Mudança de prioridades no voto do eleitor

Um dos principais traços culturais da sociedade brasileira é o estatismo ou dependência estatal. Todos os problemas que as pessoas não conseguem resolver individualmente, elas transferem ou tendem a transferir para o Estado. Seja mediante leis ou regulamentos, como pelos serviços ou obras públicas.

É por essas reivindicações da população ou pela percepção das necessidades ou aspirações populares que os políticos se apresentam - com as suas promessas - perante o eleitorado, na expectativa ou esperança de serem eleitos. E alguns conseguem.

Ao longo do tempo, as prioridades sobre as requisições aos políticos mudam, o que gera surpresas em eleições. Sempre explicáveis depois de ocorrido. Porém gerando indícios ou definindo tendências para as eleições subsequentes.

As eleições municipais nas duas principais cidades brasileiras, parecem trazer indícios importantes para 2018, embora não sejam as mesmas.

Em São Paulo, eleição de Dória Jr - apoiada por uma boa campanha de marketing - foi baseada na percepção da maioria dos eleitores votantes, de prioridade para um "não ladrão". Formou-se uma ideia generalizada de que todo político é ladrão e em função disso o povo paulistano, de todas as classes, preferiu escolher um não político. Que ademais, se mostrou como trabalhador e um gestor voltado ao cuidado com o orçamento público. Não precisou fazer promessas específicas, nem de obras, nem de serviços - a menos no inicio da campanha. O que o povo entendeu foi que com a gestão "séria" ou seja sem "roubalheira" o novo Prefeito conseguiria atender melhor as necessidades da população.

Não foi a já tradicional disputa entre PT e PSDB - embora no resultado os dois mais votados tenham sido desses partidos, tampouco entre esquerda e direita, apesar deles terem posições ideológicas claramente divergentes. E muito menos disputas entre propostas de soluções para a ação do Estado ou de obras, ainda que os limites de velocidade na Marginal e as ciclofaixas tenham sido objeto de grandes divergências.

O fato de Dória Jr ter vencido - alguma vezes com grande margem sobre o petista - na periferia da São Paulo e entre os mais pobres, redutos tradicionais do PT e mais propensos a se dividir entre a esquerda e os populistas, indica que as principais razões que levaram Dória Jr a uma vitória no primeiro turno não foram as tradicionais mas a grande reivindicação das ruas: "fora corrupção". É importante, registrar a mudança de popularidade do candidato no seu início de campanha e mais ao final. Não foi apenas a visibilidade. No inicio ele apareceu da mesma forma tradicional, fazendo promessas - nem sempre viáveis, mas de caráter populista - para resolver pontualmente os problemas mais prementes da cidade. Não saiu do terceiro ou quarto lugar. A subida se deu com a mudança da imagem.

Se essa característica ou tendência se repetir ou até se ampliar em 2018, o seu "padrinho" pretendente à Presidência, pode "tirar o cavalinho da chuva". Ele não corresponde ao perfil que o eleitor preferiu um 2016. Político tradicional, com muitos "esqueletos no armário" não subsistirá aos ataques de desconstrução da sua imagem. O mesmo ocorrerá com Serra. Se o PSDB quiser aproveitar a "nova onda" terá que preparar um novo candidato: mais um "outsider". O que não se confunde com poste.

Já as eleições do Rio de Janeiro caracterizam um outro embate, que pouco ou nada tem a ver com o processo paulistano. O embate sobre valores culturais ou costumes sociais. Um embate renovado entre os conservadores e os liberais (no sentido social). Embate que já esteve presente nas duas últimas eleições presidenciais, mas não de forma decisiva. Em 2018, as questões de gênero, defesa da vida, homossexualismo, preconceitos terão maior força e poderão ser decisivas para as eleições gerais,

As situações entre São Paulo e Rio de Janeiro são diferentes, mas um fator importante deve ser considerado: os evangélicos conservadores aumentaram as sua bancada, elegendo vereadores por diversos partidos. Em São Paulo, o PSDB deu guarida a muito deles que se elegeram com boa votação.

E esse avanço dos evangélicos conservadores deverá ser maior na composição do Congresso em 2018.

De outra parte a esquerda está assumindo essas questões, como bandeiras para se opor à uma suposta direita conservadora que não quer colocar essas questões no topo das pautas políticas.

























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