Por que a mídia não elege ninguém?

Embora não seja verdade, há o mito de que a grande mídia não elege ninguém. Ela é muito forte, apoiado pelo poder econômico, mas não consegue influenciar suficientemente o eleitor em relação às suas preferências. Ela, efetivamente, não consegue eleger ninguém sozinha, mas o seu apoio a um determinado candidato, para evitar a eleição do concorrente, pode desequilibrar a disputa. Isso ocorreu como o apoio da Rede Globo à candidatura de Fernando Collor de Melo, contra Lula, foi decisivo.

O fato é que ela só alcança uma parcela menor eleitorado, a opinião publicada, mas acredita que essa corresponde à totalidade. Ela já percebeu, mas não aceita - por que se recusa a tal - essa realidade. Então inventa uma série de argumentos ou teorias para contestar o óbvio: a opinião não publicada não segue a publicada. Tem suas percepções, valores e emoções próprias. E vota segundo elas.

A opinião não publicada é formada, predominantemente, por pessoas pobres, de baixa formação escolar. Grande parte ainda é analfabeta, completa ou funcional. Portanto não lê jornais ou revistas. Acompanha a televisão, mas como noticiário o policial.

Três políticos recentes tiveram capacidade de perceber e entender corações e mentes dos diversos segmentos da opinião não publicada e, com isso, elegeram Presidentes. Collor e Lula se elegeram. Lula elegeu Dilma e, de quebra, Fernando Haddad em São Paulo. ACM elegeu Fernando Henrique Cardoso. Duda Mendonça e João Santana fizeram desse dom, uma atividade profissional rentável e ajudaram a eleger políticos populistas.

Agora em São Paulo, Celso Russomano é o político que tem essa capacidade inata de perceber a alma do eleitorado desilustrado e desinformado. E a menos de um deslize pessoal que coloque a opinião não publicada desconfiada ele será eleito com grande margem de votos. A grande mídia estará contra ele, tentará desconstruí-lo, conseguirá dentro da opinião publicada, mas não junto à opinião não publicada. Como esta abrange a maioria dos eleitores e a publicada está dividida entre vários candidatos Russomano leva vantagem.

A mídia precisa de volume: seja de leitores, como de audiência para o rádio e televisão. A classe rica tem dinheiro, mas pouco volume. A classe média tem volume e renda compondo a maior parte da massa consumidora. É para ela que a mídia se dirige e obtém das empresas e da classe rica o dinheiro, através da publicidade, para manter e desenvolver as suas atividades. Entre elas o noticiário e análise política, visando informar e influenciar.

No papel de informar a mídia procura ser neutra, suspostamente informando tudo o que acontece na vida, o que não é verdadeiro, dada a  imensidão das ocorrências. Ela seleciona as noticias que acha mais relevante para o seu público ou seus públicos. E mesmo no que noticia, dá destaques diferenciados.

Já no papel de análise, nunca é neutra ou inteiramente apartidária. O órgão de imprensa tem seu valores, suas crenças e analisa as circunstâncias sobre as suas lentes. E busca a interação com os seus leitores ou assistentes. Analisa da forma que aquele acha que o seu público quer. Todos gostam daquela análise que coincide com o seu pensamento: efetivo ou potencial. É a reação "é isso mesmo", "é como eu também penso".

Essa interação gera uma ilusão para os jornalistas e, principalmente para os opinativos. Eles sempre interagem com os muitos que concordam com ele e pouco, com os que pensam ou veem diferentemente. E assumem que o mundo com que interagem é o mundo todo.

Também acabam sendo vítimas do "nóis com nóis". "Nois é bom, o resto é o resto".

Isso leva os dirigentes dos órgãos da mídia, assim como seus analistas a conhecer melhor e se dedicar mais ao universo que conhecem, com o qual interage pessoalmente e menos com os outros. Para esses pode mandar os seus "focas" para levantar informações, ou fazer a cobertura das ocorrências, o que lhes dá idéia desse outro universo, mas já por fontes secundárias.

No campo político, a interação dos analistas políticos é com os políticos eleitos ou candidatos, não com os seus respectivos eleitores.

O fenômeno Russomano em São Paulo é ilustrativo da miopia da mídia.

A opinião publicada não gosta do Russomano e não o quer como Prefeito da sua cidade. Só que a sua cidade, não é toda a cidade de São Paulo, circunscrita institucionalmente. A maioria dos eleitores de São Paulo fazem parte da opinião não publicada. Que a primeira considera, pejorativamente, como sendo a "periferia".

Essa é tratada por estereótipos. Politicamente é o reduto do PT. Não é mais. O PT, foi conquistando esse eleitorado que já foi janista, já foi malufista, já foi serrista, mas acabou dominado pelo PT lulista, o que levou à eleição de Haddad, contra Serra, em 2012. Mas a derrocada ética do PT com a sequência "mensalão - petrolão" e o envolvimento do próprio Lula, tornou a opinião não publicada uma "terra de ninguém".

Aberta a campanha, todos querem conquista-la, mas Russomano já tem uma posição à frente, com um eleitorado que o conhece à mais tempo. Com uma imagem favorável.

Condição que poderá leva-lo seguramente ao segundo turno. A disputa é pelo segundo candidato e a capacidade dele unir a opinião publicada contra Russomano e conquistar fatia ponderável da opinião não publicada.

A indagação recorrente que deu origem a este artigo é se a grande mídia que domina a opinião publicada terá capacidade de evitar a eleição de um candidato repudiado por essa, mas dominante na opinião não publicada?


 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Lula, meio livre

Lula está jurídica e politicamente livre, mas não como ele e o PT desejam. Ele não está condenado, mas tampouco inocentado. Ele não está jul...