Os estertores de um modelo econômico

Os indicadores sobre a economia brasileira, divulgados ontem, mostram os estertores de um modelo econômico moribundo.
Sustentado artificialmente durante 2014, quando já estava em colapso e mantido na UTI, durante 2015 e 2016, tem uma melhoria, está em recuperação, renovando as esperanças de sobrevida. Mais uma ilusão.

Os macroeconomistas, sempre olhando pelo retrovisor, apontam para perspectivas de uma lenta recuperação, o que pode não acontecer. E a fragilidade do doente indica que pode estar sujeito a um colapso por qualquer intercorrência.

Prevalece a visão restrita ao circuito monetário. Acreditam que com a recessão, depois de muita resistência, os aumentos de preços foram contidos, a inflação controlada. Com isso o Banco Central pode reduzir os juros e reanimar a atividade econômica. Os consumidores comprariam mais ampliando o endividamento e os produtores, com menos ônus financeiro, investiriam e produziriam mais. Mas como todos estão ainda ressabiados, com as agruras dos últimos anos, reagirão cautelosamente. Dai a demora de uma suposta recuperação. 

A recuperação efetiva da economia brasileira depende de uma ampla transfusão de sangue e substituição do ainda remanescente. O circuito com o mesmo sangue viciado não será suficiente.

Em termos econômicos, de um substancial aumento das suas transações externas, do seu comércio exterior, com aumento das importações e mais ainda das exportações. 

Tem que trocar o sangue viciado e enfraquecido das transações internas por um sangue novo das transações internacionais. Mesmo sob a ameaça do trumpismo.

Em 2016, o corpo enfraquecido do mercado interno, foi agravado pela contenção das receitas externas, prejudicadas pelas adversidades climáticas e queda das cotações das commodities, no mercado internacional. Essa adversidade foi mascarada pela queda das importações - afetada pela redução do consumo e investimento interno - gerando superávits na balança comercial.

A perspectiva de melhora da economia brasileira em 2017 está fundada numa ampliação das transações externas, com a associação de uma supersafra agrícola e melhoria das cotações internacionais das commodities, tanto das agrícolas como minerais. 

Isso, no entanto, poderá ser efêmero. A sustentação do crescimento dependerá de uma maior inserção dos produtos industrializados no mercado mundial.

Há uma reação nesse sentido, mas na maior parte dos casos, de uma reação de sobrevivência do que de estratégias de longo prazo. 

A indústria automobilística no Brasil, toda dominada pelas multinacionais, tem anunciado o aumento das suas exportações, como políticas de longo prazo. Mas o que a mídia continua focando é o enfraquecimento do mercado interno.

Essa indústria é a grande vitrine da economia brasileira. Está fazendo a transfusão, mas ainda parcialmente. O risco é que com a melhoria do mercado interno, ainda que pequena os leve a abandonar a estratégia.





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