Com um placar lógico, mas não esperado, com a vitória insofismável, do sim ao impeachment de Dilma Rousseff, o processo sai das mãos de Eduardo Cunha e passa às de Renan Calheiros.
O que o deixa de "saia justa".
Ao contrário de Eduardo Cunha, inimigo declarado de Dilma Rousseff e que, por isso, acelerou o andamento do processo Renan Calheiros é tido como aliado do Palácio do Planalto e pode adotar a "Operação Padrão" usando todos os prazos no seu limite, para retardar a decisão de afastamento da Presidente. E pode ainda manobrar para uma decisão final favorável à Presidente atual.
Já vem enfrentando pressões dos colegas e do partido para acelerar o processo e reduzir o tempo do vácuo de governabilidade, com a Presidente, com "aviso prévio" e o seu substituto na expectativa da decisão do plenário do Senado, por maioria simples, ou seja, 50% mais um dos presentes.
A pressão decorre da situação econômica precária, requerendo a governabilidade, embora haja elementos que poderão promover - de imediato - a retomada das atividades.
A pergunta principal é "o que Renan ganha, retardando o processo"? Ou complementarmente, o que ele ganha acelerando o processo? Poderá se tentar responder em termos do que o país ganha ou perde. Mas, evidentemente, não é essa a questão que moverá as decisões e ações de Renan Calheiros. Ele é movido pelos seus interesses pessoais, que vão aquém dos do país e mesmo do partido.
Ele é do PMDB, o mesmo partido de Temer, mas tem uma luta interna, dentro do partido, com o atual Vice-Presidente. Agora que o partido afinal chega à presidência, a disputa é pelo poder dentro dele.
Renan não gostaria de fortalecer o grupo de Temer, dentro do partido, mas diante das circunstâncias está em desvantagem. Cedo ou tarde Temer irá assumir a Presidência, ainda que temporariamente. Ele mesmo já afirmou que no Senado o processo corre com pernas próprias.
Mas há uma possibilidade que ele não pode descartar. Se a chapa eleita em 2014 tiver o seu registro cassado, Dilma e Temer são destituidos e Eduardo Cunha, assumiria a Presidência, para marcar uma eleição em 90 dias. Mas como Eduardo Cunha, já é réu em processo no STF, pode ser alcançado por decisão desse STF, impedindo a sua ocupação da Presidência da República. Nesse caso, o cargo seria assumido pelo Presidente do Senado. Por ele, Renan Calheiros. Se ocorrer até o início de 2017.
Então, o eventual retardamento seria em função do calendário do julgamento pelo TSE. Se estiver na iminência de uma decisão judicial, o retardamento faria sentido. Se a perspectiva dessa decisão for para 2017, como se afigura atualmente, não lhe interessa diretamente, porque em 2017 ele não será mais o Presidente do Senado. Tampouco Eduardo Cunha. E cessará o impedimento para que o Presidente da Câmara assuma a Presidência da República, para comandar uma eleição indireta.
Por outro lado, Renan Calheiros é por índole, um governista. Estará sempre do lado do governo. A sua vocação não é ser oposicionista.
Se Dilma é afastada e Temer assume, dificilmente ele será oposição a Temer. E se retardar o processo correrá o risco de retaliação política. Ainda que sutil. O alvo será o seu filho, atual Governador de Alagoas.
Temer é uma pessoa educada, mas da velha estirpe política em que a regra básica é "para os amigos tudo, para os inimigos o rigor da lei". Se Renan não for amigo, estará sujeito aos rigores da lei.
Com a aprovação da admissibilidade do impeachment, Temer tem pressa em assumir, e se Renan retardar o processo corre o risco de não ser amigo do novo rei.
Como velhos companheiros de partido, a tendência é de negociação. E ai a pergunta é "o que Renan vai pedir em troca de acelerar o processo, ou pelo menos, não retardar o processo de afastamento temporário da Presidente?
O afastamento definitivo é outra questão.
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