O penúltimo reduto: a classe média urbana de esquerda

Dentro do derretimento do PT nas urnas de 2016 um segmento social de esquerda ainda se manteve fiel ao partido: parte da classe média urbana formada por intelectuais, estudantes, algumas lideranças sindicais e outros adeptos e militantes.

Na cidade de São Paulo ocorreu um fenômeno interessante que as estatísticas evidenciam, apenas parcialmente. O candidato a Prefeito do PT, o atual, perdeu na periferia, onde está a população mais pobre. Em algumas zonas eleitorais nem chegou ao pódio, superado pelo eleito João Dória, por Celso Russomanno e pela ex-petista Marta Teresa. Foi melhor nas zonas eleitorais centrais, onde se concentra a classe média alta e média, mas ficando sempre na segunda posição. Supostamente o eleitor petista abandonou o partido e migrou para os tucanos.

Por outro lado as estatísticas de eleição de vereadores mostram que um candidato do PT foi o mais votado em quase todas as zonas eleitorais. Isso decorre do fenômeno Eduardo Suplicy que representaria na visão dos eleitores, o PT da origem. O PT ético e contínuo defensor dos "que mais precisam". Visto como "maluco" por alguns, mas sério, dedicado e que nunca se meteu em "roubalheiras". Embora sempre fiel ao partido, mas com um eleitorado próprio, é pouco aceito pelo "establishment" partidário. Para o seu eleitor ele é o PT autêntico. Para o partido, não passa de um "ser estranho". Mas que ajuda o partido a formar bancadas legislativas. Sem condições de conquista de posições nos Executivos.

A esquerda urbana aderiu - historicamente - ao PT o que não havia feito com outros partidos de esquerda, mais tradicionais, como os comunistas e socialistas. O PT se apresentou como um alternativa política mais pragmática, com mensagens mais atraentes para os movimentos de esquerda e possibilidade de conquista do poder. E cumpriu o que prometeu. A esquerda chegou ao poder e nele permaneceu por mais de 13 anos.

Uma parte - ao longo da história - abandonou o PT, inaceitando as práticas ortodoxas para alcançar e manter o poder. Outra manteve o apoio ao partido, recusando as acusações de "mal feito". Reconhece que foram feitos "acordos" com os empreiteiros e outros, mas sempre a favor do partido e dentro da lei. E se houve algum desvio foi de caráter pessoal e excepcional.

O movimento social (entenda-se da sociedade) contra o PT que redundou no impeachment da Presidente Dilma foi entendido e assumido como um golpe dos vencidos em 2014, o que reforçou a posição de resistência do grupo petista.

A narrativa aceita e absorvida por esse grupo é que o impeachment atentou contra a democracia por remover uma presidente eleita legalmente por mais de 50 milhões de votos, a maioria dos votos válidos. Nessa avaliação, valem-se provisão legal, desconsiderando os que não votaram, votaram em branco ou anularam os votos. Assumem que no caso dela o legal equivale ao legítimo. O que não é reconhecido para o Vice-Presidente, agora empossado como Presidente. Colocam a ilegitimidade na frente e não aceitam nem discutir a eventual legalidade da sua posse.

Assumem que não houve fato jurídico que justificasse o processo. Não lhes importa a argumentação apresentada pelos técnicos. O que importa é a versão plausível do golpe contra a democracia.

Criou ainda a versão (agora "narrativa") de uma conspiração internacional.

Aceitando essas versões opõe-se ao Governo Temer, considerando-o ilegítimo e permanecem a favor dos Governos petistas em função dos avanços sociais. Desprezam os elementos negativos da gestão petista, atribuindo-os às conspirações anti-petistas.

Muitos ainda mantém vínculos com o PT, outros se mantém na esquerda, mas fora do PT.

São grupos aguerridos que promovem ações de visibilidades, como as ocupações de escolas públicas ou fechamento de rodovias, mas representam um número reduzido de eleitores. Não são suficientes para vencer uma eleição municipal. Quando muito conseguem eleger alguns vereadores. No caso de São Paulo, ainda fará uma importante bancada, "bancada" pelos votos de Eduardo Suplicy.

O desafio do PT até 2018 é manter mobilizados esses pequenos grupos, contra o Governo atual, reconquistar bases perdidas para outros partidos de esquerda e ainda conquistar novos eleitores.

Pela dificuldade de mantê-los dentro do PT os líderes da reinvenção do partido propõe uma nova frente dos partidos de esquerda. Assumem que o PT terá dificuldades para tal.

Os que estão no comando do partido não querem. Aderir a uma frente ampla da esquerda para eles significaria perda de poder. Ainda que de poder de uma base menor.

O futuro do PT, como partido, dependerá da sua capacidade de ser a principal opção partidária dessa classe média urbana de esquerda. E conseguir novas adesões.



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