Novos rumos

A Scania vai exportar do Brasil para a Europa.
Essa noticia publicada pelo Jornal Valor Econômico (26/11/2015 pg B5), indica uma mudança de uma das principais multinacionais do setor automobilístico no Brasil.
Pretende converter a sua unidade instalada no Brasil, em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, para atender ao mercado local, com extensão para o Mercosul numa plataforma de exportação mais ampla. O objetivo é tornar a sua fábrica no Brasil numa unidade mundial, produzindo um caminhão mundial que possa ser colocado em qualquer país do mundo em que ela comercialize os seus produtos, principalmente na Europa. Faltava a produção de motores que atendam a legislação europeia sobre emissão de gases, cuja produção ocorrerá em meados de 2016.

Como temos colocado aqui não é uma decisão local, uma decisão nacional, definida pela direção da unidade brasileira, mas uma decisão tomada na Suécia, pela direção corporativa. Foi anunciada no Brasil, mas pelo Presidente mundial da empresa, Per Hallberg. 

Tampouco é uma decisão emergencial ou conjuntural. É fruto de uma decisão estratégica, envolvendo investimentos e um cronograma. As remessas começarão em 2016. 

Foi uma decisão estratégia da produzir no Brasil, um veículo global, semelhante aos produzidos em outras unidades mundiais da Scania, inclusive na Suécia.

Segundo o jornal " junto com o desenvolvimento de novos modelos, a Scania tem alinhado o padrão tecnológico da fábrica de São Bernardo ao das suas operações mais modernas no mundo."

O que desafaz outro mito: o de que o produto brasileiro não é competitivo porque as empresas brasileiras pouco inovam. Nas multinacionais, as inovações são dela e de âmbito mundial. O que ela inova no Brasil ela leva para o resto do mundo e, no sentido inverso, o que elas inova na Suécia aplica também no Brasil.  Com a globalização e multinacionalização empresarial, inovação não é mais propridade de um país.  Não melhora a competitividade do país, mas sim da empresa que a desenvolveu e aplicou.

Outro dado relevante da matéria é a referência ao Presidente da montadora na América Latina. Ou seja a unidade de negócios da multinacional é a América Latina e não apenas o Brasil.


Não  temos notícias sobre as outras multinacionais. Mas diante das perspectivas econômicas e políticas do Brasil e da Argentina, a conversão das unidades instaladas no Brasil em unidades mundiais suprindo a vários mercados deverá estar na pauta das reuniões do respectivos  centros corporativos.

Um cenário parcialmente otimista indicaria que já em 2016 a Argentina retomaria o crescimento econômico, com base numa política liberal. Reduziria as restrições para as importações do Brasil. A demanda reprimida para a renovação da frota de automóveis pela classe média promoveria a absorção das capacidades produtivas instaladas no Brasil e na Argentina.

Então apesar de um cenário de estagnação econômica do Brasil, as multinacionais não alterariam a sua estratégia, mantendo a orientação de atender prioritariamente o mercado do Mercosul, exportando para outros paises apenas os excedentes e para aqueles com os quais o Brasil já tem acordos comerciais.

Um cenário otimista para as multinacionais seria a solução da crise política pela antecipação da saída da Presidente Dilma, seja por impeachment ou renúncia. Ela seria substituida por um governo mais liberal, menos intervencionista, mais previsível, promovendo maior segurança aos investidores.

A retomada da demanda interna justificaria a manutenção da produção voltada apenas para o Brasil e Mercosul.

Um cenário menos otimistas diria que a retomada a retomada da Argentina seria lenta, assim como a do Brasil e para manter níveis de produção, mesmo não plenas as multinacionais precisariam transferir volume maiores da sua produção para outros paises, onde atuam, mudando as matrizes de suprimento. 

O cenário pessimista associaria a demora de retomada do crescimento da economia argentina com um aprofundamento da recessão brasileira. A persistência da crise política, afetando a economia provocaria esse aprofundamento.

Dentro desse quadro a multinacional ficaria com a opção de reduzir ainda mais a sua produção, reduzindo também a força de trabalho, contribuindo para agravar a recessão, ou voltar parte substancial da sua produção para outros mercados externos, além do Mercosul.

Para isso as multinacionais definirão  a estratégia de mundialização das suas unidades nacionais, ou ficarão na dependência de incentivos governamentais?

O Governo deixará que as decisões sejam estritamente empresariais, agindo - quando muito - na redução da burocracia ou será tentado, como em outras ocasiões, a interferir e definir uma "política industrial"?

Por outro lado, as empresas precisarão estabelecer acordos com os trabalhadores para viabilizar as suas estratégias. Esses acordos deverão girar principalmente em relação à produtividade e inovações tecnológicas.



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