Exportar para empregar (7)



Tento aqui responder a uma questão crucial colocada nos artigos anteriores:
Como os decisores das multinacionais vêem o Brasil?
A partir dai vem a segunda pergunta: Eles estão dispostos a converter o parque industrial instalado no Brasil em plataforma de exportação?
A fonte que buscamos é dos altos dirigentes das multinacionais, tanto as presidências (CEOs) mundiais, como as regionais (América Latina ou do Sul) ou nacionais.
As declarações[1] do CEO Mundial da Nestlé, Paul Bucker, quando da inauguração de uma fábrica de cápsulas de café, são no mesmo sentido de outras de dirigentes máximos de multinacionais presentes no Brasil:
·      Estratégias e investimentos são de longo prazo
“Estamos hà mais de 90 anos no Brasil. Em muitos países estamos hà mais de cem anos. Estamos nos bons tempos e nos tempos não tão bons. Agora o Brasil passa por esta situação inflação e coisas assim, mas nosso investimento não está ligado apenas aos bons momentos. É para longo prazo”.
·      Otimismo: o Brasil vai superar as dificuldades
Inaugurar uma fábrica é a melhor prova de confiança no Brasil”. “Esse (enquadramento estável) é o trabalho da política e acho que ai a política tem que fazer a sua parte para estabilizar essa angústia e projetar o país de modo estável e em boa direção”. “Sou otimista, espero que cheguemos a isso”.
Declarações de CEOs mundiais da Indústria Automobilística, quando no Brasil são no mesmo sentido.

Estratégias Regionais


Por trás dos discursos e das ações efetivas é possível identificar estratégias regionais. As multinacionais definem uma segmentação continental (ou subcontinental). No continente americano a divisão é entre a América do Norte, indubitavelmente os EUA e o Canadá e a América Latina.  O México pode estar num ou outro segmento, dependendo da empresa.
Definem uma estrutura organizacional regional, com um Presidente Regional e Vice-Presidentes (ou mesmo Presidentes) nacionais.
As decisões sobre grandes investimentos continuam com as sedes mundiais, mas as decisões sobre os mercados a serem atendidos dentro da região seriam dos dirigentes regionais. Ou seja, exportações da produção brasileira para países da América do Sul, central e, até mesmo, para o México estariam na alçada do Presidente Regional e da sua diretoria.
Dentro das estratégias definidas pelas respectivas direções mundiais das multinacionais da indústria automobilística, o conceito de “mercado interno” não se limita ao nacional ou doméstico, mas corresponde ao mercado latino-americano.
É o que estaria ocorrendo com as decisões da Hyundai e da GM, conforme noticia o Valor[2] de 15 de março de 2016 (pg B3), com a transcrição dos seus dirigentes:
“Nossa intenção é prosseguir com a utilização plena de nossa capacidade produtiva, compensando qualquer agravamento da demanda no mercado interno.” “Este é o primeiro passo (embarque de 600 unidades do HB2OX para o Paraguai) para tornar o HB20 um grande sucesso também em  vdiversos outros mercados da América Latina.”, diz William Lee, Presidente da Hyundai no Brasil.
“A GM trabalha com a expectativa de ampliar em 3% as exportações do ano passado: 72,7 mil carros, entre veículos montados e desmontados. É um volume crescente, porém ainda longe do ideal, na visão do Presidente da montadora no país, Santiago Chamorro: O Brasil ainda não tem condições de ser uma plataforma exportadora como a Coreia. Ainda precisamos reduzir custos como os trabalhistas e os de logística. Estamos longe de ser um polo de exportação, avalia.”
“A Fiat lançou em abril o seu novo subcompacto,  o Mobi,  o qual, segundo reportagem do Jornal Valor [3] chega para ajudar a montadora na retomada das exportações. Nos próximos meses o subcompacto da italiana começa a ser embarcado para a Argentina, principal destino dos veículos brasileiros no exterior. Posteriormente, será vendido em outros países da América Latina, incluindo o México.  A idéia é exportar 30% da produção do Mobi, feita na fábrica de Betim (MG) a maior do grupo no mundo.”
Ainda segundo a reportagem do Valor: “Ontem, Steffan Ketter, presidente da Fiat Chrysler Automobilies (FCA) na região, disse que o grupo colocou como prioridade  fazer da operação brasileira uma base de exportação capaz de atender tanto os países vizinhos quanto a mercados desenvolvidos, nos quais a companhia avalia a viabilidade de colocar modelos de padrão global, lançados desde o ano passado. No caso, há estudos, em primeiro estágio para embarcar a picape Toro aos Estados Unidos.
Mas Ketter ponderou que esse é um trabalho que não depende apenas da empresa mas também da costura de acordos comerciais pelo governo para que as vendas externas do país não oscilem apenas ao sabor da taxa de câmbio. “Queremos ser exportador sempre” afirmou o executivo. “Nunca fomos uma companhia de exportação. Nem o Brasil foi um país de exportação”, acrescentou.
Os discursos e ações da Nissan[4] também vão no mesmo sentido das demais multinacionais: “A realidade é de crise. Mas temos estratégia de longo prazo. Estamos investindo muito. Aumentando nossa performance porque estamos convencidos que o potencial do Brasil na indústria automobilística é grande e forte. O Brasil tem fundamentos sólidos para voltar ao alto nível. Pensamos no futuro” afirmou Daniele Schillaci, vice-presidente executivo global de marketing e vendas da companhia.”
O Brasil foi por muitos anos o quarto maior mercado do mundo. Hoje é o sétimo. E nós sabemos que há potencial para voltar a essa posição. Estaremos lá para maximizar esse potencial. Nós sabemos que o mercado em 2020 estará em 3 milhões a 3,5 milhões (de veículos por ano). E queremos ir além dos 5%”, completou José Luis Valls, principal executivo da marca na América Latina. “
“Desde março parte da produção nacional - entre os modelos March e Versa -  está sendo exportada a países da América do Sul. Segundo o presidente da Nissan no Brasil, Francisco Dossa, a exportação brasileira não tem relação direta com a crise no país e já estava prevista na estratégia da companhia. De acordo com os planos da fabricante nipônica a unidade de Rezende funcionará como um polo voltado para todo o continente. ”
“A estimativa é que, neste ano, sejam exportados 20% da produção atual da fábrica. Segundo Valls a companhia pode chegar a exportar 50% da produção, quando a unidade em Resende estive em plena capacidade. Os principais destinos são Argentina, Chile, Uruguai, Paraguai, Peru e Bolívia.”



[1] “A política tem que estabilizar a angústia, diz  CEO da Nestlé” – valor 18/12/2015, pg B7.
[2] Hyundai inicia exportação e GM vai ao Chile: valor,15/03/2016 pg B3
[3] Novo subcompacto da Fiat também será exportado: Valor de 15/04/2016, pg B4
[4] Nissan revê plano de cresimento: Valor de 4,5 e 6 de junho de 2016, pg B4.

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