Exportar para empregar (13) - Plataforma de exportação

A indústria automobilística na Brasil parece ter acordado, depois de vários meses seguidos de queda nas vendas. E com a percepção de que mesmo com a recuperação econômica, não voltarão a vender, no mercado interno, o que venderam no pico de 2013-2014.

Primeiro foi o presidente da Fiat-Chrysler Automotive na América Latina, Stefan Ketter, em entrevista ao Estado de São Paulo, publicada em 04/09/2016: "Subsídios criam só crescimento artificial, diz Presidente da Fiat Chrysler".  Uma semana, com o mesmo teor, o presidente da Mercedes Benz do Brasil, Philipp Schiemer, nas paginas amarelas da Veja, edição de 14 de setembro de 2016, contra o modelo de subsídios: "Risco de Extinção".

É uma percepção tardia de que o consumo interno foi sustentado por medidas artificiais de subsídios, com o Governo Federal usando a indústria automobilista como a alavanca para aquela sustentação.

Não estaria mais disposta a se prestar a esse papel, que acabou trazendo consequências danosas ao mercado e à própria indústria. Dai a proposta de acabar com a política de incentivos que a beneficiou.

A indústria automobilística ajudou a criar a ilusão de que o mercado brasileiro era enorme e auto-sustentado, quando, na realidade, era estimulado artificialmente por medidas governamentais.

Quando a fonte foi se esgotando, as medidas foram postergadas mediante "pedaladas", em função das eleições. Quando nem essas puderam ser mantidas, adveio o "grande baque" e a demanda interna seguiu - posteriormente - ladeira abaixo, com alguma frenagem e sem motor para retomar para reverter a direção.

As medidas propostas foram todas artificiais - "mais do mesmo", sem focar o essencial: a indústria automobilística no Brasil, precisava se libertar da "escravidão da demanda interna" e ampliar o seu mercado.

Desde 2015 vimos - sem sucesso - defendendo essa ampliação, sob o lema "exportar para empregar". Este post já é o décimo terceiro com o mesmo título.

As duas manifestações citadas indicam que o tema chegou à pauta do setor e irá ensejar muitas discussões até a efetivação de um novo modelo de negócio para aquele setor.

O novo modelo de negócio da indústria automobilística no Brasil deverá ter como pilar principal, a sua conversão em "plataforma de exportação" voltada, principalmente para o mercado latino-americano, mas buscando a extensão para todo o continente americano e para todo o continente africano.

Deverá se inserir no contexto do novo modelo de negócios do Brasil, que terá como principal sustentação o agronegócio voltado para o mercado externo, captando renda e investimento para o desenvolvimento do mercado interno. A indústria, para sobreviver, terá que ser mais integrada mundialmente. Mas aproveitando a mudança do modelo global da indústria automobilística, caracterizando-se pela descentralização e regionalização continental.

Já anotamos aqui que as multinacionais estão criando ou reforçando as suas direções latino-americanas e tratando o mercado latino-americano como uma unidade de negócio. Não mais restrita ao mercado brasileiro.

O tema agora está em pauta, porém enviesada, por contaminação com os paradigmas do modelo atual que precisam ser superados.

A principal alegação da indústria é que a economia brasileira é ainda muito fechada. Não é mais tanto, quando considerados os instrumentos principais e mais tradicionais que são as tarifas alfandegárias. O problema está na burocracia, essa sim, tomada pela visão "nacionalista" de equivocada defesa da indústria nacional. Mais precisamente da produção nacional, mesmo quando realizada por multinacionais. Supostamente em defesa do emprego nacional. E em função dessa visão míope criar grandes embaraços às importações.

E ainda resiste a concepção do "conteúdo nacional", sob diversas formas. Mas todas requerendo complexos controles burocráticos.

Embora não seja a tônica do setor é ainda o da mídia que dá maior destaque a esse tema do que o da "plataforma de exportação". Esta característica é ainda rejeitada pela mídia. Supostamente, por representar o pensamento da sociedade, ou pelo menos dos leitores e espectadores.

O novo modelo de negócios da indústria automobilística no Brasil - já em implantação - tem por base o mercado latino-americano, com produtos mundiais adaptados às condições latino-americanas e com livre mercado continental, para exportações e importações.

E ainda fluxo externo equilibrado, com suporte em acordo bilaterais ou multilaterais, com os demais países do mundo.

Para exportar mais é preciso importar mais.

A visão da indústria é ainda o de importar, para poder exportar. O esforço de importação viria antes do da exportação. É preciso inverter a ordem da equação.

O novo modelo de negócio já está em andamento, como já mostramos aqui, em vários artigos anteriores, porém ainda não havia entrado na pauta das reivindicações do setor.

Essa sempre foi tomada pelas medidas e apoio e proteção estatal. A grande mudança que as entrevistas acima citadas trazem é o abandono da pauta anterior.

E passar a discutir, objetivamente, as medidas para viabilizar o papel da indústria no Brasil como o "hub" do mercado latino-americano.

(cont)







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