O setor de refino de petróleo é ainda menos relevante como empregador

Contestamos ontem a suposta grande importância da produção de petróleo como geradora de emprego. 

A produção nacional de petróleo tem uma grande importância estratégica, a geração de renda a partir de um recurso natural e, com isso gerar novos empregos. Mas esse último fator tem sido manipulado demagogicamente, para justificar ações que nem sempre resultam em benefício geral, para o país, quando compradas com ações alternativas. 

Usa-se muito o conceito de agregação de valor, para justificar investimentos e produção. Segundo essa visão o mais importante para o Brasil seria processar o petróleo bruto para gerar produtos de maior valor agregado, como os refinados: gasolina, óleo diesel, querosene de aviação, outros óleos combustíveis e a nafta, insumo básico para a petroquímica. Com isso se geraria mais renda e mais empregos. 

Dessa forma, ainda que o aumento acelerado da extração de petróleo bruto não gere tanto emprego - quanto alardeado - essa geração de empregos ocorreria nas fases subsequentes da cadeia produtiva, isto é, no refino do petróleo bruto. 

Correto em tese, mas que não ocorre na prática. Válido em termos empresariais, ou seja, para a Petrobras que refina o petróleo, seja de origem nacional ou estrangeira, e produz os combustíveis. Investe em refinarias, tanto na infraestrutura, como em equipamentos, processa o óleo bruto e gera empregos.

Mas do ponto de vista da contabilidade nacional não é assim que é registrado. Toma-se, inicialmente, o valor da produção nacional. Deduz-se desse valor o total do consumo intermediário do setor, o que inclui os insumos importados. O resultado dessa subtração resulta no valor adicionado do setor econômico que é o que vai ser considerado no PIB. 

O PIB é a soma dos valores adicionados de todos os setores da economia, segundo a conta acima. O que pode resultar em valor adicionado negativo. É o que ocorre com o setor de refino de petróleo. Em 2014, o valor adicionado desse setor ficou negativo em R$ 16.729 milhões. Ou seja, o setor contribuiu negativamente para a formação do PIB. É uma distorção contábil, mas segue uma regra geral, reconhecida e adotada mundialmente. As importações entram na contabilidade nacional como valor adicionado negativo.

Portanto ao se trazer - como argumentação - a importância do setor para o PIB, deve-se deixar clara que a contribuição, em 2014, foi negativa. Significa que nesse ano, para atender à demanda nacional, importou-se mais do que se produziu. 

Mas a produção nacional geraria um grande volume de empregos o que seria um fator altamente favorável para o país. Foi um dos principais argumentos usados pelos Governos anteriores para justificar megainvestimentos em refinarias, como a de Pernambuco. Seriam gerados, segundo a propaganda do Governo, milhares de empregos. Nem tanto. "Menos, menos".

Pelas contas nacionais, o setor de refino de petróleo, gerou, em 2014, 25.674 postos de trabalho, equivalente a 0,02% do total brasileiro de 105 milhões de ocupações. Ou seja, mesmo com o enorme volume de investimentos, e elevado valor da produção, o setor gera - relativamente - pouco emprego. 

As etapas iniciais da cadeia produtiva do petróleo são essenciais para a economia brasileira, além de serem estratégicas do ponto de vista geopolitico, mas são pouco empregadoras. Não se justificam os imensos investimentos em nome da geração de empregos. Há outros investimentos muito mais produtivos nessa  dimensão. 



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