O "jeitão" brasileiro

Há dois fortes traços culturais do brasileiro: o do conhecido "jeitinho" e o da torcida.
O primeiro é mais conhecido e trataremos aqui. O segundo tratamos ontem no artigo "A cultura da torcida".
Leitores me indagam, com indignação, como podem esses "sem noção" ainda apoiar Lula, depois das revelações de sua participação, conivência ou comando do maior esquema de corrupção nunca antes organizado no país.

A primeira razão e fundamental é a aceitação pessoal, ainda que enviesada, de que os fins justificam os meios. E a concordância e apoio aos fins de um Brasil mais justo, levam a justificar os meios, para alcançá-los. Mesmo que espúrios. Enviesada porque os condenam quando praticadas pelos outros. Ou mais precisamente por "eles": os adversários. O dos nosso é relevado.

Essa relevação, que é  razão complementar, decorre da valoração do pecado dos meios. Há uma aceitação e leniência aos crimes de corrupção, baseadas na cultura do "jeitinho brasileiro". O jeitinho não é percebido como um pecado capital, mas venial. Desde que dos nossos. É um traço cultural do brasileiro. Para alguns o jeitinho é sinônimo de esperteza. Para outros a marca da criatividade e da imaginação do brasileiro. Um traço positivo. 
Começado, aceito inicialmente, por que não continuar e ampliar o seu uso? Já que começou pode continuar. Já que  pecou uma primeira vez, pode pecar uma segunda. E depois uma terceira...

Lula e o PT, deram um "jeitinho" para financiar as suas campanhas, para obterem o apoio do Congresso às suas propostas e para se manterem no poder de forma a cumprir os propósitos sociais a que se propuseram. De ampla aceitação e pouca contestação.

Como começaram foram seguindo e  elo tamanho, acabaram transformando o "jeitinho" em "jeitão".  

Todos que um dia deram um "jeitinho" para se safar de alguma punição, todos os que praticaram um pequeno delito, acabam por aceitar a mesma prática, pelos seus queridos. Sempre aceito e perdoado quando dos nossos.

A ética deixa de ser independente para ser vinculado às preferências pessoais. O delito cometido pelos seus é tolerado e a dos outros condenado. 

Para a aceitação pessoal, o indivíduo introjeta uma versão condescendente dos fatos, minimizando a sua importância ou responsabilizando terceiros pela ocorrência, aceitando os delinquentes como vítimas. 

É através desse mecanismo de defesa, muito conhecido pela psicologia, que os petistas e lulistas relevam os delitos praticados no petrolão, minimizando a sua importância, e dando maior peso às conquistas sociais promovidas pelos governos petistas.

O que não é aceito e por isso incompreendido pelos opositores. "Não acredito que possa ter gente que aceita isso, porque eu não aceito". É uma falta de compreensão da diversidade humana. Nem todos vêem os fatos iguais ou dão importância igual.

Um elemento fundamental para a autoaceitação da versão de que o "jeitão" aplicado é que tudo foi feito em nome do partido e do seu ideário. O que não se aceita é que se tenha usado para benefício pessoal. Por isso José Dirceu defendido como "guerreiro do povo brasileiro" no mensalão, foi abandonado no petrolão. Porque foi evidenciado que se enriqueceu. Não adiantou alegar que foi conta de consultorias, registradas formalmente. Não podia ter enriquecido e se aburguesado.

E por isso, Lula, mesmo tendo fontes de renda suficientes para comprar tanto o triplex do Guarujá, como o sítio de Atibaia, procura não se declarar como proprietário dos imóveis. Ele não poderia mostrar sinais de riqueza própria. Pode ter tudo, mas sempre cedido pelos amigos. Pode ir a Brasília de jatinho, mas de amigos.

Ele procura demonstrar que continua com "alma de pobre". Vale-se então do tradicional "jeitinho" brasileiro. Usar a propriedade dos amigos. 

Lula não tem casa em Maricá, no litoral norte-fluminense. Mas a filha dele mora lá. 

Pode-se continuar pobre, mas é sempre bom ter amigos ricos. Porque com isso sempre que precisar desfrutar de condições melhores de vida se apela aos amigos com mais posse. 

Você pode e deve ser contra esse "maldito capitalismo", mas não pode dispensar amigos ricos. 

Tudo se justifica quando se introjeta uma fantasia desejada e passa a viver como se essa fosse a realidade.  

Ainda que se torne um "sem noção" (na visão dos adversários).

         

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