Esquerda, direita e centro: ficções políticas

O quadro político brasileiro começa o ano de 2018, com as mesmas ficções e equívocos anteriores.
Supostamente, as pontas políticas teriam candidatos definidos e o centro político está à busca de um candidato viável eleitoralmente. 

A divisão ideológica existe na cabeça dos acadêmicos, das cúpulas políticas e de grande parte da opinião publicada, influenciada por aqueles. 

Não correspondem aos corações e mentes da maioria dos eleitores brasileiros. Para os quais esquerda ou direita não fazem parte do seu cotidiano, tampouco da chamada "visão de mundo".

A maioria da população brasileira quer um Estado maior, mas com atuações diferenciadas.

A suposta população de esquerda, que abrange aqueles de menor renda, não tem posições ideológicas. Ela quer a melhor prestação de serviços públicos pelo Estado e gratuitas. 

Os governos petistas acenaram com a possibilidade dessa população ascender economicamente e com isso ter acesso às alternativas privadas, principalmente nas atividades educacionais, saude e atendimento sócio-familiar. Principalmente creches, dentro das mudanças de maior participação das mulheres no mercado de trabalho.

Foi um momento de esperanças que ruiu ainda no governo Dilma, mas o PT bem manobra para tentar caracterizar que o desmoronamento é causa exclusiva do Governo Temer, após o golpe da destituição da ex-presidenta. 

Lula é o grande mentor dessa mensagem e promete dar a essa população as mesmas condições e esperanças do "seu tempo". Para a opinião publicada é o candidato da esquerda.

"Todo mundo" sabe que ele será condenado, mas poderá concorrer protegido por liminares. 

Já os seus potenciais eleitores ficarão na dúvida entre apostar na esperança ou não desperdiçar o seu voto. Votar em Lula poderá ser ato inútil, que interessa ao partido, mas nenhum benefício traz para o eleitor mais pobre. 

Lula, candidato sob judice, não terá votos suficientes para chegar ao segundo turno. Só ajudará o dito candidato da direita, que poderá concentrar os votos dos que tem medo de Lula. 

Bolsonaro, considerado como candidato da direita, mira o mesmo eleitorado de Lula: as pessoas de menor renda, com o mesmo discurso básico de um Estado mais forte, mas voltado prioritariamente para o combate à violência. E um Estado, livre de corrupção. 

Nesta dimensão tem um apoio maior, inclusive de importantes segmentos da classe média. A elite prefere-se refugiar em "guetos condominiais" e a buscar a segurança privada. Incluindo a possibilidade mais ampla e menos regulada de ser armar, para se defender.

Mas Bolsonaro adere a concepções culturais, consideradas pela opinião publicada, como incorretas e atrasadas. Mas que ainda são dominantes nas classes de renda mais baixa, difundidas pelas igrejas evangélicas. 

Segundo as classificações acadêmicas os movimentos evangélicos seriam politicamente de direita, mas a sua principal penetração eleitoral está nos redutos considerados de esquerda. 

A divisão ideológica política não corresponde à divisão de concepção do eleitorado.

O dito centro político ainda está à busca de um candidato eleitoralmente viável, o que não existe. Pode ser uma busca inútil, porque o "centro político" não existe eleitoralmente.  

O centro político tem por foco a macroeconomia e a gestão fiscal. O eleitorado não se sensibiliza com indicadores macroeconômicos, assunto só para os iniciados. O eleitorado quer saber de pagar menos impostos, ter melhores serviços públicos e não ter carestia. 

Isto é viável, mas pode ser proposto e até executado por medidas populistas, como fez o PT, ou por medidas mais responsáveis e sustentáveis. 

Candidatos com proposições populistas existem aos borbotões de todas as matizes ideológicas e visões de mundo. 

Candidatos com soluções responsáveis, além de poucos, não tem viabilidade eleitoral. 

(cont)

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