México x Brasil

As multinacionais automobilísticas tem estabelecidas no Brasil e no México as suas bases de produção para suprir o mercado latino-americano.
Ambos os países tem um importante mercado interno, mas para a disputa pelos demais mercados precisam implantar escalas superiores ao seu potencial interno.
O México tem algumas vantagens sobre o Brasil, em função do idioma e a proximidade com os EUA. Com o qual tem uma grande relação de trocas.
Mas a principal vantagem do México sobre o Brasil é que historicamente o México se baseou a sua industrialização em plataformas de exportação, caracterizadas como "maquiadoras". Na sua implantação baseada na exploração da farta mão-de-obra, para trabalhos de baixa qualificação.
A formação dos trabalhadores, inicialmente pouco qualificados permitiu a criação de uma capacidade produtiva para atividades mais qualificadas.
Quando a China iniciou processo similar, com a sua indústria "barriga de aluguel", o México perdeu posição, mas conseguiu se recuperar e é o maior supridor de produtos industrializados para o mercado latino americano, exceto o Brasil.
No Brasil tem uma participação relativamente pequena, apenas complementar, em função da política industrial deste, baseado na proteção do seu mercado interno. Tem acordos de complementação produtiva, com limitações por cotas de veículos.
A industrialização braseira, ao contrário da mexicana, sempre foi voltada para o mercado interno, tendo as exportações, como complementares e eventuais.

Para ter uma participação no mercado brasileiro as multinacionais tiveram que se instalar no Brasil para usar os benefícios da política industrial. Para serem competitivos precisaram começar com uma escala mínima de produção muito superior às suas metas de participação inicial no mercado. 

Com a retração do mercado interno, algumas concorrentes, apesar de terem seus projetos aprovados, desistiram, principalmente os chineses, mas outros, com a implantação mais avançada tiveram que completar. Disso resultou uma imensa capacidade produtiva muito superior à demanda interna.

Uma alternativa é converter a sua fábrica numa plataforma de exportação, focada inicialmente no mercado latino americano, concorrendo principalmente com os mexicanos.

É o que ocorre com os planos da Nissan, segundo matéria do jornal  o Valor Econômico, de 25 de setembro de 2015, sob o título "Nissan planeja aproveitar dolar alto e iniciar exportações a partir do Brasil".

Essa conversão enfrenta o problema dos índices de conteúdo nacional. Em tese, esses índices devem valer para toda a produção, seja destinada ao mercado nacional, como ao mercado externo.

Apesar do dólar alto algumas peças e componentes externos ainda tem custos menores que os produzidos no país, além da defasagem tecnológica.

 A exigência do conteúdo nacional faz com que os produtos finais brasileiros percam competitividade nos mercados externos. 

Por outro lado, essa exigência faz com que as montadoras tragam para o Brasil, várias das suas supridoras, criando no país, uma nova configuração da indústria de auto-peças, altamente dominadas pelas multinacionais.

A indústria brasileira de auto-peças ainda tem uma grande participação de empresas nacionais. Essas em função das proteções e preferências estabelecidas pelo Governo Brasileiro, com raras exceções, pouco evoluiram tecnologicamente e se internacionalizaram. Estão sem condições de participar das cadeias globais de suprimento da indústria automobilística.

O Brasil tem duas opções, em função da evolução histórica da sua indústria automobilística:
  1. flexibilizar a sua política de conteúdo nacional, com mudanças do seu cálculo, para tornar os produtos finais mais competitivos e viabilizar aumento das exportações;
  2. manter a política atual o que poderá favorecer o ingresso de mais multinacionais de autopeças. Mas também com o risco de que a montadora desista de produzir no Brasil. 

Em qualquer das duas hipóteses a atual indústria de autopeças com grande participação de empresas nacionais está condenada à extinção. Terá o mercado supridor para as montadoras multinacionais tomado pelas importações ou pelas multinacionais instaladas ou que vierem a ser instaladas no país.


As nacionais, como já acontece com muitas delas, terão que sobreviver dentro do mercado de reposição.

O Brasil tem dois grandes desafios: o primeiro a opção pelo modelo e o segundo de como sustentar ou dar sobrevida à indústria nacional de autopeças.







 

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