A engenharia brasileira já foi motivo de grande admiração
por parte da sociedade. Esta chegou a colocar, ainda nos anos setenta, a
atividade como uma das mais admiradas. Posteriormente perdeu prestígio e hoje é
uma das atividades com elevada conotação negativa, fazendo companhia aos
políticos.
Não sou engenheiro e, mesmo que autorizado, seria incapaz de
projetar ou construir qualquer obra ou fabricar qualquer produto industrial.
Mas convivendo durante muitos anos com a engenharia e com os engenheiros à distância
de um braço, tive melhores condições de perceber a sua evolução perante a
sociedade.
Uma das razões dessa perda de importância foi a banalização
da sua atividade que, de uma percepção de capacidade de solução e inovação,
passou a ser vista como uma atividade que “qualquer um faz”.
Um exemplo dessa banalização é a ponte estaiada. Uma inovação tecnológica, com impactos estéticos
diferenciados, que viabiliza a colocação de pontes com grandes vãos de
distância. Em vez de um “paliteiro” de
pilares - sustentando pequenas extensões de vãos- colunas mais elevadas - sustentando as vigas
mediante cabos de aço - permitem manter vãos de grandes distâncias.
Projetada e construída em Brasília para a transposição do
Lago Sul, tornou-se referência e moda. A ponte estaiada de São Paulo, sobre o
Rio Pinheiros virou cartão postal da cidade: um monumento para todos verem e
admirarem. Grandes desafios técnicos foram vencidos.
Cada governante, seja estadual como municipal, quis ter a “sua
ponte estaiada”, mesmo que não fosse necessária a tecnologia. Melhor, mas mais
cara. Mas a difusão indiscriminada da solução levou à sua banalização ou
trivialização. A autoridade queria deixar a sua marca e acabou gerando a
impressão de que “todo mundo é capaz de fazer”. Com isso comoditizou a engenharia
e, como tal, o projetista ou construtor poderia ser contratado pelo menor
preço. A ponte estaiada virou um “genérico”. Para a autoridade o relevante não
era o projeto, a melhor solução técnica, mas obter recursos para construir o
seu monumento. Na suposição de que toda população lembraria do seu nome ao se
deparar com a ponte estaiada.
Outros casos podem ser citados, mas o que se transmitiu ao
público foi a percepção de poderia ser feita por qualquer ou por diversos
profissionais e não por poucos altamente especializados. Se a escolha viesse a
ocorrer com limitações de concorrentes era percebida como suspeita. A eventual
restrição aos especializados entendida como restrição à concorrência. Essa
visão decorria do já referido acima processo de comoditização. Por sua vez
decorrente da banalização do uso da tecnologia.
A engenharia brasileira é altamente competente do ponto de
vista técnico. Mas inteiramente incompetente na sua comunicação com o público
em geral, com a sociedade.
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