Morte anunciada das associações empresariais (3)

Que benefícios os associados esperam em contrapartida às suas contribuições financeiras anuais ou mensais?

O interesse objetivo é que a associação melhores os seus resultados econômicos específicos. 

São três os objetivos principais da associação empresarial:

  • representação do conjunto das empresas associadas, também caracterizada como representação do setor econômico;
  • prestação de serviços comuns aos associados, cujos custos compartilhados são mais vantajosos do que se executados individualmente;
  • congregação dos associados em eventos para promoção do relacionamento social.


A representação do setor já teve maior importância com a maior interferência vertical do Estado na economia, ou seja, setorial, como são as políticas industriais. Com a visão neoliberal de limitar a intervenção do Estado em poucas ações horizontais (fiscal, monetária e cambial) a representação setorial tem perdido importância.

Para eficácia da representação setorial, a associação deve ter pleitos específicos ou ter posições conceituais objetivas, ou bem definidas. É uma questão complexa, pois nem sempre se obtém o consenso entre os associados. 

A prestação de serviços comuns, ainda tem importância principalmente no campo jurídico tributário ou contencioso trabalhista ou administrativo. Mas é um serviço que atende mais a associados de menor porte, para os quais a manutenção de um serviço jurídico próprio é mais caro do que ter serviços compartilhados. Envolve uma questão de níveis de atendimento. Particularmente quando alguma grande empresa usa a estrutura existente e a compromete inteiramente, prejudicando o atendimento aos associados menores.

Um serviço comumente compartilhado é o de comunicações. Depende do interesse das empresas em serem mais visíveis perante a sociedade. Também nesse caso, podem ocorrer divergências, com alguns associados querendo maior visibilidade e outros não. Além disso, a visibilidade na mídia é confundida com personalismos dos porta-vozes. 

Um novo serviço compartilhado vem decorrendo da legislação anti-corrupção e da obrigação de introdução do compliance dentro das empresas. 

Planos de saúde coletivos ou compartilhados já fez parte importante dos papéis da associação, mas perdeu espaço para os planos de saúde coletivos, dominadas por corretoras (como a Qualicorp e outras).

Compras conjuntas assim como outras atividades compartilhadas pouco se sustentaram. 

A prestação de serviços pelas associações tem a concorrência de empresas especializadas que supostamente ofereceriam serviços de melhor qualidade. Com a vantagem de reunir participantes de empresas de diversos setores. Para os associados é preciso que tenham interesse e possam contar com benefícios de menor custo. 

A associação ter uma estrutura própria para a operacionalização constante dessa atividade requer pessoal especializado e custos. O mais importante, no entanto, é a adequada escolha dos temas e dos palestrantes ou debatedores. 

Até o Governo anterior, a presença de autoridades governamentais era o principal chamariz. Essa presença, embora ainda tenha um poder de atração, perdeu força, em função da menor intervenção vertical do Estado na economia e também das divergências dentro do Governo. 

As decisões governamentais não são mais lineares, mas decorrem de um jogo interno de forças. E ainda envolve a necessidade de aprovação legislativa e também do referendo dos órgãos de controle. 

Apesar dessa situação os empresários ainda colocam muita fé, nos ditos "formadores de opinião", em geral, economistas que dizem o que o Governo deve fazer. São partidários de determinadas linhas de ação e conseguem a adesão de muitos empresários. Poucos são os que analisam o jogo de forças, para orientar os empresários sobre os cenários mais prováveis. 

Os cenários que desenham são mais de desejos do que de análise de probabilidades. Mas tem boa aceitação pela mesma torcida: vão aos eventos para ouvir o que querem ouvir. 

Outra atividade comum é de eventos sociais que podem ser associados às palestras. São, em geral, eventos de final de ano ou comemorativos de aniversário da entidades ou outra data notável. 

Usualmente tem o formato de almoço "boca livre", no qual,  a associação gasta boa parte do seu orçamento. 

Esse é o modelo de negócio vigente da maioria das associações empresariais. E que estaria em decadência. 

Como remontar ou repaginar o modelo de negócios? 

Aperfeiçoar o modelo atual ou "pensar fora da caixa"? 

(cont)



2 comentários:

  1. As empresas criticam o excesso de gastos do governo e praticam excesso de gastos em suas associações. Concordo com você, Hori. Os gastos com almoços boca livre podem ser dirigidos a finalidades mais úteis para as próprias empresas. Arrisco aqui, requalificação profissional para as necessidades futuras.

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  2. As empresas criticam o excesso de gastos do governo e praticam excesso de gastos em suas associações. Concordo com você, Hori. Os gastos com almoços boca livre podem ser dirigidos a finalidades mais úteis para as próprias empresas. Arrisco aqui, requalificação profissional para as necessidades futuras.

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