quer que ele abra mão do seu suposto direito em nome da sanidade das contas públicas ou para o bem do Brasil.

Ou apela para o "terror" de que sem esse sacrifício pessoal, o país vai quebrar, ou que a Previdência vai quebrar e ele não vai poder receber a sua aposentadoria no futuro. Ou mesmo já no presente, como está ocorrendo com os aposentados do Estado do Rio de Janeiro. Ameaça com a perspectiva de que ele poderá receber, mas os seus filhos não.

Mas o trabalhador reage com um questionamento pessoal: por que eu? E os outros? 

(cont)




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