O que vai acontecer com o índice de inflação no final de 2017? E com a economia?

O Banco Central já definiu a sua estratégia de gestão dos juros até o final do ano. Irá reduzir a taxa a cada reunião do COPOM a um ritmo de 0,75 ptos. A menos que fatos inusitados, não previstos nos modelos macroeconométricos ocorram.
Projetando essa política, em novembro a taxa SELIC seria fixada em 9,25 %, abaixo da desejada ou esperada taxa menor que dois dígitos. E 2018 iniciaria com uma taxa de 8,50%.

Com essa redução da taxa de juros, a expectativa é que a inflação continue refluindo até chegar ao centro da meta de 4,5% até o final do ano. Se isso vier a ocorrer para 2018 a perspectiva do Banco Central é reduzir a meta, assegurando - novamente - a estabilidade da moeda brasileira. 

Quais seriam os fatores contribuintes para a redução da inflação e quais os elementos que podem promover o recrudescimento da inflação?

Diversamente do que tem sido considerado o principal determinador da dinâmica econômica nos dois próximos anos deverá ser o agronegócio. Não mais a indústria, como tem sido a expectativa implícita de todas as previsões do mercado. 

Com a produção de safras recordes, favorecidas pelas condições climáticas, em grande parte exportadas, deverá determinar um viés de baixa do real perante o dólar, isto é, uma sobrevalorização do real. 

Eventuais intervenções pontuais do Banco Central, no mercado de câmbio será para conter a sobrevalorização do real, uma vez que essa poderá desestimular as exportações e a sequência da produção agro-pecuária voltada para o mercado externo.

Dentro do nível atual do câmbio e sem fatores climáticos desfavoráveis, a agropecuária deverá manter um ritmo de crescimento, ajustando à tendência plurianual, ajustando picos e vales. Terá dois efeitos importantes em relação à inflação. Os alimentos não pressionarão a inflação, como ocorreu em 2016, com a escassez de diversos produtos "in natura", principalmente feijão e tomate. Com a produção recorde do milho, essa será suficiente para suprir as necessidades de ração da produção animal de suinos, aves e até de bovinos. Sem a elevação dos preços do milho, as carnes poderão chegar mais baratas na mesa do consumidor, aliviando eventuais pressões inflacionárias. 

Por outro lado, a captação de renda externa pelo agronegócio, estimada em mais de U$ 100 bilhões, injetada na economia interna, irá promover um elevado crescimento da demanda.

Diante desse reaquecimento os agentes econômicos serão tentados ou levados a promover a reposição das perdas ou a recomposição das margens, elevando os preços, no mercado de consumo. Com isso gerando inflação.

As principais remarcações poderão ocorrer no comércio e nos serviços.

A remarcação de preços envolve sempre a diferença entre os produtos tradables e no tradables. 

Com o aumento das exportações do agronegócio, sustentando uma faixa estável do dólar, haverá disponibilidade de cambiais para a exportação de produtos industrializados, o que irá conter eventuais ações altista por parte dos produtores industriais nacionais. Dadas as perdas nos últimos anos, a tendência forte é de recuperação dessas, com elevações reais de preços. A contenção será pelas importações, tanto dos bens finais, como dos intermediários. São esses que terão influência maior sobre os índices de preços.

Os riscos maiores estão no comércio, principalmente o varejista, que é uma atividade no tradable. A adição de valor que o comércio pode praticar sobre os produtos comprados, pode elevar os preços finais, provocando inflação e contendo a eventual euforia de compras. 

A redução da taxa de juros para o consumidor final, pode estimular as compras e alimentar o processo inflacionário. 

A história do comportamento econômico do consumidor mostra uma influência menor da taxa de juros sobre as decisões de compra, seja nas compras a prazo, como nas compras à vista, mas financiadas pelo cartão de crédito ou cheque especial.

O principal fator decisor é o valor da prestação, tanto nos boletos, como na fatura dos cartões. 

O aumento da taxa de juros só teve influência indireta. Com a sua redução, seja na base, como nos acréscimos, o valor das prestações poderá cair e incentivar o consumo. Estabelecendo um novo desequilíbrio, ajustado pelo aumento dos preços.

Essa questão está envolvendo novas discussões teóricas e acadêmicas. Mas tem impactos práticos, em função dos comportamentos dos agentes reais, que nem sempre seguem o que imaginam as teorias.

Outro setor de alto risco inflacionário é o de serviços, que já correspondem  mais de 50% da formação do PIB e são predominante ou quase que inteiramente no tradable. Envolve uma parte de preços administrados, que são ajustados pela inflação passada, pressionando a inflação futura. 

Os efeitos inflacionários deverão ser considerados em três segmentos críticos:

  • alugueis;
  • custos logísticos;
  • serviços pessoais, principalmente educação e saúde. 
Aparentemente, as variações da taxa de juros tem pouca influência sobre o comportamentos dos agentes econômicos. 

O que mais influi no comportamento dos consumidores e dos supridores de bens e serviços a esses não é a taxa de juros, mas os índices de inflação. 

Essas ademais são as principais influências sobre o comportamento dos trabalhadores, na busca de reposição das perdas. 

As teorias monetárias deveriam cuidar mais da influência dos índices de inflação sobre a própria inflação do que a suposta influência da taxa de juros.






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