O Brasil ainda tem um eleitorado predominantemente pobre e disseminado. Um eleitorado cuja principal relação com a politica é receber serviços públicos e benefícios assistenciais do Estado. Não há nenhuma percepção ou interesse sobre grandes disjunções nacionais, como tamanho e cumprimento de metas fiscais, partilha ou concessão na exploração do petróleo do pré-sal e outras. Eles se preocupam e aceitam se posicionar em relação aos temas que afetam diretamente a sua vida cotidiana. Por exemplo, direito ao aborto: por que não podem recorrer ao posto de saúde público para abortar um feto indesejado? Mesmo se resultado de um estupro?
Mas não tem nenhum entendimento ou posição sobre a taxa SELIC. O que lhes interessa é se está havendo ou não carestia.
Mesmo com a urbanização e metropolização e grande concentração da população, do eleitorado, inclusive de baixa renda nas grandes cidades, muitos dos eleitores ainda estão nos "grotões". Em pequenas comunidades, com a economia baseada na agricultura e nos serviços. Onde a presença do Estado é fundamental e sua atuação, nessas comunidades, influencia ou determina os votos dos eleitores.
Essa participação do Estado sempre foi disputada e assumida por grupos oligárquicos - de base rural - que perceberam na política um instrumento de poder para favorecer os seus interesses. Para manter a fidelidade dos eleitores o estratégico sempre foi o controle dos órgãos públicos no Município, no distrito ou em órgãos regionais. O seu poder político era trocado por cargos, que consolidavam esse poder.
Esse poder já vinha sendo enfraquecido pela urbanização, cujo principal impacto foi o aumento da geração de renda e de emprego pelos serviços: a multiplicação da renda auferida pela produção rural era apropriada pelo comércio, pelos serviços e pelo mercado imobiliário. O eleitorado foi se liberando do domínio rural.
Dentro dessas circunstâncias com a subida do PT ao Governo, Lula adotou - ainda que mais por intuição do que por estratégia - a facilitação do acesso ao Bolsa Família (herança do Governo anterior) mediante um cartão de saque direto na Caixa Econômica, eliminando a intermediação da estrutura política. O cadastramento ainda envolvia essa intermediação, mas a redução da burocracia eliminou ou reduziu a interferência política para conseguir o cadastro e o respectivo cartão.
Com isso os petistas se associando e se adonando dos programas sociais do Governo Federal foram conquistando votos tirando-os das velhas oligarquias.
A cúpula do PT ainda tentou a cooptação delas, oferecendo cargos regionais e locais, mas não conseguiu. Uma das razões foi a reação das bases locais do PT, junto com os movimentos sociais. Em alguns casos, impediram a posse dos novos nomeados, no processo de barganha.
Os votos e manifestações de muitos dos deputados foi uma declaração dos eleitos com respaldo das velhas oligarquias conta a ameaça do PT nas suas bases. Não foi uma disputa nacional, mas distrital, ainda que na arena do Congresso Nacional.
O "fora PT" não se referia apenas ao impeachment de Dilma, mas a sua "expulsão" em seus redutos eleitorais.
O suposto avanço ou modernização promovido pelo PT, com a liberação do eleitorado das velhas oligarquias terá um retrocesso. Que não será o fim dos programas sociais. Mas a tentativa de apropriação por aquelas dos programas. Como consequência das próprias estratégias equivocadas do PT em tentar cooptá-las.
De toda forma, o fracasso do PT abre um espaço, cuja conquista definirá os perfis futuros do Congresso Nacional, principalmente na Câmara dos Deputados.
2016 poderá dar a indicação das trajetórias futuras.
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