Estouro das bombas

Os parlamentares, congressistas também caracterizados simplesmente como políticos não são de Brasília, são do Brasil, eleitos - estadualmente - por todo o Brasil. E tem que prestar contas não só à sociedade organizada, mas também ao seu eleitorado que o elege. Se não fizer isso, não se reelege.
Foi dentro dessa visão "minúscula" que Renan Calheiros foi dormir tranquilo com a pouca adesão do povo das Alagoas, ao movimento "Fora Renan". E aqui registrei a percepção.
Ao estabelecer uma disputa com o Judiciário, o campo do confronto, ocorre - plenamente - em Brasília, fortemente afetado pela movimentação nas grandes capitais.
Tanto quando os parlamentares, os juizes das instâncias superiores do Judiciário "estão" em Brasília, oriundos de diversos Estados. Gilmar Mendes é uma das poucas exceções, com toda uma vida educacional e profissional em Brasília. Celso de Mello, o decano, é um interiorano de Tatui, São Paulo. Levandowski também é de São Paulo, mas da Região Metropolitana. Fux e Barroso são do Rio de Janeiro. Rosa Weber, do Rio Grande do Sul. A Presidente Carmem Lúcia é mineira nordestina. Cada qual vem de um Estado e Marco Aurélio Mello, embora nascido e criado no Rio de Janeiro, tem origens familiares em Alagoas, sendo primo do ex-Presidente Fernando Collor de Mello, que o nomeou.
Uma vez magistrado se tornam nacionais, mantendo apenas vínculos familiares, de amizade, e em alguns casos até patrimoniais, mas não dependem da sociedade de origem. Não dependem de serem eleitos, indicados ou apoiados pelas sociedades regionais. Ficam mais sensíveis aos movimentos nacionais que se concentram nas grandes capitais e são difundidos pela mídia.
O Juiz do STF, Marco Aurélio Mello, acatou liminarmente representação do partido Rede, e afastou Renan Calheiros da Presidência do Senado. Atendeu aos pleitos dos movimentos de rua de 4 de dezembro, que pediram em uníssono "Fora Renan".

Renan, dificilmente voltará à Presidencia do Senado. Poderá recorrer, mas na fase liminar não terá voto favorável. A Presidente do STF poderá acelerar o julgamento coletivo, mas nas turmas ou no pleno, Renan não conta com maioria. Só pode contar com eventual falha processual, para retornar ainda em dezembro.

Janeiro é mês de férias forenses e no começo de fevereiro há nova eleição para a Presidência do Senado. Que será assumida - provavelmente - por um senador peemedebista, que não esteja na "Lista da Odebrecht". 

Renan seguirá ainda como Senador, com influência política, ainda que enfraquecida e sem o poder institucional. 

"Fora Renan" é página virada, mas o livro ainda continua. Diversamente, ainda, da situação de Eduardo Cunha. Perdeu a Presidência, o mandato e está preso. O processo de Renan, ainda está no começo. Mas dificilmente irá renunciar. Se o fizer, sabe que o seu domicilio seguinte será Curitiba. 

Virada a página, o próximo capítulo é curto. Jorge Viana do PT, assume a Presidência, só tem mandado até fevereiro de 2017 e não será reeleito, tampouco dará lugar a outro petista. 

Cai, no meio de um incêndio, podendo ampliá-lo ou tentar conter o fogo. Apagar não vai conseguir.

Assume com dois "pepinos" ou "abacaxis" para descascar. O projeto anti-corrupção que se transformou em projeto de abuso de autoridade e a PEC 55 que determina o teto de gastos. 

O PT é a favor do primeiro, mas não vai querer afrontar a sociedade organizada, neste momento. Para ele a solução é simples. Dá andamento normal, sem pedido de urgência. Manda para a Comissão de Justiça e o projeto só voltará a plenário, após o recesso, quando não será mais Presidente. 

A tendência mais forte, no momento, é que o projeto tenha curso normal, para ser aprovado, porém com emendas, principalmente a proposta pelo Juiz Sérgio Moro. A sociedade organizada pressionará para o restabelecimento das propostas originais. 
Com isso, terá que voltar à Câmara dos Deputados.

Até lá, vale a legislação atual.

O dilema maior de Jorge Viana é a PEC 55, já aprovada em primeira votação e com a segunda agendada para o dia 13 de dezembro. 

O Governo tem pressa na sua aprovação definitiva e pressionará por isso. Mobilizará a sua base aliada e tentará negociar com o novo Presidente do Senado, para que ele não adie a votação.

O PT quer adiar a votação, dividido. Em função da mobilização feita entre os movimentos sociais, uma facção quer a rejeição completa. Outra só quer incluir emendas. Mas ambas querem postergar, para marcar posição. Jorge Viana estará sob imensa pressão, de todos os lados. 

E o povo? Voltará às ruas? Se for, será contra ou a favor da PEC 55?

E a economia? Se a PEC 55 for aprovada, pode ficar como está. Se não for aprovada, vai afundar ainda mais. 



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