Cenários dos próximos passos (6)

Os trabalhadores assalariados.

Os trabalhadores assalariados, quer dizer, os regulados pela CLT (celetistas) foram a base inicial da formação do PT e da liderança da Lula. 

Na primeira tentativa de conquista do poder, tiveram a ilusão de que "trabalhador vota em trabalhador" e colheram um grande fracasso.

Na disputa com Collor, os trabalhadores não celetistas, cooptados por elle, foram mais importante que os celetistas e Lula foi derrotado. O PT foi buscar esse eleitorado e alcançou o poder em 2002.

Os trabalhadores celetistas perderam a coesão, dos tempos da árduas lutas, nas ruas e nas portas das fábricas, com as melhorias alcançadas durante o Governo Lula: houve um sucessivo crescimento do contingente, com a criação de milhares de vagas a cada ano. Também se enfraqueceram pelo abandono da luta sindical de muitos líderes que  se aninharam em cargos públicos, com elevados salários, em relação ao seu padrão como empregados celetistas. 

Um dos resultados mais visíveis foi a redução gradativa da bancada sindical no Congresso. Na Câmara dos Deputados não chegam a 10 os deputados lideres sindicais, sendo que muitos nem se declaram mais operários ou sindicalistas. No Senado Federal, remanesce apenas Paulo Paim. 

Os sindicatos e suas lideranças perderam a combatividade, acomodados com as receitas do "imposto sindical". As quais ainda financiam as mobilizações, através da "condução e lanche", com parte dos participantes sem ter a noção de em função do que estão indo às ruas.

Os sindicatos perderam a condição de mobilizar e liderar os trabalhadores celetistas, de tal forma que eles vão votar segundo os seus interesses, suas visões, seus princípios e não segundo a determinação das lideranças sindicais. 

Portanto, o que precisa ser avaliado é o que pesará na decisão dos trabalhadores assalariados (atuais ou potenciais) na hora do voto.

Um primeiro e importante grupo é dos aspirantes que podem ser desempregados, trabalhadores por conta própria e entrantes (no mercado de trabalho). Ter um emprego com carteira ainda é uma grande aspiração, com a visão de ter uma renda mensal fixa, assegurada e ainda benefícios como férias, 13º salário e outros. Mas é cada vez maior o volume de trabalhadores que prefere trabalhar por conta própria, com a visão (correta ou não) de um rendimento maior, sem descontos.

Os aspirantes mais antigos guardam uma noção de que no tempo de Lula o mercado era melhor e, com a volta dele, haverá mais oportunidades. E isso é confirmado pelos grandes números. Já os entrantes não tem a mesma memória, porque não viveram (a menos como crianças) "o tempo de Lula". A base será a crença no futuro, sem ligações com o passado. O seu voto decorrerá da confiança na aceitação das promessas em relação às perspectivas do mercado de trabalho. Seja de Lula, como dos demais, pois todos prometerão a mesma coisa: mais empregos. Não ha nenhum vínculo de fidelidade, em função do passado.

Para os já assalariados, a questão principal está na reforma trabalhista, denunciada por Lula, pelo PT e partidos associados, com determinadora de "perda de direitos" e "precarização do trabalho".

Sem dúvida haverá a perda de alguns benefícios, que por serem praticados há tempos, será percebida por os trabalhadores beneficiados como "perda de direitos", como a remuneração "in itinere", horas extras por permanência na empresa, além do expediente ou dos horários normais, ainda que por razões pessoais e outros benefícios/direitos. Afetam apenas uma parte dos trabalhadores.

A precarização do trabalho é caracterizada por redução de remuneração, com a perda do emprego e sua recontratação no mercado por uma remuneração menor. Ou ainda, a sua substituição promovida pelo  empregador, por um trabalhador com menor remuneração. 

Para o desempregado que encontra um emprego, mesmo sabendo que receberá menos que o seu antecessor, é um ganho. Precarização, para ele, é ficar sem emprego e sem renda. 

As lideranças sindicais e os partidos de esquerda insistirão na tese da "precarização" e do seu agravamento com a reforma trabalhista, incluindo a liberação da terceirização, com base em estatísticas. 

E Lula promete reverter as mudanças, revogando a reforma trabalhista e a terceirização, apesar de saber que depende do Congresso. E mesmo eleito, poderá não ter o apoio suficiente no Congresso. As suas promessas, nem sempre são realistas, mas isso não lhe importa.  O que importa é a sua aceitação pelo eleitorado.

Uma coisa é certa. Ele não tem mais a fidelidade, a unanimidade. Ele não terá os votos dos trabalhadores assalariados, porque ele é o Lula, o líder sindical, o "defensor dos trabalhadores".

Os trabalhadores poderão votar nele, mas por razões próprias. E por essas razões poderão votar em outro candidato.

Essas razões dependerão das circunstâncias, do ambiente real no segundo semestre de 2018. Se os níveis de desemprego continuarem caindo e houver maiores oportunidades e rapidez em obter um emprego os discursos de Lula terão menos aceitação. 

O trabalhador não irá se interessar, muito menos se mobilizar para revogação da reforma trabalhista. E alguns irão defender a sua manutenção, dentro da versão de que contribui para aumentar as oportunidades de emprego. O que será defendido pelos adversários Lula.

Em síntese. Com a quebra da fidelidade a Lula, os votos dos trabalhadores assalariados dependerão mais do ambiente do mercado de trabalho do que dos discursos, sejam dos candidatos como das lideranças sindicais.

O mais provável é uma grande dispersão dos votos. 

(cont)


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