O ET não entendeu nada!

Não precisa ser ET para ficar perplexo. Os ingleses do The Economist já anteviam e não estavam entendendo. Nem mesmo os organizadores dos blocos, com mobilização pela internet esperavam tanta gente.

O Brasil não está vivendo a mais grave crise econômica "nunca antes ocorrida"?  Não está diante de uma grave crise política, com ameaça de impedimento da Presidente da República, com baixissima popularidade? Não teve recentemente  maior tragédia ambiental do mundo? Não está enfrentando uma epidemia de Zika Virus, com milhares de bebês com microcefalia, assustando as grávidas e as que pretendiam se engravidar? A população toda não está preocupada?

E qual é a resposta de grande parte da sua população? Ficar lamentando as desgraças? Não.
A resposta é sair aos magotes às ruas, para pular, dançar e beber (até cair). As ruas de Salvador, do Recife, do Rio de Janeiro e agora até de São Paulo, foram tomadas pelos blocos, formados espontaneamente, a partir de pequenos grupos organizados, mas com milhares de adesões, convidados através das redes sociais. 
Segundo as entrevistas de organizadores dos blocos, todos eles foram surpreendidos com o volume de adesões. 

Como explicar esse fenômeno social? 

Haveria dentro das pessoas um "espirito carnavalesco" reprimido e sem oportunidade de manifestação pública. O carnaval em São Paulo foi confinado ao sambódromo, com contingenciamento das demais manifestações, principalmente as de rua. Os poucos blocos que ousavam a sair estavam limitados ao bairro da Vila Madalena, onde está a principal concentração de bares frequentados pela classe média. 

Com ambiente socialmente desfavorável às manifestações populares, os carnavalescos com recursos iam pular e dançar nos carnavais da Bahia ou do Recife e Olinda. Ou mesmo no Rio de Janeiro.  Mas uma grande parte aproveitava os feriados e o período de verão para ir às praias. E deixavam a cidade vazia.

Três  fatores conjuntos contribuíram para a mudança das circunstâncias:
  1. a crise econômica que levou ao contingenciamento das viagens dos paulistanos, tanto para outros carnavais, como para as praias. Ou mesmo para o interior em busca de refúgio, ou visita a parentes. As pessoas tiveram que ficar em São Paulo.
  2. manifestações populares, de caráter mais político do que cultural, mas criando os instrumentos e uma percepção de facilidade de mobilização. A difusão e convite passou a ser feita pelas redes sociais.
  3. o apoio da Prefeitura Municipal, dentro de uma visão de ceder a via pública, preferencialmente para a ocupação pelos pedestres, priorizando esse público em relação aos carros. A Prefeitura colocou as ruas à disposição dos blocos, cadastrou, organizou e reservou os espaços a esses. Foi além, montou palcos em várias regiões da cidade, para apresentações musicais.
Com um ambiente mais favorável os diversos blocos, tanto os tradicionais, como os novos se aventuraram a sair, registrando-se dentro do programa oficial da Prefeitura e convidando as pessoas pela rede social. 

Despertou nas pessoas o seu "espírito animal", ou melhor o "espirito carnavalesco" resultando em ampla adesão, superando as expectativas e lotando as ruas. 

Foi uma efetiva "revolução das massas" visível, inegável. Ainda que indesejável para alguns.

Diante do fenômeno emergem perguntas como:

  1. essa mobilização das massas se repetirá para movimentos de cunho político? Qual será a adesão da população a movimentos iniciados e convocados por pequenos grupos?
  2. essa  mobilização se repetirá em 2017 e anos subsequentes? O despertar do "espírito carnavalesco" da população foi circunstancial pela coincidência de fatores ou o inicio de um processo crescente e sustentado?
  3. o carnaval de rua ganhará sustentação, com ampliação dos patrocínios em 2017?
  4. a movimentação, promovida pela Prefeitura se refletirá na melhoria eleitoral do Prefeito? Ou não terá efeito político-eleitoral para as eleições de outubro  deste ano?

Mantida a tradição, todas essas manifestações seriam uma pausa, uma trégua festiva, para tudo "acabar na quarta-feira". 

A esperança é que na quarta-feira, afinal o ano de 2015 se finde e comece o ano de 2016. Será mais do mesmo?

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