O mais importante do lulismo não é a percepção teórica, feita pelos cientistas políticos, mas a sua percepção e introjeção no imaginário popular ou pela memória coletiva.
O lulismo é uma concepção forte, com um comando pessoal. Mas poderá sobreviver sem Lula?
Lula não só é o grande mentor do lulismo, como sua personalização.
Presente é uma liderança e personalização humana. Fora de cena, por estar preso, morto ou exilado transforma-se em mito. Como candidato recebe os votos deles (lulistas).
Não sendo candidato, ou saindo de cena, o lulismo como concepção e os lulistas, como aderentes da concepção, permanecerão latentes. Para que seja reavivada é necessária o surgimento de uma outra pessoa que encarne a concepção lulista.
A forte personalidade, com o monopolio da força pessoal, individualista e centralizador, Lula não formou, nem permitiu a formação de lulistas. Os candidatos que apoiou, como Dilma e Haddad não são lulotistas em sua concepção, mas personagens em que Lula acreditava que o seriam e o seguiriam.
Fundou o PT, onde surgiram novas lideranças, mas todas petistas. Nenhum lulista.
Os lulistas não vêem em Dilma, em Haddad ou em qualquer outro a configuração de Lula II. É uma manifestação quase religiosa.
O petismo tem origem no lulismo, mas ampliou o seu campo, ao incorporar teses de esquerda e visões mais amplas, cujos enunciados não são tão absorvidos pelos lulistas. A visão desses é simples ou simplista: ascender na vida, como consumidores.
O petismo além do lulismo tem uma grande componente intelectual e moral.
A atenção aos pobres parte da visão da desigualdade social e da defesa pela igualdade. É a grande componente moral da esquerda. O que, na história do mundo, deu margem a grandes imoralidades. Mas o valor da igualdade continua sempre muito forte nas pessoas, na humanidade.
A visão de Lula sobre igualdade está na condição do pobre poder viajar de avião. E o confronto de classe, o incômodo ou até repúdio daqueles de maior renda, ter que viajar em companhia daqueles.
Nada ou pouco a ver com a luta de classes comunista. Em que é preciso aniquilar o inimigo.
Lula apoia o PT e o PT apoia Lula e dá condições institucionais para a sua candidatura. Mas quem tem votos é Lula, não o PT. Sem Lula, o PT fica órfão. E Lula, fora do jogo, sem herdeiro próprio poderia apoiar um petista para ocupar o seu lugar. Mas não é a mesma coisa.
Fernando Haddad, como Jaques Wagner não são lulistas. São petistas. Patrus Ananias estaria mais próximo do lulismo, mas não tem carisma e visibilidade.
Em 2018, o lulismo sem Lula será derrotado. Não conseguirá eleger nem um petista em substituição.
Mas isso não significa o fim do lulismo.
Lula deixará de ser a única referência. Se for e ficar preso, fortalecerá o mito.
A emergência de novas lideranças lulistas não ocorrerá de cima para baixo. Não serão os definidos por Lula. Mas surgirão da base e poderão ser ungidos por Lula.
A emergência poderá ocorrer ainda em 2018 com candidatos a deputados, principalmente federais. Mas poderão envolver também candidatos a deputados estaduais. Dificilmente emergirão das eleições majoritárias (Governador e Senador), mas das eleições proporcionais.
São pouco conhecidos pela opinião publicada, mas estão formando a sua base eleitoral.
E poderão emergir como as novas lideranças lulistas, em 2022 ou em 2026.
O lulismo vai se reinventar. A partir da base.
Já o PT e a esquerda presas aos modelos institucionais e aos paradigmas tradicionais terão maiores dificuldades de se reinventar. E continuarão a sendo caudatórias do lulismo.
(ccont)
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