O setor de bebidas (1)

Este artigo tem o objetivo de avaliar as possibilidades do Brasil ser um importante protagonista no mercado mundial de bebidas, seja em função das posições conquistadas, como das suas perspectivas.
Como nos demais artigos sobre o tema, Brasil é considerado como uma figura criada para efeitos estatísticos e análise. As decisões são tomadas pelas empresas privadas, com operação agrícola, industrial ou de comercialização e outros serviços em território nacional.

Portanto, o foco é sempre sobre as empresas e suas estratégias.

O setor de bebidas tem uma característica importante do ponto de vista econômico: o valor das matérias primas em relação ao preço final pago pelo consumidor é muito pequeno. 

A produção agrícola de grãos que são usados na produção das bebidas não é determinante para a localização da produção. A indústria de bebidas não se instala em função das fontes das matérias primas. Essas podem ser importadas, de diversas partes do mundo. 

Os principais valores que se agregam à matéria prima são a fórmula, a marca, a comercialização e a logística.

Exceção é o vinho, a origem da matéria prima é um grande diferencial. O mesmo ocorre com alguns chás e o café caminha no mesmo sentido, de ter produtos "premium", baseados no local do cultivo da matéria prima agrícola.

O setor de bebidas, mundialmente, é concentrada em poucas empresas ou grupos empresariais, mas com especializações por produtos.

Isso ocorre com o setor de cervejas, com o domínio do mercado por um grupo seleto de empresas, e uma grande difusão de pequenas e médias empresas no mercado "residual".

Essas empresas atuam em todo o mundo, com produção local, atendendo ao mercado local e, eventualmente, países vizinhos. 

Em todo o mundo, como no Brasil, o segmento de cervejas é disparadamente o maior do setor, tanto em produção e consumo de hectolitros, como de valor. 

Vem se concentrando empresarialmente, mediante fusões e aquisições, sendo a lider mundial a AB Inbev, formada mundialmente pela fusão inicial entre a Interbrew (belga) com a AmBev (Companhia de Bebidas das Américas, de origem brasileira, decorrente da fusão entre a Antarctica e a Brahma, após a aquisição do controle de ambas pelo grupo de João Paulo Lehmann). O grupo passou a adquirir outras empresas, sendo a mais importante a Anheuser-Busch , norte-americana, detentora da marca Budweiser, dando origem à sua denominação atual AB-Inbev.

Em 2015 completou a aquisição do segundo maior grupo mundial, SABMiller, sendo obrigada a transferir algumas marcas a terceiras, como a cerveja Miller, para a Molson. 

É seguida pela Heineken, Calsberg e Molson, que detinham mais de 50% do mercado mundial, antes da inclusão das empresas chinesas. Essas são grandes e fortes, mas ainda restritas ao mercado doméstico. Com pouca penetração internacional. 

Internacionalização e benefícios macroeconômicos

A internacionalização promovida pelo grupo de JPLehemann é a mais bem sucedida por uma empresa brasileira, mas com impactos diluidos sobre a economia e a sociedade brasileira. 

Não existem números que demonstrem os impactos efetivos dessa internacionalização no PIB, nas Operação com o Exterior (comercial e financeira), assim como sobre os empregos.

O grupo mantém como empresa brasileira a Ambev, com atuação regional dividida em (dados  constantes das Demostrações Financeiras de 2017) 

  • América Latina Norte, que inclui o Brasil e a CAC (América Central e Caribe), a sua maior divisão, em termos de faturamento;
  • América Latina Sul (LAS), com operações na Argentina, Bolívia e Uruguai, de todo seu portfólio de produtos e de produção e comercialização apenas de cervejas no Chile e Paraguai;
  • Canadá, por intermédio da Labatt , com a produção e a comercialização de cervejas e um portfolio de marcas de bebidas mistas e cidras, incluindo exportações para os Estados Unidos da América. 


A divisão da sua receita líquida de 48 bilhões de reais, é concentrada na América Latina norte, com 31 bilhões, a Sul com 11 bilhões e Canadá com 6 bilhões.

A Ambev obteve receita líquida no Brasil de 26 bilhões de reais, das quais 22,5 foram de cerveja. 

Tendo como principal marca entre os refrigerantes carbonatados o Guaraná Antarctica, os seus dados econômico-financeiro indicam que não  entram em disputa com a líder Coca-Cola, mantendo o seu nicho e se concentram no mercado de cervejas.

Exportações de cervejas de malte

As exportações de cervejas não alcançaram, em nenhum momento o nível de 100 milhões de dólares, sendo favorecido nos dois últimos anos pela retomada a economia argentina, onde a Ambev está estabelecida, com produção e comercialização, mas com marcas nacionais. A Quilmes é a principal.
O principal destino é o Paraguai, com volumes oscilantes.
A América Latina e Caribe representam 99% das exportações, conforme mostra a tabela abaixo.




Descrição do País 2017 2016 2015 2014 2013 2012
Paraguai 61.585.508 63.026.295 66.370.194 73.440.898 49.168.630 39.113.776
Argentina 22.349.068 1.950.609 0 0 0 0
Bolívia 9.280.257 10.042.251 10.291.990 9.445.256 10.849.127 11.536.680
Uruguai 4.179.209 757.483 403.497 395.297 503.863 399.079
Colômbia 304.630 515.762 1.761.431 1.904.174 909.652 1.096.527
Peru 7.619 26.752 14.892 522.419 2.818.166 3.326.206
Chile 6.897 0 5.025 17.608 826 0
Suriname 66.804 125.268 602.630 643.371 709.651 1.393.610
Curaçao 4.649 5.097 0 0 0 0
Belize 0 32.818 0 0 0 0
Costa Rica 0 102.674 237.952 185.294 212.488 416.465
Cuba 0 0 8.376.001 0 0 0
México 0 10.210 56.088 56.589 5.568 1.829
América Latina e Caribe 97.784.641 76.595.219 88.119.700 86.610.906 65.177.971 57.284.172
Demais 994.267 1.430.393 1.399.720 2.387.745 1.331.919 1.943.605
Total 98.780.925 78.027.628 89.521.435 89.000.665 66.511.903 59.229.789
fonte: MDIC - Alice web

As importações de cervejas

As importações de cervejas são ainda menores, com destaque para o México. As importações da Holanda que chegaram a US$ 21 milhões, cairam substancialmente com a produção nacional da cerveja Heineken, recentemente ampliada com a aquisição da Schin-Kirin.

País de origem 2017 2016 2015 2014 2013 2012
Países Baixos (Holanda) 243.768 3.583.150 8.285.844 15.808.606 13.870.688 20.815.970
México 11.774.706 6.056.005 14.269.357 670.402 584.998 4.046.742
Alemanha 4.565.921 3.947.043 6.942.721 7.102.685 5.973.756 4.345.972
Uruguai 3.710.781 4.349.133 7.159.886 5.002.158 4.380.654 3.052.693
Bélgica 3.164.291 3.652.507 7.152.719 5.235.498 4.498.349 3.221.813
Argentina 1.996.748 2.617.933 2.219.508 1.010.414 2.961.718 3.464.795
Estados Unidos 1.936.053 1.198.250 2.659.290 1.927.527 1.747.132 1.959.801
Reino Unido 922.008 785.150 2.319.159 2.140.495 1.686.165 1.023.916
Espanha 868.444 1.041.318 1.397.712 1.577.510 1.154.767 1.280.576
Dinamarca 678.729 1.044.559 1.646.537 1.950.170 533.153 146.515
10 maiores 29.861.449 28.275.048 54.052.733 42.425.465 37.391.380 43.358.793
Demais 1.633.882 1.591.413 2.322.994 2.621.374 2.344.241 1.710.643
Total 31.251.563 26.283.311 48.089.883 29.238.233 25.864.933 24.253.466
fonte; MDIC Aliceweb


O México é o principal pais exportador de cervejas, tendo o vizinho EUA como o principal destino dos seus produtos. Orgulha-se de ter a cerveja Colona, com a mais exportada. Essa marca atualmente faz parte do portfolio da AB Inbev.


Reduzido comércio internacional

Provavelmente porque não vale a pena arcar com os custos de transporte internacional de água, as cervejeiras mundiais preferem produzir localmente as cervejas "genéricas", em grande escala. Dai as grandes terem uma ampla rede de produção em diversos países.

As cervejas mais consumidas são as "populares", com preços menores e apoiadas por amplas campanhas publicitárias. 

Os preços não comportariam os custos logísticos, relativamente elevados.


Plataformas de exportação

As características acima descritas tornam inviáveis ou desinteressante o estabelecimento de plataformas de exportação, isto é, unidades produtivas com parte importante da produção voltada à exportação.

A logística de distribuição é predominantemente rodoviária o que tende a limitar as exportações aos países vizinhos, com acessos rodoviários.

Mesmo para a Ambev, apesar de ter origem brasileira, ela tem dando preferência a se instalar junto ao mercado consumidor do que produzir no Brasil e mandar para os demais países.

O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de cerveja, perdendo apenas para os EUA e China, mas a quase totalidade da sua produção é destinada ao mercado interno.

O mercado cervejeiro brasileiro sendo dominado por apenas 3 grandes grupos, dois multinacionais de grande porte (Ambev e Heineken), só restaria a alternativa da Cervejaria Petrópolis, por restrições financeiras em montar uma rede internacional de produção , em fabricar a cerveja em território brasileiro para exportar, para os países vizinhos.

Complementação do portfólio

Ao se instalar num terceiro país com uma rede de comercialização e distribuição, a cervejeira poderá instalar também uma unidade de produção, mas o usual é que essa seja dedicada a alguns produtos e não a todos do portfólio da empresa. A mudança de lotes de produtos na linha de produção, envolvendo o tempo de setup (troca de ferramentas, equipamentos, ingredientes e outros elementos de produção) prejudica a produtividade, sendo mais conveniente (dependendo das tecnologias utilizadas) a redução da variação de produtos.

Assim, a empresa multinacional, com atuação em diversos países pode concentrar a produção da marca de maior demanda no próprio país e importar as demais, para completar o seu portfólio. 

E ter linhas de produção mais completas em seu país de origem, ou em sua sede.

A Ambev foi formada no Brasil, mas se associou à belga Interbrew e, posteriormente, adquiriu a norte-americana Anheuser Busch, 

Os EUA são o segundo maior produtor mundial de cervejas e o Brasil o terceiro. A Bélgica nem participa do ranking dos  10 maiores paises produtores. 

O Brasil poderia ser a base da produção de linhas mais completas de marcas e exportá-las para os paises em que a AB Inbev está instalada, com linhas de produção limitadas. 

A Ambev que é o braço brasileiro da AB Inbev está fazendo isso? Aparentemente não. A sua estratégia é ampliar os mercados, mas com produção local. 

Por que não adota essa estratégia? Que é usual em algumas multinacionais, como a Nike, que tende a especializar cada produto em um país, exportando para os demais. 



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