Muda para ficar na mesma

A política brasileira tem sido dominada, desde a redemocratização, em 1985, por três grandes facções: a do PMDB - da qual, por cisão parcial deu origem à segunda delas -, a do PSDB, e a do PT. Todas elas, foram oposição ao regime militar.

O PSDB e o PT, a partir do início dos anos noventa, se puseram em campos opostos, na disputa do Poder Executivo. O PSDB o conquistou em 1994, com a eleição de Fernando Henrique Cardoso, mantendo-se em 1998, até 2002, sempre derrotando Lula. Esse conquistou o poder em 2002 e o PT manteve a hegemonia, por pouco mais de 13 anos, até o impechment de Dilma Rousseff.

O PMDB optou por compor a chapa presidencial, por não ter nenhum nome com densidade eleitoral nacional. Mas dedicou-se sempre a dominar a composição do Congresso. Por ter percebido que o regime político brasileiro é um "parlamentarismo disfarçado" e não um presidencialismo de coalisão, como os acadêmicos acham, seguidos pela mídia.

O poder real da política brasileira está com o Congresso. Nenhum Presidente da República governa, se não tiver a anuência do Congresso. E se contrapor a ele, o (a) Presidente acaba derrubado (a).

Com a emergência de nova crise política decorrente da "estupidez" do Presidente Temer em receber, clandestinamente um notório bandido, o Congresso vai assumir - formalmente - o poder, elegendo um substituto para completar o mandato.

Dentro da visão de um parlamentarismo disfarçado, o Congresso vai eleger um Presidente de dentro do grupo majoritário. Não haverá descontinuidade.

Não existe a possibilidade de eleição direta. Por mais que oposição e alguns grupos sociais não comprometidas ou adeptas da oposição a queiram. A maioria dentro do Congresso não quer. E é o mesmo Congresso que tem o poder de mudar a Constituição para estabelecer a eleição direta.

Muitos tem a ilusão de que a "voz das ruas" será suficiente para mudar as posições do Congresso. Não tem essa força, porque o Congresso é eleito "paroquialmente". Isto é, cada deputado é eleito pelos votos que obtém na sua paróquia eleitoral, complementado com votos dispersos pelo seu Estado. Deputado, assim como Senador, não tem o voto nacional, mas o voto estadual. Não adianta um Senador ou deputado de Pernambuco ou de Santa Catarina ser admirado em São Paulo. Eleitor paulista só elege 70 deputados do total de 517 e apenas 3 Senadores entre os 91. Não elege um candidato que concorre em outro Estado. 
De forma inversa, pouco adianta o eleitor de São Paulo fazer campanha contra um politico de Alagoas. Ele não vota, nem deixa de votar nesse candidato. 

As facções que estão no poder hoje são a do PMDB, associada a do PSDB, com a cooptação de diversos partidos menores. Não pela composição dentro do Poder Executivo, mas por dominarem o Congresso Nacional.

Esse grupo dominante, tem Michel Temer como o seu representante na Presidência de República. Se ele cai, seja por renuncia, impugnação da sua diplomação, ou por impeachment, o Congresso irá eleger um sucessor do mesmo grupo.

Não há viabilidade de eleger qualquer outro fora do grupo. Haverá continuidade, com pequenas mudanças nos rumos pretendidos pela Presidência atual, como da própria composição ministerial. 

Podem mudar nomes, mas todo jogo político continuará na mesma. Pode haver incerteza com relação ao nome, mas as coisas caminharão como dantes. 

A politica econômica seguirá em frente. Com maior ou menor velocidade. A Reforma Trabalhista será aprovada porque haverá forte pressão empresarial para se contrapor aos movimentos dos Sindicatos e afins. Haverá muito barulho, mas contraproducente. 
Quanto maior a pressão desses movimentos sobre os senadores, maior a reação deles contra. Ou seja, querem mostrar que não se intimidam e que eles são os donos das suas decisões. Por isso poderá ser aprovado no Senado, com alterações. O que obriga o retorno à Câmara dos Deputados, onde a reação dos deputados é a mesma. Respondem às hostilizações (eufemismo para vaias) votando contra os hostilizadores. Pode atrasar mas será aprovada.

Já a reforma previdenciária poderá ser postergada. Mas não afetará o interesse estrangeiro em investir no Brasil. Que é oportunista e está aproveitando a crise para comprar ativos baratos. 

Quem ficar esperando o desfecho da crise política só vai perder tempo. 

Vai mudar, para ficar tudo na mesma. 

(cont)



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