Tento aqui responder a uma questão crucial colocada nos
artigos anteriores:
Como os decisores das multinacionais vêem o Brasil?
A partir dai vem a segunda pergunta: Eles estão dispostos a
converter o parque industrial instalado no Brasil em plataforma de exportação?
A fonte que buscamos é dos altos dirigentes das
multinacionais, tanto as presidências (CEOs) mundiais, como as regionais
(América Latina ou do Sul) ou nacionais.
As declarações[1] do
CEO Mundial da Nestlé, Paul Bucker, quando da inauguração de uma fábrica de
cápsulas de café, são no mesmo sentido de outras de dirigentes máximos de
multinacionais presentes no Brasil:
·
Estratégias e investimentos são de longo prazo
“Estamos hà mais de 90 anos no Brasil. Em muitos países estamos hà mais
de cem anos. Estamos nos bons tempos e nos tempos não tão bons. Agora o Brasil
passa por esta situação inflação e coisas assim, mas nosso investimento não
está ligado apenas aos bons momentos. É para longo prazo”.
·
Otimismo: o Brasil vai superar as dificuldades
“Inaugurar uma fábrica é a melhor prova de confiança no Brasil”. “Esse
(enquadramento estável) é o trabalho da política e acho que ai a política tem que
fazer a sua parte para estabilizar essa angústia e projetar o país de modo
estável e em boa direção”. “Sou otimista, espero que cheguemos a isso”.
Declarações de CEOs mundiais da Indústria Automobilística,
quando no Brasil são no mesmo sentido.
Estratégias Regionais
Por trás dos discursos e das ações efetivas é possível
identificar estratégias regionais. As multinacionais definem uma segmentação
continental (ou subcontinental). No continente americano a divisão é entre a
América do Norte, indubitavelmente os EUA e o Canadá e a América Latina. O México pode estar num ou outro segmento,
dependendo da empresa.
Definem uma estrutura organizacional regional, com um
Presidente Regional e Vice-Presidentes (ou mesmo Presidentes) nacionais.
As decisões sobre grandes investimentos continuam com as
sedes mundiais, mas as decisões sobre os mercados a serem atendidos dentro da
região seriam dos dirigentes regionais. Ou seja, exportações da produção
brasileira para países da América do Sul, central e, até mesmo, para o México
estariam na alçada do Presidente Regional e da sua diretoria.
Dentro das estratégias definidas pelas respectivas direções
mundiais das multinacionais da indústria automobilística, o conceito de
“mercado interno” não se limita ao nacional ou doméstico, mas corresponde ao
mercado latino-americano.
É o que estaria ocorrendo com as decisões da Hyundai e da GM,
conforme noticia o Valor[2] de
15 de março de 2016 (pg B3), com a transcrição dos seus dirigentes:
“Nossa
intenção é prosseguir com a utilização plena de nossa capacidade produtiva,
compensando qualquer agravamento da demanda no mercado interno.” “Este é o
primeiro passo (embarque de 600 unidades do HB2OX para o Paraguai) para tornar
o HB20 um grande sucesso também em vdiversos
outros mercados da América Latina.”, diz William Lee, Presidente da
Hyundai no Brasil.
“A GM trabalha com a expectativa de ampliar em 3% as
exportações do ano passado: 72,7 mil carros, entre veículos montados e
desmontados. É um volume crescente, porém ainda longe do ideal, na visão do
Presidente da montadora no país, Santiago Chamorro: O Brasil ainda não tem condições de ser uma plataforma exportadora como
a Coreia. Ainda precisamos reduzir custos como os trabalhistas e os de
logística. Estamos longe de ser um polo de exportação, avalia.”
“A Fiat lançou em abril o seu novo subcompacto, o Mobi,
o qual, segundo reportagem do Jornal Valor [3]
chega para ajudar a montadora na retomada das exportações. Nos próximos meses o
subcompacto da italiana começa a ser embarcado para a Argentina, principal
destino dos veículos brasileiros no exterior. Posteriormente, será vendido em outros
países da América Latina, incluindo o México. A idéia é exportar 30% da produção do Mobi,
feita na fábrica de Betim (MG) a maior do grupo no mundo.”
Ainda segundo a reportagem do Valor: “Ontem, Steffan Ketter,
presidente da Fiat Chrysler Automobilies (FCA) na região, disse que o grupo
colocou como prioridade fazer da
operação brasileira uma base de exportação capaz de atender tanto os países
vizinhos quanto a mercados desenvolvidos, nos quais a companhia avalia a
viabilidade de colocar modelos de padrão global, lançados desde o ano passado.
No caso, há estudos, em primeiro estágio para embarcar a picape Toro aos
Estados Unidos.
Mas Ketter ponderou que esse é um trabalho que não depende
apenas da empresa mas também da costura de acordos comerciais pelo governo para
que as vendas externas do país não oscilem apenas ao sabor da taxa de câmbio. “Queremos ser exportador sempre” afirmou
o executivo. “Nunca fomos uma companhia
de exportação. Nem o Brasil foi um país de exportação”, acrescentou.
Os discursos e ações da Nissan[4]
também vão no mesmo sentido das demais multinacionais: “A realidade é de crise. Mas temos estratégia de longo prazo. Estamos
investindo muito. Aumentando nossa performance porque estamos convencidos que o
potencial do Brasil na indústria automobilística é grande e forte. O Brasil tem
fundamentos sólidos para voltar ao alto nível. Pensamos no futuro” afirmou
Daniele Schillaci, vice-presidente executivo global de marketing e vendas da
companhia.”
“O Brasil foi por
muitos anos o quarto maior mercado do mundo. Hoje é o sétimo. E nós sabemos que
há potencial para voltar a essa posição. Estaremos lá para maximizar esse
potencial. Nós sabemos que o mercado em 2020 estará em 3 milhões a 3,5 milhões (de
veículos por ano). E queremos ir além dos 5%”, completou José Luis Valls,
principal executivo da marca na América Latina. “
“Desde março parte da produção nacional - entre os modelos
March e Versa - está sendo exportada a
países da América do Sul. Segundo o presidente da Nissan no Brasil, Francisco
Dossa, a exportação brasileira não tem relação direta com a crise no país e já
estava prevista na estratégia da companhia. De acordo com os planos da
fabricante nipônica a unidade de Rezende funcionará como um polo voltado para
todo o continente. ”
“A estimativa é que, neste ano, sejam exportados 20% da
produção atual da fábrica. Segundo Valls a companhia pode chegar a exportar 50%
da produção, quando a unidade em Resende estive em plena capacidade. Os principais
destinos são Argentina, Chile, Uruguai, Paraguai, Peru e Bolívia.”
[1] “A
política tem que estabilizar a angústia, diz
CEO da Nestlé” – valor 18/12/2015, pg B7.
[2]
Hyundai inicia exportação e GM vai ao Chile: valor,15/03/2016 pg B3
[3]
Novo subcompacto da Fiat também será exportado: Valor de 15/04/2016, pg B4
[4]
Nissan revê plano de cresimento: Valor de 4,5 e 6 de junho de 2016, pg B4.
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