Por onde começar?

Para reverter o processo descendente da economia brasileira é preciso re-acionar um motor que ponha em movimento a correia transportadora do crescimento.
Há motores poderosos, mas cujos efeitos serão de médio ou longo prazos, como as novas concessões em infraestrutura ferroviária. Há os motores de mega investimentos industriais para estabelecer uma nova indústria brasileira moderna e competitiva. Mas também são de efeitos a longo prazo. 
Dentro de uma economia predominantemente voltada para dentro, para o mercado interno, com baixa inserção no mercado mundial, o motor que precisa ser reaquecido - de imediato - é o do consumo das famílias, o consumo no varejo.

O aumento do consumo final deverá promover o aumento de atividades no comércio varejista, implicando na contratação de mais trabalhadores. Essa contratação de comerciários deverá gerar renda dos trabalhadores que resultarão em mais compras e mais empregos. Essa deverá ser a fagulha para re-acender o fogo do crescimento econômico. E superar a crise conjuntural. Será um paliativo, mas a emergência, das circunstâncias.

A questão é como e por que os consumidores passariam a consumir mais, se estão sem renda e com perspectivas pessimistas.

A falta de renda não é absoluta. Quando se verifica que há 10% de desemprego, significa, em contrapartida, que há 90% de emprego. E esses continuam com renda e com o consumo. Apesar de terem renda, muitos estão contendo o consumo com o receio de virem a perder o emprego e a renda. Geram a profecia auto-realizavel: se consumidor não consome porque acha que a situação vai ficar pior, essa vai ficar mesmo, por conta da retenção do consumo.

O restabelecimento prioritário da confiança não é do mercado produtor ou investidor, mas do consumidor. Se esse não recobrar a confiança, se esse não voltar a consumir, não adianta produzir mais porque a produção adicional vai ficar encalhada. 

Sem o restabelecimento da confiança num futuro melhor, não adianta ampliar o crédito porque as pessoas não irão tomar os empréstimos, com receio do futuro.

As medidas até agora propostas em relação ao crédito tem em vista proteger os bancos e não o consumidor. Não o tomador.

Para o Banco Central atuar a favor do emprego, a condição fundamental é reorientar as suas políticas monetárias, prioritariamente, a favor do consumidor e não do mercado financeiro.

Reduzir a taxa básica de juros pode ser uma boa sinalização, mas para o consumidor o que interessa é a taxa de juros na sua compra financiada. 

O que precisa ser reduzido é o juro final, o juro ao consumidor. Sem tabelamento, mas sob sinalização do Banco Central. 

A estratégia é reduzir os preços finais dos produtos, pela redução dos juros embutidos. 

Com a redução dos preços e aumento do consumo, os bancos podem recuperar as eventuais quedas de receita pelo aumento do movimento, redução da inadimplência e redução dos custos com ações judiciais.

O consumidor vai comprar mais quando perceber que os preços no varejo estão mais estáveis, alguns até em queda. 

Num quadro de crise a retomada circunstancial deverá ser iniciada pela recuperação do emprego no comércio. Essa retomada não será sustentável, sem outras medidas estruturais, mas como "tratamento de choque" será o ponto da re-partida.

O aumento de empregos no comércio deverá ser acompanhado pelo aumento nas atividades de serviços. Principalmente dos serviços cujo valor é agregado aos custos dos produtos. 

Quando um consumidor final compra um produto, ele está pagando impostos, comprando a comercialização e, principalmente, comprando serviços. Ele estará pagando os custos da logística até a chegada do produto em suas mãos. Estará pagando os custos de propaganda, da marca. Estará ainda o custo dos serviços de atendimento ao consumidor. O custo da produção industrial é residual. 

De um total de R$ 100,00 gastos pelo consumidor final, a geração principal de empregos está no setor terciário e não na indústria. 

Em síntese, para reanimar a economia o ponto chave está na redução dos juros ao consumidor final. 


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