Exportar para empregar (9)

Se os produtores e comercializadores das commodities tem alguma margem de manobra, retendo estoques ou antecipando vendas, em função das variações da taxa de câmbio, a indústria tem margem de manobra mais restrita. Tem que acertar a venda com bastante antecedência, com tempo, tanto para produzir, como para entregar. E pode ganhar com uma valorização futura ou ser pego no "contra-pé".

Mesmo com o substancial aumento do dólar frente ao real, no ano de 2015, as multinacionais mantiveram uma posição de cautela. Aparentemente esperando pelo desfecho do processo de impeachment da Presidente  Dilma Rousseff.

Supostamente a visão prospectiva era de que caso ela permanecesse no cargo,  voltaria a tentar retomar a estratégia da "nova matriz econômica", como saída para a crise econômica. Reconheceria ter cometido erros. Mas não no seu primeiro mandato, mas no primeiro ano do segundo, quando cedendo às pressões do mercado financeiro, abandonou aquele modelo, para tentar um frustrado ajuste fiscal. Dentro da maior ortodoxia do modelo do "tripê macro econômico".  Isso significaria novos estímulos ao mercado interno, o controle da inflação por contenções tarifárias e das variações cambiais por intervenção no mercado. 

Diante dessa perspectiva as multinacionais, principalmente as do setor automobilístico, assumiram que essa política aqueceria o mercado interno, absorvendo a capacidade instalada. Não precisariam, de imediato, ampliar o seu mercado para o mundo, ou pelo menos para a América Latina. Adiariam a estratégia de ampliação das suas exportações, para 2019, supondo que 2018 e 2019 repetiriam 2014 e 2015. Até 2018 o mercado interno se expandiria, mas em 2019 seria inevitável que o novo Governo voltasse a ter que promover um profundo ajuste fiscal. 

Não estavam errados. A Presidente os dirigentes do PT estariam preparando uma declaração pública - uma espécie de carta aos brasileiros - com esse sentido. Essa é a promessa dela, caso volte, e se isso vier a ocorrer, ela - com a sua contumaz teimosia - tentará mesmo.

O exemplo da Argentina ainda está muito presente. Apesar de todas as críticas e oposição a Presidente Cristina Kirchner manteve uma política econômica populista. Apesar disso, perdeu as eleições e o novo Presidente está promovendo grandes ajustes. 

Podem até não concordar com essa política econômica populista, mas não vão deixar de aproveitar, para manter bons resultados trimestrais. Como querem os acionistas.

Essa seria uma explicação plausível de porque as multinacionais foram lentas na conversão da sua produção voltada para o mercado interno para as exportações. Podem ainda alegar que estavam aguardando os resultados  das eleições na Argentina, no Peru e em outros países. Em ambos o populismo foi derrotado por governos ditos "neoliberais".

Com o andamento do processo de impeachment da Presidente da República, passando pela admissibilidade do julgamento pela Câmara dos Deputados e longas e inúteis depoimentos e discussões na Comissão Especial de Impeachment do Senado, uma vez que a decisão da Comissão já está definida, pela previa declaração de votos dos seus membros, a percepção do mercado, influenciando os dirigentes sediadas no Exterior, das multinacionais, é de que até o final de agosto, a Presidente estará definitivamente afastada. Ela ainda irá recorrer ao Judiciário, mas já inteiramente destituída do cargo. 

Podem estar enganados, e ela consiga o minimo de 27 votos contra, ausentes ou de abstenção, fazendo com que ela seja absolvida e volte ao cargo. Poucos, no mercado, acreditam nessa possibilidade. 

Diante dessa perspectiva estão deixando de ter esperanças em qualquer medida governamental em estimular o consumo interno, através da revitalização do mercado de automóveis. Esse poderá ocorrer, como consequência de uma retomada geral da economia. Mas a indústria automobilística não será o "carro-chefe" desse processo.

Em função dessa perspectiva estariam buscando o mercado externo, com duas conduções ou estratégias diversas:
  • as exportações para o mercado sul-americano e quiçás o latino-americano, que incorpora o México, como um importante mercado são decididos pela direção regional;
  • as exportações supra latino-americanas seriam definidas pela matriz da multinacional.
Os novos organogramas das multinacionais não tem sido mais por país, mas por continente ou subcontinente. Dessa forma as multinacionais tem um Presidente para a América Latina, ou para a América do Sul, ao qual estão subordinados os dirigentes nacionais. Podendo ter ou não um Presidente nacional

Dessa forma a direção regional teria a atribuição e competência para alocar e promover as comercializações intracontinentais.  Ou seja, o Presidente para a América Latina teria o poder de promover a exportação de carros brasileiros para a subsidiária chilena. Ou adotar a alternativa argentina ou mexicana. Levando em contra os custos e os acordos comerciais entre os países. O que vai interferir nos preços para o consumidor. Marca e qualidade decorrem de decisões internas no âmbito da multinacional.

 Recente notícias sobre mudanças no quadro diretivo da Volkswagen ("Presidente da Volks no país assume toda região" - Valor de 15/06/2016 - B4) diz que o Presidente da Volkwagen do Brasil vai acumular os negócios na América do Sul, América Central e Caribe, como parte da nova estrutura da montadora na região. Em nota, a Volkswagen informou que a marca está "progredindo conforme o planejado com a sua estratégia de regionalização"). 

Isso significa que o México será uma unidade a parte. Organização similar é da FCA - Fiat Chrysler Automobiles, cuja divisão América Latina não inclui o México, uma outra unidade. 

 

  

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