O
grande espetáculo de horror do domingo retrasado (17 de abril de 2016) mostra que o problema
não é dos políticos, mas dos eleitores que os elegeram. Você acha que os
eleitores foram enganados por aqueles políticos. E que educação irá
resolver, para deixarem de ser enganados. Quem se engana é você, que não quer ver o Brasil Real.
Mas
quem tem um pouco mais de idade e viveu 1992 vai lembrar que a sessão
da Câmara dos Deputados votando pelo impeachment de Collor foi
exatamente igual. Em 2016, 24 anos após, pouco
mudou.
Após
a transição de Itamar, Fernando Henrique Cardoso, um intelectual, um
professor universitário foi eleito e reeleito. Deu prioridade à educação e teve Paulo
Renato no comando da área de Educação. Muito fez, mas não alterou
substancialmente o quadro de desinformação e despreparo do eleitor, da
população. Lula e o PT foram eleitos e reeleitos. Depois veio Dilma e
todos promoveram mudanças na educação, para continuar tudo no mesmo. Os
eleitores brasileiros continuaram elegendo a mesma laia de deputados
que se viu no domingo. Ou seja, todo um esforço educacional foi feito. Os indicadores mostram avanço, na redução do analfabetismo, na melhora da escolaridade e outros. E o povo continua elegendo os mesmos.
Há os que acreditam que a continuidade do esforço educacional ou até uma ampliação desse dará
resultados, ainda que a longo prazo. Enquanto isso teremos que conviver
com o circo de horrores. O tal "baixo clero" que sempre se ouviu falar,
se mostrou por inteiro. E não foi muito pior que o médio e até do que o alto clero.
Para
a eleição presidencial o seu voto tem importância, mesmo sendo apenas
um. O Presidente da República é eleito pela maioria dos votos de todos
os eleitores do país. Num segundo turno é um contra o outro.
Já
o seu voto para deputado federal tem pequena importância. Você só elege
um deputado do seu Estado. É um deputado em 513. E nem sempre o voto
que você deu a um candidato o elegeu. Você pode ter eleito outro. Se
você votou em Tiririca o seu voto pode ter ajudado a eleger mais 3 que
você não tem menor ideia de quem seja. Mas foi um daqueles. Se você
votou em Roberto Freire, deve ter estranhado a ausência dele. O seu voto
elegeu Arnaldo Jardim.
Se o problema maior são os eleitores, e não os políticos que aqueles elegeram, como atuar para mudar?
Uma
das ilusões está no voto distrital. Presume-se que com o voto
distrital, o eleitor vai se lembrar mais de quem ele elegeu e
cobrar mais dele. Pois o que se viu foi exatamente o resultado de um
sistema distrital não oficial. Ou um sistema paroquial. Uma grande parte das supostas
desnecessárias e absurdas menções foram aos eleitores dos seus distritos, ou paróquias eleitorais. De muitos
lugares que os paulistas e demais brasileiros da opinião publicada nunca ouviram falar e nem sabem onde ficam. O voto distrital não vai melhorar o nível dos
deputados federais. Vai piorar. O problema não está na relação direta
entre o eleitor e o deputado federal. A falta evidente que ficou entre
os deputados que votaram a favor do impeachment foi a visão nacional. Os
contra, na sua maioria, votaram ideologica e nacionalmente. Os a favor foram
provincianos, paroquiais ou até familiares: votaram em nome ou a favor de mães,
cônjuges, filhos, netos e até bisnetos. Não em função de interesses ou
opções nacionais. Nem mesmo regionais. São visões de bons propósitos e alguns até
emocionantes, mas não as que deveriam presidir políticos eleitos com
milhares de votos. Eles não estão lá para representar a sua família.
Embora alguns efetivamente o estejam, para manter o domínio de um tradicional coronelato. E foram autênticos nas suas
manifestações.
E as feministas que perceberam a presença feminina, ainda que pequena, não tem como se animar. Jandira Feghali, Benedita da Silva, contra o impeachment, Mara Gabrilli a favor, e outras se elegeram com os seus votos. A maioria, com algumas autoras de grandes vexames, foi eleita com os votos do marido (ou ex) ou do pai. Tem mesmo que agradecer à família porque foi ela que as elegeu. Para manter o poder provinciano.
Essa é a questão principal que está no tronco da horrenda e frondosa árvore com as suas 513 folhas, muitas de péssimo aspecto. Cada galho é de um Estado, com o mínimo de 8 folhas. E o eleitor de um Estado não vota em deputado de outro. Institucionalmente a representação é estadual, é regional. Na prática o Estado é dividido em "paróquias" eleitorais, também caracterizado por "currais" eleitorais.
Os deputados federais são eleitos por esses "distritos informais", vários com domínio secular de famílias políticas. Em alguns casos há disputa e alternância de poder entre famílias rivais, movidos pelo domínio e interesse local.
Há na história brasileira poucos casos em que o coronelato político foi cooptado para questões nacionais, como o movimento republicano. Mas eu esse conheço como história lida.
Não lembro de ter vivido em sessenta anos de vida cidadã (ou seja com direito a voto) de nenhuma outra mobilização em torno de dissensões nacionais. Mas a memória também falha.
Nessa questão do impeachment da Presidente Dilma, associado ao movimento "Fora PT", há uma disputa política que poucos analistas perceberam. Tampouco os dirigentes nacionais do PT, que são - na sua maioria - integrantes da opinião publicada.
A votação na Câmara dos Deputados, na admissão do processo de impeachment, mostrou uma reação do "velho esquema" político aos avanços do PT nas suas hostes. O PT tentou cooptá-lo, mas a intuição política daquele indicou que não deveriam reforçar o poder do PT. E votou a favor do impeachment.
(cont).
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