Economia criativa: grandes esperanças e ilusões

O Jornal "O Estado de São Paulo" promoveu um evento sobre Economia Criativa, referindo-se a um estudo da PwC que estima um volume de US$ 844 milhões do setor no Brasil até 2018. No mundo alcançaria U$ 89 bilhões.
Há uma grande confusão entre as atividades que compõe o setororga, misturando atividades criativas associadas a grandes investimentos e outras baseadas essencialmente na atividade criativa das pessoas.
Está muito associada às tecnologias da informação e à arte, deixando de lado todo um conjunto de atividades científicas ou técnicas fora da tecnologia da informação. A economia criativa nem sempre é associada à inovação tecnológica.
A gestão de empresas desenvolveu várias inovações ao longo dos das últimas 4 décadas, porém a atividade de consultoria em planejamento estratégico ou em organização por processos não é reconhecida como parte da economia criativa, embora sejam eminentemente produtos da criação e da aplicação do conhecimento humano na prestação de serviços.
Situação semelhante é da atividade de projeto em engenharia. O projeto de arquitetura é reconhecido como segmento da economia criativa. O de engenharia não. Provavelmente porque o projeto de arquitetura envolva mais aspectos estéticos. O que a aproximaria mais da arte do que da ciência.

Duas questões são importantes para avaliar a importância econômica do setor: o tamanho da demanda nacional e a competitividade da produção nacional no mercado internacional.

A maior parte da demanda visível da economia criativa é de pessoas físicas: serviços culturais, assim como aplicativos para computadores e smartphone são consumidos por pessoas físicas.

No entanto, se incluirmos o desenvolvimento de softwares corporativos, a predominância será de empresas, de pessoas jurídicas.

Nesse sentido há direções opostas entre as atividades do setor, não obstante um certo clima de euforia de líderes ou porta vozes do setor, com o seu crescimento estatístico.

A indústria do entretenimento não pode ter crescido o que eles apontam, indo na contramão da crise geral. Se o consumidor está gastando menos porque está desempregado ou com medo do desemprego, porque estaria gastando mais com entretenimento? Seria "pão e circo"? Ou essa indústria está voltada para a classe rica, a classe dos rentistas que vivem de juro e continuam bem ou até cada vez melhores?

A visão otimista da economia criativa no seu segmento cultural não é sustentável. Mas cabe avaliaros  melhor.

Já as atividades de desenvolvimento de aplicativos corporativos podem estar crescendo pela necessidade das empresas em reduzir custos, ganhar mais competitividade. Mas não temos comprovação.

Não obstante as duvidas acima lançadas e objeções às previsões excessivamente otimistas, há efetivamente um grande potencial de desenvolvimento do setor, que precisam ser melhor percebidas e avaliadas.

Uma primeira colocação é ver a existência de duas grandes escalas dentro do setor. De um lado a grandes empresas geradoras ou promotoras da atividade cultural de entretenimento. De outro as start-ups, os artistas independentes ou alternativos que entre milhões despontam como celebridades. Ganham espaço na mídia especializada, mas tem pouca representatividade econômica no conjunto do PIB.

A principal empresa do setor da produção para entretenimento é a Rede Globo. O que é contestado pelo segmento de vanguarda.

Na era petista este último capturou a máquina estatal para a sua sustentação e desenvolvimento. Mas para isso teve que se compor com as grandes corporações financiadoras dos eventos. Essas aproveitaram para incorporar a indústria cultural no seu marketing, distorcendo os objetivos pretendidos pelas políticas públicas.

A economia criativa tem grande potencial de desenvolvimento, mas precisa enfrentar com realismo os seus desafios. Principalmente os de natureza ideológica. Será ou não um segmento da economia capitalista? Até que ponto a tentativa de criar uma economia criativa contestadora do modelo capitalista vigente terá sustentação?







Nenhum comentário:

Postar um comentário

Lula, meio livre

Lula está jurídica e politicamente livre, mas não como ele e o PT desejam. Ele não está condenado, mas tampouco inocentado. Ele não está jul...