O povo está sendo levado

Milhares de pessoas foram às ruas nas capitais abaixo de Brasília, para se manifestarem a favor da Operação Lava Jato e contra os políticos que desfiguraram as propostas apresentadas pelo Ministério Público, com apoio de mais de 2 milhões de assinaturas. Aparentemente, essas duas milhões de pessoas não foram às ruas defender o seu projeto. O total de manifestantes em todo o Brasil deverá ficar abaixo desse número.
Apesar disso foi uma mobilização significativa. E mostra que o povo está disposto a ir às ruas. Mas uma grande parte percebe que há manipulações de todos os lados e preferem se precaver.
Facções corporativas do Ministério Público e do Judiciário estão aproveitando a onda para evitar medidas que se contraponham aos seus benefícios e poderes espúrios. Sejam os excessivos salários, como o uso indevido do seu poder para poder achacar pessoas, comprometendo a sua imagem. E estão usando o risco dessas medidas saneadoras comprometerem a Operação Lava Jato, para contestá-las. Lançam palavras de ordem e o povo segue como uma manada.

O Juiz Sérgio Moro, adotado como o grande defensor da causa dos manifestantes é uma pessoa sensata e, aparentemente, não corporativa. No Senado reconheceu a necessidade de uma lei que controle os eventuais abusos, mas defende que o momento não é oportuno para a sua aprovação. E que é necessário distinguir erros ou abusos de divergências de opiniões ou de interpretações. Não denunciou a medida como risco à Operação Lava-Jato que ele bem e corretamente conduz.

Ele que é o principal ícone do movimento não se propõe a enganar o povo. Não vê risco em acabar ou restringir a Operação Lava Jato. Apesar de algumas críticas de parte do PT, na defesa de Lula, não existem abusos na sua condução. As ações sejam do juiz como do Ministério Público não serão afetados pela eventual aprovação da lei. Não há mecanismos de intimidação a eles. Muito menos de amedrontamento. O que não lhes falta é coragem e ousadia. E para isso contam com o apoio irrestrito.

É de fundamental importância que o povo vá às ruas defender a Operação Lava Jato e o Juiz Sérgio Moro, mas não pode ser enganado pelo corporativismo. Não pode ser usado como massa de manobra ou "inocentes úteis".

Outra manifestação preponderante foi o "Fora Renan". O que é outra incompreensão e desinformação do povo paulista e carioca.

Com raríssimas exceções - que serão acidentais - ninguém presente na Praia de Copacabana ou na Avenida Paulista, votou e elegeu Renan Calheiros, senador da República. Já a sua eleição para Presidente do Senado, votos do Senador que o presente nas passeatas elegeu podem ter sido importantes. 

A pressão popular mais importante se exerce pelo voto e os eleitores do Rio de Janeiro e de São Paulo pode dar o recado a Renan: Jamais votaremos em você! E o que faz Renan? Diz que as manifestações são legítimas, respeita a voz das ruas, mas a que ele quer ouvir mesmo é de Alagoas. É Alagoas que o elege e em Maceió, apenas 50 "gatos pingados" foram à manifestação na orla do Alagoinha. E provavelmente ninguém carregava uma tabuleta "Fora Renan". Fora os opositores regionais de Renan Calheiros, a maioria dos alagoanos, inclusive o próprio Renan desprezarão as manifestações dos cariocas e dos paulistas. Esses não votam nele. 

Renan Calheiros dará sequência ou não à discussão do projeto de abuso de autoridade, em função da posição dos demais Senadores - muitos deles, afetados pelas manifestações do povo - e não em função dos gritos e tabuletas de "Fora Renan". 

Para nossa tristeza e frustração, 200 mil que sejam em São Paulo só elegem 3 senadores. Outros tanto do Rio de Janeiro também. Já 5 mil nas ruas de Roraima elegem Romero Jucá e mais dois. E outros tanto poucos elegem a maioria do Senado. Abaixo de Brasília são cerca de 10 Estados. Acima são 17. São 30 Senadores contra 51.

Qual é a reação de cada Senador diante da mobilização do povo e da mobilização dos seus eleitores? Foram contaminados pelos cariocas e paulistas. Ou continuam "na sua"? 

Se paulistas e cariocas não entenderem que é assim que funciona a política no Brasil, tenderão a perder sempre. 

Não basta a mobilização local. É preciso desenvolver estratégias de contaminação. Espalhar mais amplamente, por todo o Brasil o vírus "anticorrupção". Que resulte na não eleição dos mesmos políticos que estão hoje em Brasília.

Estrategicamente o foco deve ser eleições de 2018. A campanha "não reeleja ninguém" já está em curso, mas precisa ganhar corpo.

Se o povo brasileiro - entenda-se todo e não apenas paulistas e cariocas - seguir elegendo os mesmos políticos atuais, nada vai mudar. 

O povo está sendo manipulado agora, mas não o pode ser em 2018. As efetivas lideranças conscientes precisam assumir que só todo o povo, na cabine eleitoral, e não apenas milhares nas ruas, poderá mudar o Brasil. 

Agora para efeitos práticos em relação ao projeto do abuso de autoridade o povo paulista deve ter em vista que Renan é eleito pelo povo alagoano, mas Temer ainda é um político paulista. E a sua grande preocupação atual é que o Senado aprovando o projeto, ele tenha que decidir entre vetar ou não vetar.

A próxima mobilização será o "Veta Temer". 


















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