Meirelles: esperança de quem?

Com a grave e prolongada crise que se abateu sobre o Brasil, desde o segundo semestre de 2014 e lenta retomada iniciada em 2017, as eleições de 2018 ainda serão fortemente influenciadas pela situação econômica e social.
O crescimento econômico ainda deverá estar com índices baixos, os empregos em recuperação, mas também restrita e a degradação social ainda não deverá estar revertida. Os níveis de violência urbana e rural ainda deverão estar elevados.

Tais circunstâncias farão com que a esperança por um futuro melhor seja o principal fator motivador do eleitor, na escolha do seu voto em outubro de 2018.

Será a esperança de que o seu candidato efetive as suas expectativas de vida melhor.  Não de uma vida melhor universal, medida por indicadores, mas a sua vida pessoal, familiar e comunitária. A vida melhor onde e que ele vive cotidianamente. Para cada eleitor o Brasil melhor é o que ele conhece e vivencia na realidade. 

O mote é o mesmo, mas a sua percepção é diferenciada. Se Lula é a esperança de uma classe média emergente que submergiu com a crise e tem expectativa de reemergir; se Bolsonaro é a esperança daqueles sob risco da violência urbana, Henrique Meirelles é a esperança dos agentes econômicos que tem expectativa de maiores ou melhores ganhos com uma economia em crescimento sustentável, com estabilidade monetária.

Poderá ter expressiva votação nesse meio, mas esse próprio meio receia que ele não consiga cativar os demais. Com isso não alcançaria os votos suficientes para ser eleito.

A crença dele e dos seus seguidores é que através da comunicação e do marketing político se consiga gerar, difundir e ter aceitação de que ele é o mentor da retomada da economia e garantirá a continuidade do crescimento econômico. Esperam repetir o feito de Fernando Henrique Cardoso que foi eleito na esteira da estabilização da moeda, ainda como Ministro da Fazenda do Presidente Itamar Franco.

As circunstâncias atuais, no entanto, apresentam grandes diferenças em relação ao ambiente de 1984. 

Para o povo inflação é percebida como carestia, refletida na variação dos preços da sua cesta básica, em relação à sua renda. Se ele consegue comprar mais, a sensação é de que a economia vai bem. Ao contrário, se "o salário acaba antes do mês" ou nem salário tem, a economia vai mal. 

A retomada da economia de forma lenta e gradual, com estabilidade monetária, faz com que o impacto das medidas econômicas do Governo fique diluida na percepção da maioria da população. Para essa não há uma figura dominante. Além do mais, a figura do Presidente Temer é altamente impopular, por ter se fixada, perante aquela população, a imagem de um governante corrupto e ilegítimo.

A imagem pessoal de Henrique Meirelles também não o ajuda, dada a sua natural soberba. Simpatia requer humildade, o que não é característica natural. Terá que criar e assumir uma personagem fictícia que não corresponde à sua realidade pessoal e essa falsidade, percebida pelo eleitor gera desconfiança.

Terá que enfrentar outros candidatos mais autênticos. Cada qual com a sua autenticidade que atrai seguidores e gera repulsa dos que não os aceitam. Mas geram confiança. Não são dissimulados. 

Ademais falta a Meirelles um mentor político, com grande capacidade político-eleitoral, que foi Antonio Carlos Magalhães. Temer tem capacidade política para se relacionar com a classe política, mas não com os eleitores.

E ainda não poderá contar com o volume de recursos financeiros que viabilizaram a eleição da personagem criada por Lula, operacionalizada pela própria e por João Santana, chamada Dilma Rousseff. 

(cont)



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