Comprar ou locar? (2)

O sentimento de posse de uma moradia é ainda muito forte na sociedade brasileira.

De uma parte vem de uma cultura ibérica, com a sensação ou percepção de maior segurança do investimentos em bens físicos duráveis do que em investimentos financeiros.

Ademais os investimentos em terras ou em imóveis sempre foram mais rentáveis do que os demais. A valorização imobiliária sempre superou a dos investimentos financeiros, a menos de crises conjunturais, até então sempre curtas.

Para os que não dispõem de excedentes de renda para investir transformar parte da sua parca renda, gasta com aluguéis em investimento gera uma sensação de segurança: da garantia de ter um lugar para morar. De não ficar sujeitos a serem despejados, em eventuais crises financeiras.

Como o investimento na casa própria é muito elevado em relação à renda mensal, os Governos acabam por intervir promovendo financiamentos a prazos mais longos e juros menores. Nos casos em que nem isso é suficiente, criam subsídios diretos, o que não se sustenta ao longo do tempo, sem acelerado crescimento econômico. Enquanto a demanda cresce, a disponibilidade de recursos públicos decai, gerando a crise fiscal.

Vencer essa cultura de posse da moradia própria nas famílias de menor renda será demorada ou  infinita.

Só será superada quando as pessoas de maior renda, mudarem os seus paradigmas e, pelo conjunto, provocarem uma mudança cultural.

Esse processo já está ocorrendo, mas - aparentemente - em pequena escala, movida por novos paradigmas, das novas gerações. São de maior diversidade e flexibilidade.

A principal mudança ocorre com a emergência da geração dos millennials, ou geração y, que, em geral, nasceu na última década do século XX, isto é, a partir de 1990 e já foi educada com a presença da internet, do computador pessoal e da telefonia celular. Vivendo num mundo cada vez mais globalizado, em que acompanhar o que ocorre no mundo, no momento em que está ocorrendo se tornou corriqueiro e banal.

Dois elementos caracterizam esses jovens de classe média tradicional e rica: a busca de uma carreira profissional continuada, mas não na mesma empresa e o desapego com a posse de bens materiais tradicionais: o carro e a casa.

Já chegaram ao mercado de trabalho, dentro do ambiente da 4ª Revolução Industrial, com a prevalência dos serviços sobre os bens materiais.

E agora, em 2016, já dispõe de uma ampla rede de serviços de taxi compartilhados, acessível pelo celular. Já começa a surgir as frotas de automóveis compartilhados, com as montadoras tradicionais percebendo que precisam se tornar prestadoras de serviços e não apenas fabricantes de automóveis. Nas comunicações o aparelho da telefonia celular é apenas uma ferramenta para o uso de serviços. Os fabricantes de computadores já se transformaram em prestadoras de serviços.

O mundo em que vivem é o de serviços e não de bens duráveis. Eles querem usufruir de bons serviços. E percebem que para isso não precisam ter a posse dos bens que dão suporte aos mesmos. Ele quer bons serviços de transporte. Não de propriedade do carro.

O maior foco de resistência é ainda a moradia. O mercado ainda não oferece muitas alternativas de serviços de moradia de média duração.

A visão é ainda tradicional: é de locação do imóvel. Essa será a modalidade básica, mas requer um serviço mais avançado, mais inovador percebido como um Airbnb de locação para médio prazo.

Esse serviço foi tentado com o modelo de flat, que não se desenvolveu, seja pela reação da concorrência, que atuou sobre o Poder Público, para estabelecer regulamentações restritivas, como por não estar conectada com as tecnologias digitais, então ainda incipientes.

O modelo básico é o do flat, mas repaginado.

O que falta é um empreendedor inovador para efetivar essa repaginação ou criar um novo serviço.

(cont)










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