O domínio da cultura obreira

Ao longo de pelo menos 70 anos se desenvolveu no Brasil uma cultura dominante de obras públicas, fruto de uma conjugação  de interesses.
De um lado emergiram empreendedores que perceberam a oportunidade de 'ganhar dinheiro' executando obras publicas contratados por Governantes desejosos em melhorar a infraestrutura, na fase inicial, de abrir estradas.
Com contratos públicos os executores das obras, tradicionalmente caracterizados como empreiteiros de obras - posteriormente simplificados para empreiteiros, com conotação pejorativa - passaram a ser os principais financiadores privados das campanhas eleitorais. 
Esse relacionamento ou conluio fez com que as obras civis e a engenharia civil passassem a se tornar a dominante, não obstante o Brasil iniciasse a implantação de um grande parque industrial, de alta complexidade, como usinas siderúrgicas, refinarias de petróleo, complexos petroquímicos, nos quais engenharia química, mecânica, elétrica e outras eram técnica e economicamente mais relevantes. Porém as 'empreiteiras'  industriais nunca ganharam maior importância pública, sufocadas pelas grandes e crescentes empreiteiras de obras civis.
Por outro lado os empreendimentos públicos de infraestrutura passaram a se tornar mais complexos, com as usinas hidroelétricas, grandes estações de saneamento, sistema metroviário e outros. Embora em muitos casos, a parte civil fosse economicamente menos importante esses empreendimentos eram tratados como obras. Percebidas, por todos, como obras civis, complementadas por equipamentos, instalações ou montagem. E dominadas pelos grandes contratantes de obras civis, isto é, pelas grandes 'empreiteiras'. 
Mesmo quando a sua parte no empreendimento não fosse a maior, essa era supervalorizada, com margens mais elevadas, em função da sociedade com os governantes e demais políticos.
Essa associação espúria entre os políticos e as 'empreiteiras' irrigou amplamente as campanhas eleitorais, com propinas correndo por canais de caixa dois. E promoveu o desenvolvimento de grandes empresas privadas que se posicionaram entre as maiores do Brasil.
Tornando-se poderosas economicamente, ampliaram o leque de suas áreas de engenharia, indo muito além da engenharia civil. 
Com a ampliação dos investimentos da Petrobras e a adoção por esta do modelo internacional de EPC, que integra num mesmo contrato a engenharia de projeto, o fornecimento de equipamentos e a construção, essa predominante mecânica e elétrica, as 'empreiteiras' assumiram o controle comercial dos contratos e passaram a desenvolver as outras especialidades da engenharia. Deixaram de ser apenas 'empreiteiras civis'. 
A diversificação foi completada com o ingresso delas nas concessões de serviços públicos. 

Esse grande modelo, o grande pilar dos investimentos públicos, dos investimentos em infraestrutura, tendo como fundação a propina desmoronou com a 'Operação Lava Jato', que atacou a fundação estabelecida em 'mar de lama'.

Dada a enorme necessidade de realização de investimentos em infraestrutura, o grande desafio brasileiro é "com que modelo"? Com que protagonistas? 

(cont)

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