O principal mecanismo para reativar a economia

A história brasileira mostra que o principal mecanismo para reanimar a economia é a "barateza".
(apesar da estranheza está no dicionário e se contrapõe à carestia).
A idéia de que um pouco de inflação não faz mal ou é até necessária para promover o crescimento econômico, não se sustenta ao longo do tempo. Acaba reprimindo o consumo e dá sequência a um processo regressivo da economia. A estabilidade de preços é o principal impulsionador do crescimento e saída de crises.
Com a carestia o consumidor passa a restringir as compras, o comércio reduz os seus pontos de venda, demitindo empregados e reduz as compras dos fornecedores. Os fornecedores, principalmente os industriais, reduzem a produção, demitem empregados, reduzindo a capacidade e a intenção de compras dos consumidores.
Segue um círculo vicioso.
Para romper esse círculo e promover uma inversão na direção do movimento, passando-o para virtuoso, a intervenção estratégica está na reanimação do comércio, através da estabilização ou até mesmo a redução persistente dos preços.

Em momentos de crise, o comércio promove "liquidações" e promoções, com reduções reais ou fictícias de preços. São reduções para "desovar" estoques, com a retomada dos preços mais elevados, com as novas levas de produtos. As compradas a preços mais elevados das indústrias.

Como se poderia reanimar a economia pelo comércio?

A fórmula macroeconômica é a contenção da inflação pela elevação dos juros. Esse mecanismos se mostrou ineficaz para esse propósito, embora os monetaristas não reconheçam.

Nas circunstâncias atuais da crise econômica brasileira, esse remédio está matando o paciente.  

Em anos anteriores a principal forma foi pela importação de produtos asiáticos mais baratos. Reforçada pelas facilidades de crédito.

Com a oferta de tudo e qualquer produto industrial, mais baratopelos países asiáticos, o comércio teve um importante papel, como agente do mercado, ao promover uma importação intensiva desses produtos - ainda que em detrimento da indústria nacional - e oferecê-los aos consumidores que aproveitaram a oportunidade.

O sistema financeiro participou desse processo, ampliando o crédito ao consumidor, embutindo juros elevados, mas que ficaram diluidos pela redução dos preços básicos.

 O  reajuste do câmbio, com uma forte elevação, anulou - em grande parte - os efeitos do "barateamento através dos produtos chineses".

Esses produtos mais baratos para o consumidor contiveram a "cultura inflacionária": "reajusto os meus preços para recompor as perdas com a inflação passada ou por que vai ter inflação futura".

Sem a alternativa dos importados o "barateamento" dos produtos para promover a maior movimentação do comércio, para que esse possa contribuir para a reanimação da economia é preciso buscar outros caminhos.

Existem dois caminhos básicos:
  1.  o primeiro que passa pela interferência governamental que pode ser exclusivamente de instrumentos macroeconômicos, ou mediante intervenções pontuais;
  2. o segundo os de ajuste pelo próprio mercado, por processo espontâneos, induzidos ou acordados. 
 O caminho da interferência estatal pontual enfrenta - atualmente - grandes restrições, sendo de difícil utilização. Os instrumentos macroeconômicos podem ser considerados como dados, sendo pequenas as possibilidades de sua alteração:
  • o câmbio continuará flutuante, ficando em torno de R$ 4,00 o dólar comercial, não havendo perspectivas de intervenção estatal para sua redução. Quando muito haverá intervenção para evitar flutuações muito bruscas;
  • os impostos serão mantidos, com tendências de alta, sendo remotas as posssibilidades de aumento das renúncias fiscais;
  • a taxa de juros básica está mantida, mas apenas contida, com perspectivas de alta;
  • a legislação trabalhista seguirá sem grandes mudanças.
Diante desse quadro em que o comércio não pode contar com a ajuda do Estado, para promover a sua reanimação, o que ele, como setor privado, pode fazer para a sua auto-reanimação.

Os produtos que o comércio oferece ao consumidor são de duas naturezas:
  • os vendidos exclusivamente a vista, 
  • os que podem ser vendidos a prazo ou a prestações. 
Mesmo os vendidos à vista podem ser financiados no cartão de crédito. E o comerciante coloca no preço do produto o encargo que ele tem que pagar ao administrador do cartão.

O valor do produto comprado pelo consumidor no varejo é composto dos seguintes elementos principais:
  • custo dos produtos:
    • valor comprado pelo comerciante;
    • gastos com materiais adicionais, instalações e serviços das suas lojas;
  • valor adicionado:
    • pagamento aos trabalhadores, incluindo encargos;
    • tributos pagos pelo comerciante;
    • juros pagos pelo uso de capitais de terceiros;
    • remuneração do capital próprio.
Quando o comerciante vende a prazo "sem juros", ele acrescenta ao preço os juros do financiamento ao cliente

Se ele vende esse mesmo produto para recebimento "em dinheiro" ele poderia retirar esse custo adicional dos juros embutidos. E dessa forma vender os produtos a preços menores.

Por que não o faz?

Uma parte porque o mercado foi se organizando de tal forma que não oferecer cartão compromete a sua competitividade. Se o concorrente oferece ele também tem que oferecer. 

Então o comerciante vende com cartão, pagando uma taxa para o administrador do cartão.

No caso do bito o seu papel termina ai.  No caso do cartão de crédito, ele transfere o crédito para uma instituição financeira. 

O comerciante e o administador do cartão são meros intermediários.

Os grandes comerciantes perceberam nesse mecanismo uma oportunidade de se tornarem investidores. 

Vendendo "sem juros", com elevadas taxas de juros embutidas, muito superior a de qualquer aplicação bancária ou em "Tesouro Direito", não transferem o crédito a um banco. Financiam com os seus recursos e auferem taxas mais elevadas para o seu capital. A venda a prazo é apenas um suporte para a sua aplicação financeira.

As estratégias para reduzir o preço final para o consumidor de forma sustentável devem ser diferenciadas em relação ao comerciante não investidor e ao comerciante investidor.

Ao comerciante não investidor interessa mais a venda à vista do que a venda a prazo. A não ser pelas razões concorrenciais com os competidores diretos. As grandes lojas continuarão insistindo na venda a prazo "sem juros".

Ele poderá, por facilidade operacional, usar os cartões de débitos. Deve, no entanto, usar cartões de bancos e negociar com eles taxas compensatórias. Quando o consumidor usa o cartão de débito ele precisa ter disponibilidade na sua conta, ou seja, precisa manter mais depósitos, o que é positivo para os bancos. Pode ocorrer que o consumidor use o cartão de débito para se valer  do seu limite no cheque especial. Ai ele estaria usando um financiamento caro para pagar a mercadoria a vista. Talvez não compense.

Para isso deve ser feita uma campanha de esclarecimento aos consumidores, principalmente aos trabalhadores sobre o engodo do "parcelamento sem juros". Da mesma forma que sendo feita campanha da algumas organizações para demostrar o quanto de imposto está no produto que é comprado, deve-se acrescentar o quanto de juros está se pagando nas compras. 

O objetivo da campanha é incentivar as compras à vista, com redução dos preços, escapando da armadilha da venda a prazo "sem juros". 

Quais poderão ser as consequências?

A mais radical é que sem os parcelamentos, venham a cair ainda mais as vendas dos eletrodomésticos e outros bens de consumo durável. Isso determinaria maior fechamento de lojas e dispensa de trabalhadores. A indústria reduziria a produção e aumentaria o exército dos desempregados.
Na sequência menor consumo, seguindo um circuito descendente.

O segundo cenário é que as grandes lojas e comerciantes investidores passem a oferecer parcelamentos com juros menores e explícitos. Com cláusulas de retomada do bem, no caso de inadimplência. O preço básico cairia, com impacto efetivo sobre o bolso do consumidor e também nos índices gerais de inflação. Com a redução dos preços e do valor da prestação haveria uma retomada de compras restabelecendo o circuito positivo. 

O terceiro cenário seria da ampliação do mecanismo de consórcios, para a retomada do volume de compras. O consórcio comprando à vista obteria um preço menor que repassaria para o consorciado. Em tese pode se montar um mecanismo de consórcio conjugado com financiamento, a taxas de juros menores.

O consorciado ao pagar a sua quota estaria fazendo uma aplicação equivalente às oferecidas pelo sistema financeiro.  Poderia ser um "Tesouro Direto", baseado na SELIC. 
O consorciado sorteado para receber o bem passaria a pagar a sua quota com acréscimo da mesma taxa recebida pelo consorciado não sorteado. Na realidade ele seria sorteado para a aquisição do bem, com financiamento a juros de aplicador e não de tomador. Sobre os valoresees seria aplicada uma taxa de administração.
As taxas podem ser embutidas no valor das quotas, como aplicações e financiamentos pré-fixados.
O risco desse mecanismo, como ocorreu anteriormente, é que os administradores desviem os recursos dos consorciados.    





 



   





   

    

 

  
 

    

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