Perspectivas para 2018

As eleições municipais de 2016 marcam uma grande inflexão nas tendências anteriores: a queda do PT, com a perda da Prefeitura de São Paulo e de redução 638 Prefeituras conquistadas em 2012 para 257. Dessas 96 são em pequenas cidades, com eleitorado entre 10 a 50 mil eleitores e 147 em micro municípios, com menos de 10 mil eleitores. Foram apenas 1 nas grandes cidades (Rio Branco, capital do Acre) e 13 nas cidades médias, em 8 Estados. Foi varrido das grandes e médias cidades, restando ainda alguns "grotões".

Até 2018 não só é pouco tempo para eventual recuperação, como continuará sob forte "bombardeio" da Operação Lava-Jato, com o que os resultados tendem ainda serem piores, refletindo-se numa enorme perda de posição nas bancadas no Congresso. Corre o risco de eleger uma bancada menor que o do PSOL. E ser barrado pelas cláusulas de barreira.

Uma questão importante a ser avaliada para efeito da governabilidade no período 2019/22 é para onde irão os votos do PT? Atualmente os três principais partidos (PMDB, PSDB e PT) tem menos de 1/3 da Câmara dos Deputados, com amplo domínio do "centrão". Será esse centrão, o principal vencedor de 2018. Nessa questão está em jogo a nova mini-reforma política, com a eventua proibição das coligações nas eleições proporcionais e a clásula de barreira.
Já em relação à eleição presidencial, Lula estará numa posição fraca, desacreditado perante o eleitorado. Ele está sendo percebido pelo seu eleitorado pela imagem que sempre buscou evitar: "Lula ladrão". Paradoxalmente estará mais forte eleitoralmente se for preso, mas não estará competitivo em 2017/18.

O PT conta ainda com um trunfo para 2018. Os recursos do Fundo Partidário e o tempo de TV são divididos em função das bancadas atuais e o tempo de TV pelas bancadas o que dá ao partido ainda espaço significativo para a sua propaganda. Se não tiver candidato próprio, o que é provável - com Lula fora - contribuirá em muito para a coligação.

Em função do tempo de TV e recursos do fundo partidário o PT será tentado a ter um candidato próprio. Nesse caso o único que conquistou visibilidade nacional e tem presença é o Senador Lindbergh Faria  - o "lindinho". Terá condições de defender ardorosamente a tese do golpe. Dentro desse contexto José Eduardo Cardozo é outro nome que ganhou visibilidade nacional. Mas ele não tem a mesma disposição de enfrentar uma campanha eleitoral nacional, que o Senador. Em ambos os caso seria o "canto do cisne" do lulo-petismo.

Para sobreviver como partido médio terá que se reinventar e para 2018 precisaria marcar presença com cara e mensagens novas. Para isso o seu melhor candidato seria Fernando Haddad, derrotado em São Paulo, mas com grande votação dentro da classe média, visto como um político moderno e sério. Sério em política quer dizer, para o povo, que não é visto como ladrão. Perdeu muitos votos por ser do PT, mas o partido tem condições e recursos para uma "repaginação", desde que abandone o "lulopetismo" e crie uma nova imagem. Poderá perder o apoio dos movimentos sociais e da CUT mas poderá ampliar a adesão da classe média e dos jovens, grande parte dos quais preferiu não votar em ninguém em 2016.
Será um lance arriscado e penoso mas o único rumo de recuperação do PT. E terá que fazer até 2018, ou o espaço será tomado por outro.
Um grande significado da vitória de Dória Jr em São Paulo foi de que o lulopetismo não domina a periferia de São Paulo. Manteve-se ainda dominante no extremo sul da cidade, representado por Marta e não por Haddad.

O que as eleições de 2016 indicam é que em 2018 terá um embate entre a "velha política" e a "nova política". A velha política será representada pelos mesmos candidatos de sempre, manobrando e manipulando as cúpulas e as bases partidárias para sair candidato. A nova política será representado por um político jovem (abaixo dos 50 anos) ou relativamente jovem (abaixo dos 60), desde que com aparência jovem, que sairá de partidos menores ou em crise.

Dificilmente sairá tanto do PMDB como o PSDB, pela prevalência do equivocado "não se mexe em time que está ganhando". O "brasileirão" mostra que o time que está ganhando uma temporada corre o risco de ser rebaixado na seguinte e, ao contrário, o renascido que voltou pode ser o campeão da nova temporada. E os médios, continuam médios. Sem altos e baixos.

Eduardo Paes ("por que no te callas"), apesar de não ter eleito o seu sucessor, Fernando Haddad, também derrotado e ACM Neto, o único vencedor, são os nomes mais em evidência de administradores públicos mais modernos, embora todos comprometidos com a velha política. Dória Jr não terá tempo para aparecer, mas não é inteiramente fora de propósito.

O Brasil de 2018 não estará livre de um "Trump" brasileiro. Jair Bolsonaro é o que mais aparece dentro desse espectro, mas não parece ter fôlego suficiente para uma conquista nacional.

O Brasil não tem os mesmos desafios dos EUA e dos ingleses que sustentam o "trumpismo" e o brexit. Mas existe subjacente o mesmo quadro de insatisfação com o "status-quo".

Além das duas tendências mais evidentes mostradas em 2016, sejam a decadência do PT e a contestação do eleitorado à velha política, pelo não voto, parece não ter se confirmada a "onda evangélica", embora Marcelo Crivella tenha maiores chances de vencer a disputa no Rio de Janeiro. Em São Paulo, Dória Jr venceu ao reverter os votos que iriam para Russomanno nas periferias da cidade. Este mesmo evitou a sua vinculação com a igreja, por perceber que a mistura religião-eleição não dá votos. Pode até tirar votos.

(cont)

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