No conjunto de artigos anteriores, reiteramos que o papel atribuído pelos eleitores aos políticos é mais de despachante do que de representante de valores e ideais.
Isso faz com que para a maioria dos eleitores (excetuando os acadêmicos e os influenciados por eles) não se importem com esquerda ou direita, mas sim com a eficácia da ação na melhoria dos interesses pessoais e comunitários.
Gera, além do mais, a aceitação do discurso populista, que tem por base um dos principais conceito ou proposição da estratégia: para fortalecer a nossa posição e reunir os interesses é preciso ter um inimigo visível.
Se não existe de fato é preciso criar, fazer crer que existe. Dai a tônica do discurso populista é nós contra eles.
No caso brasileiro, dois pré-candidatos à Presidência adotam, com sucesso o discurso populista. Lula, por um lado, tem como inimigo evidente o atual Governo Temer ao qual atribui todas as responsabilidades pelos problemas do povo brasileiro.
Não lhe importa se verdadeiro ou falso. Escolhido como o inimigo, só é mostrado por elementos negativos. Não reconhece, nem pode reconhecer, qualquer elemento positivo.
Com o risco de ser condenado pela Justiça, amplia o campo inimigo como uma associação do Governo com o Judiciário para impedir a sua legítima (ao ver dele) candidatura e o caracteriza, de forma genérica, como a "elite".
Somos nós, o povo sofrido, vivendo em condições precárias e mal atendido pelo Estado, contra a elite, que se apropria das riqueza do país e deixa os demais no abandono. A justiça social só será possível por uma forte atuação do Estado.
É um discurso que é absorvido por uma grande parte da população, vale dizer do eleitorado, visto que essa vive em condições precárias. E tem a adesão de uma parte da classe média, principalmente de acadêmicos, que defendem a necessidade de uma ação mais decisiva do Estado na redução da desigualdade. Para esses quem é contra essa ideologia é inimigo, são "eles" que estão contra "nós".
Já o outro lado aproveita esse discurso para caracterizá-lo como o inimigo. Lula e o PT seriam os grandes inimigos que precisam ser combatidos. O discurso seria igualmente populista.
Por enquanto o "meio" também caracterizado como centro não adota o discurso populista e não elege - claramente - o inimigo. Prefere que a Justiça se encarregue de eliminar o potencial inimigo.
(cont)
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