O voto e a cabeça do eleitor

Artigo do consultor político Gaudêncio Torquato, em O Globo de ontem, no blog do Noblat, sob o título acima, sucita diversas questões sobre o tema que tenho comentado aqui.

A primeira questão é a necessidade de segmentar o eleitorado e a que mais tenho usado é a divisão entre opinião publicada e a não publicada. 

A publicada é a que lê os artigos dos jornais, acompanha o noticiário político e é afetado ou influenciado por esse. Supostamente melhor informado se posiciona diante dos fatos relatados, analisados ou comentados, a partir das suas características pessoais, história de vida  e das circunstâncias. O que o leva a assumir posições partidárias, ideológicas, racionais ou emocionais. E, na hora do voto, escolher determinado candidato e partido.

Já a opinião não publicada não lê os jornais, as revistas semanais, não acompanha o noticiário político pela televisão, a menos que o fato se torne uma grande "fofoca". Não se interessa pela política, e os posicionamentos são influenciados diretamente pelos discursos presenciais dos políticos ou dos seus prepostos: cabos eleitorais ou porta vozes. 

Mais recentemente emergiu um novo meio: a internet e a rede socialDe efetividade diluida junto à  opinião publicada, por ser mais um veículo entre outros, e um meio cada vez mais usado para alcançar a opinião não publicada.

A opinião publicada é formada predominantemente por pessoas de maior educação formal, de renda média para cima. Contempla uma parte menor de pessoas de menor renda e menor formação educacional, com interesse pela política.

A opinião não publicada contempla todas as classes e formação educacional.  O desinteresse pela política é imenso, crescente e amplia esse contingente. Quando acompanham a mídia é para o noticiário sobre o futebol ou policial.

A opinião publicada, por ser ou buscar maior informação, amplia a sua percepção das circunstâncias. Acompanha e pode ter posição em relação à tentativa de golpe na Turquia, às estratégias do ISIS ou Estado Islâmico, às eleições norte-americanas, ao Brexit e outras grandes questões internacionais. Acompanha a política de Brasília.

A opinião não publicada se restringe às circunstâncias, ao mundo que vive cotidianamente, reagindo aos fatos que ocorrem na sua vida. 

A opinião publicada é afetada pelos índices de desemprego, calculadas pelo IBGE, formando uma visão das circunstâncias em função desses.  Já para o integrante da opinião não publicada só existe o desemprego quando ele está desempregado ou vários dos seus conhecidos estão. O índice geral pouco importa e simplesmente é desconhecido. Ele não tem idéia do que seja PNAD, IBGE e outras sopas de letrinhas.

Dai porque o filósofo espanhol José Ortega y Gasset dizia que eu sou eu e minhas circunstâncias. Sem entrar no desenvolvimento do tema o importante pontuar que circunstância não é um elementos externo e independente. É um atributo das pessoas. 

Tanto na opinião publicada, como na não publicada cabe um outro corte: o da hierarquia das necessidades, representada na pirâmide de Maslow. 

Abraham H. Maslow, um psicólogo norte-americano criou uma teoria sobre a hierarquia das necessidades humanas, colocadas numa pirâmide com as diversas necessidade sobrepostas.

Na base da pirâmide estão as necessidades fisiológicas, como se alimentar, ter moradia, ter saúde (ou não ter doença). Em síntese: sobreviver. Segundo a visão de Maslow quem está nesse estágio não se preocupa com as demais necessidades. Ou dá menor valor a essas.

O eleitor integrante da opinião não publicada, que está no patamar das necessidades fisiológicas, estará mais propenso a dar o seu voto ao político que chega pessoalmente a ele  e que promete melhorar o atendimento das suas necessidades de alimentação, moradia e outras condições básicas, nos locais onde o eleitor vive ou frequenta. O que vale é o "cara a cara". Não a imagem vendida pela mídia.

Grande parte dos moradores das periferias urbanas das grandes cidades raramente sai do seu bairro. Uma parte sai para trabalhar, dentro de um movimento pendular (casa - trabalho - casa) frequentando o mesmo transporte e os locais onde circula a pé para chegar ao seu destino final. O que ocorre com ele nesse movimento ou permanência forma a sua circunstância.

Cabeça e coração do eleitor que está na base da pirâmide de Maslow, no patamar da sobrevivência são afetados e influenciados pelos discursos dos político que conhece pessoalmente e pelos mitos difundidos a partir da visão dos conhecidos. 




 






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