Exportar para empregar (19) - Toyota na América Latina

Os analistas econômicos de tão viciados que estão em ver apenas a economia brasileira interna, menosprezam a importância relativa da renda externa que entra no país, através das exportações.
Reclamam que as exportações de commodities tem baixo valor agregado, confundido preço unitário por quilo com valor agregado. Começa que a unidade das commodities é tonelada e não quilo. E os produtos manufaturados não são vendidos por peso. 
Reclamam que o Brasil ainda é uma economia muito fechada - no que tem plena razão - e precisa se integrar mais nas cadeias produtivas globais. 
A visão macroeconômica obscurece as ações microeconômicas, isto é, as decisões empresariais das quais resultam - efetivamente - a maior ou menor integração da empresa brasileira (ou a multinacional instalada no Brasil) nas cadeias produtivas globais.
O principal indicador microeconômico é a participação das exportações no total do faturamento da empresa. Para uma integração externa, deve ter pelo menos 30% das suas vendas para o mercado externo.
Mas o mais importante é a definição estratégica da empresa em relação aos seus mercados, tendo o seu organograma como reflexo da estratégia.
Como já escrevemos anteriormente, o principal avanço da exportação de produtos manufaturados brasileiros, que aparece nas contas globais do comércio exterior, é decorrente das mudanças estratégicas e organização das multinacionais automobilísticas, instaladas no país.
A entrevista dada pelo Presidente da Toyota para a América Latina, Steve St Angelo, ao Estado de São Paulo, por ocasião do anúncio de investimento de R$ 1 bilhão para a produção do Yaris no país, explicita - claramente - as novas estratégias da multinacional japonesa, a maior produtora mundial de automóveis.

A primeira consideração importante é que a Toyota criou uma Presidência para a América Latina e Caribe. Steve St Angelo não é um presidente brasileiro. A Toyota Brasil continua tendo o seu Presidente,  Rafael Chang. St Angelo tem sob sua gestão não apenas a Toyota do Brasil, a sua plataforma de produção, mas toda rede de comercialização Toyota na região. 

As suas primeiras declarações é de ampliar as exportações do Corolla brasileiro, no mercado sul-americano, tomando o lugar do Corolla norte-americano. É uma competição dentro do mesmo grupo empresarial. E expandir para todo o mercado latino-americano e do Caribe.

"Quando cheguei ao Brasil, dos 40 paises da região (neste caso a América Latina e Caribe) só vendiamos o Corolla para a Argentina. Todos os demais recebiam o modelo do Mississípi, que fica no meio dos Estados Unidos.... Este ano começamos a exportar para Paraguai, Uruguai e, a partir de janeiro, para a Colômbia. Estamos negociando com outros países. O Etios já estamos mandando para Argentina, Paraguai, Uruguai, Peru, Costa Rica e Honduras."

O que faltou dizer é que não é apenas uma exportação de país para país. É uma entrega interna. É a Toyota do Brasil, entregando Corollas e Etios para a Toyota Argentina, Toyota Paraguaia, Toyota Uruguaia e demais. São as Toyotas já instaladas nesses paises que hoje vendem os carros produzidos no Japão, nos Estados Unidos e outros paises, pela própria Toyota às suas distribuidoras, que usam a rede de "concessionárias" já instaladas. Ou estão sendo ampliadas. Decorrem de decisões e negociações dentro do mesmo grupo empresarial. São as chamadas exportações "intrafirma". Nos EUA o comércio exterior de industrializados é formado em cerca de 70% pelas movimentações intrafirmas. Com a globalização, o comércio internacional não é de país a pais, mas de uma unidade regional a outra, da mesma empresa.

Segundo St Angelo "A crise, de certa forma, foi boa para nós, porque nos forçou a olhar para o que podiamos fazer para sobreviver." E complementa, "Não estou feliz ainda. Só ficarei satisfeito quando conseguir exportar para os 40 paises da região. Até  mesmo para aqueles onde os carros tem direção do lado direito" (são os países do Caribe, não latinos, como as ilhas e territórios ainda sob domínio francês, holandês ou inglês).

A produção do Yaris, que chega ao Brasil, atrasado, não será destinado apenas ao mercado nacional. Será um carro global, concorrendo com o modelo de carro médio da Toyota já produzido na China, em Taiwan, na Tailândia e na França.

Segundo Steve, como é conhecido na companhia, disse saber que não será fácil disputar o mercado externo com outras fábricas da montadora, principalmente a da Tailândia, que é bastante competitiva. (Valor, 26/09/2017, pg B3) 

Sua colocação confirma uma forte concorrência entre as unidades regionais da mesma empresa. O que tem sido confundido como concorrência entre países. Quem exporta ou importa não é o país, mas as empresas sediadas no país.

No lançamento do Yaris os dirigentes da Toyota reiteraram que não fizeram qualquer demissão em massa, durante o período de recessão, não obstante terem feito um amplo programa de redução de custos. Também não adotou o mecanismo de "lay off" ou seja, o afastamento temporário. Teriam hoje, um quadro de 5,8 mil trabalhadores.







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