Esquerdas e direitas ladras

Entre uma esquerda ladra e uma direita, também ladra, os jovens e também muitos não tão jovens, preferem a primeira. Gostariam de ficar com uma esquerda não ladra, mais honesta. Mas confiam ser mais viável sanear a esquerda do que entregar o poder à direita que, a seu ver, continuará roubando até mesmo para não dar nova oportunidade à esquerda. 

A perspectiva da direita ladra assumir o poder, desalojando a esquerda é a principal motivação dos que ainda a defendem, opondo-se ao impeachment de Dilma. Para perdoar a ladroagem da esquerda precisam acreditar piamente que os adversários de Lula, Dilma e do PT também roubaram  e muito mais. E que isso não é reconhecido pela sociedade porque há uma conspiração, que inclui  a participação do Ministério Público e da Justiça para investigar apenas os crimes do PT, ignorando as do PSDB e de outros. Sem ter acesso à grande mídia, partícipe da conspiração, usa a rede social para difundir os "mal-feitos" dos adversários. Que, na sua maior parte, ocorreram efetivamente. 

Essa visão de conspiração contra o PT e seu ideário seria o principal fundamento das posições dos jovens engajados contra o impeachment. Mas -  aparentemente - a maioria "não está nem ai", porque acha que não vai mudar nada. Então não vale a pena o esforço, tampouco as brigas com amigos. Não torcem para lado algum. 

Para se defender e contratacar os petistas apelaram para uma visão religiosa, de um Estado de Direito e de Democracia próprias que tem como base a imutabilidade do resultado eleitoral de 2014. Segundo essa visão, democracia é, acima de tudo, o respeito pela vontade popular manifestada nas urnas em outubro de 2014. Qualquer tentativa de alterar esse resultado ou não cumprí-la inteiramente - como a interrupção do mandato da Presidente - é vista, aceita e assumida como um golpe de Estado, um golpe contra a democracia. A partir dessa crença e devoção os petistas (no sentido amplo) vão às ruas ou se organizam em movimentos de resistência contra os querem derrubar a Presidente. Como ocorreu ontem na Câmara dos Deputados, quando um grupo de manifestantes tentou impedir a entrega e o protocolamento do pedido de impeachment formiulado pela OAB. 

Do ponto de vista da democracia formal (ou universalmente aceita) foi um ato antidemocrático, tentando obstar uma ação legítima de uma entidade da sociedade civil, com importante imagem histórica de defesa da democracia e do Estado de Direito, tendo sido parceira do PT em muitas lutas anteriores. Mas ao se posicionar pelo impeachment da Presidente, tornou-se perante a doutrina petista traidora, antidemocrática e golpista. Ou adepta do golpismo, engendrado pela direita.  

Segundo a doutrina religiosa petista, a esquerda é sempre boa e democrática, mesmo que para a sua defesa precise adotar - excepcionalmente - ações antidemocráticas. Essas ações seriam necessárias para assegurar a própria democracia. E por ser um doutrina religiosa a democracia petista torna-se um dogma. 

E não se trata de uma questão de educação formal. Pelas imagens mostradas pela televisão, os resistentes eram advogados, portanto com nível universitário. E tiveram o apoio de funcionários que, se não tem nível superior tem - pelo menos - nível médio. Em linguagem popular não eram "mortadelas", mas classe média informada e até mesmo integrantes da elite brasileira. E o comportamento também não condiz com educação.

Mas na defesa dos seus dogmas, tudo passa a ser aceito e tolerado, pelos seus.E gera reações, também pouco educadas, dos oponentes. Cria-se e desenvolve-se um clima de batalhas civis.

Na defesa dos dogmas captura o Estado de Direito, assumindo-se como seu defensor acima do Poder Judiciário. Mas de forma parcial. Aceita e até aplaude eventuais ou supostos excessos do grupo de Curitiba, quando praticados contra seus oponentes, como ocorreu com a divulgação de um depoimento que envolvia o deputado Eduardo Cunha. Põe-se contra quando praticados contra os seus. 

Os eventuais excessos do Juiz Sérgio Moro foram objeto de admoestação pública  da instância superior que ademais, procurou sanear o processo, com a remessa dos autos que envolvem pessoas com direito a foro especial  ao STF e confirmação de que a competência para a divisão ou fatiamento dos processos é do Supremo e não do juiz de primeira instância.

Porém os petistas não se conformam com a reordenação feita pelo Poder Competente e se colocam contra ela. O que tem sido visto, cada vez mais, pelos membros da corporação como uma ofensa ao Judiciário. Mas assumido o dogma, os petistas não recuam e mantém o discurso da defesa do Estado de Direito. Que não é o vigente pela Constituição e leis do país, mas o da sua visão. Não pode ser aplicado aos seus. 

É um comportamento de torcida. O juiz pode dar um pênalti inexistente a favor do seu time. Mas incorre em erro capital se o fizer contra o seu time. Não vai deixar de xingar o juiz imparcial de "juiz ladrão".

O petista, como torcedor é um "corintiano". É fiel, na alegria e na tristeza. Nas vitórias e nas derrotas. O seu lema é "eu nunca vou te abandonar". É um incompreendido pelos não corintianos. Mas é uma realidade. E irão aos estádios e às ruas para defender a sua camisa.



 










  



 

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