Brasil x México

Uma vitória de 3 x 0 sobre a Argentina, no palco do fatídico  7x1 da Alemanha, dá um alívio à maioria dos brasileiros que carregam o peso da "grande vergonha nacional", transferindo a depressão a "los Hermanos".

Porém a grande batalha latino-americana é outra e envolve duas questões: Brasil x México e o posicionamento  do Brasil em relação aos demais países latino-americanos.

O Brasil ainda se acha o maior país da América Latina. Continua sendo em extensão territorial e deverá continuar com essa condição durante muito tempo. O seu único risco - agora afastado - dos EUA se tornarem um país latino-americano. Mas, economicamente, hà algum tempo, não é mais perdendo a liderança para o México.

A economia mexicana é muito dependente dos EUA e sua evolução é plenamente afetada pelas políticas norte-americanas.

Ainda que sem precisão de datas, podem ser caracterizadas algumas grandes fases:

"El problema és que estamos mui cerca de los EUA": o México foi transformado na periferia miserável dos EUA. Isso levou à ondas de invasões de mexicanos ao território norte-americano, em busca de ganhos maiores. A maior parte para sustentar as suas famílias que permaneceram em condições precárias no México. Os mexicanos sentiam-se vítimas. Explorados e oprimidos pelo vizinho rico. O Governo Norte-americano tentou barrar a onda imigratória através da construção de muros, cercas e maior rigor na expulsão dos imigrantes ilegais. Mal comparando com o Brasil, o México era o Nordeste Brasileiro e os EUA o "sul maravilha".

"Gracias a Diós, estamos cerca de los EUA". Foi um momento inicial da percepção, de ambos os lados, de valer-se da condição de "exploração da mão-de-obra" para produzir no México e vender para os EUA. Em vez de combater as "maquiladoras" adotá-las como oportunidade de produção, trabalho e renda. Iniciando em condições precárias. Essa mudança, apesar da resistência dos sindicatos de trabalhadores mexicanos e da esquerda, começou a ser adotada, dentro do processo de terceirização industrial. Mas não durou muito tempo.

As facilidades dadas pelo Governo Norte-americano, durante o Reaganomic levou à transferência de muitas atividades das maquiladoras para a China. Para as empresas norte-americanas era mais barato comprar insumos ou os produtos da China do que do México, E mais ainda do que produtos nacionais. Muitas empresas norte-americanas que haviam se instalado no México, transferiram a sua parte terceirizada para a China.

Com a retomada do poder pelos democratas com Barak Obama, a política norte-americana voltou a dar maior atenção ao México. Muitas empesas retornaram da China para o México e a indústria automobilística fez do México o seu principal subfornecedor. Como forma de superar a grande crise do setor.

Com isso a indústria automobilística mexicana superou a brasileira. As maiores fábricas  automobilísticas da América Latina estão no México e não do Brasil. E não foram apenas as norte-americanas. A líder latino-americana hoje é a Nissan do México, e não mais a Volkswagen do Brasil, ou mesmo General Motors ou Ford.

Para aproveitar os ganhos de escala o México se voltou para a América do Sul, inclusive o Brasil e domina o mercado dos países não (ou pouco) produtores. O que não é visível, porque as marcas são as mesmas. No México, como no Brasil, não existe uma indústria automobilística nacional. Mas uma indústria automobilística no México, no Brasil.

Esse grande progresso da indústria automobilística no México vai sofrer um grande baque com o "trumpconomic". Haverá uma forte pressão governamental para que as empresas aumentem o conteúdo nacional. Se não for por acordo, será por tributação e outras medidas institucionais.

Uma das principais mudanças será na política ambiental. A pressão dos ambientalistas levou Barak Obama a se posicionar a favor destes e não das grandes empresas. E foi além: já que os EUA vão aderir, devem fazê-lo como líderes e não como coadjuvantes. E tomou a dianteira. Desenvolveu o acordo com os chineses e viabilizou o Acordo de Paris. Trump promete jogar isso tudo fora. Se vai conseguir ou não é outra história. Mas sempre se posicionou a favor da maior produção industrial norte-americana, em que pese a sua maior geração de efeitos nocivos ao meio-ambiente.

Diante das pressões ambientais, apoiada pelo Governo, muitas empresas exportaram a poluição a outras países. Mas com isso também os empregos. A desconsideração pelos ambientalistas, desse efeito, deu forças à eleição de Trump e à derrota daqueles.

Com Trump a indústria automobilística nos EUA vai produzir mais, poluindo mais. Os EUA vão importar menos da cadeia produtiva e o México será o mais afetado. A China nem tanto. Porque só estava iniciando as exportações do Buick chinês fabricado pela GM e o processo, provavelmente, será abortado.

E o Brasil? Terá impactos negativos e oportunidades positivas. O impacto é objetivo é não depende do Brasil. Vai perder exportações de automóveis e peças para os EUA. O trumpconomics pode frustrar a estratégias das marcas de maior valor, que investiram em plataforma de exportação visando o mercado norte-americano.

O positivo está no mercado latino-americano, mas a oportunidade depende mais de mudanças brasileiras do que dos demais países. Apesar das críticas a barreiras, dificuldades logísticas e entraves burocráticos, o fato real e principal é que o Brasil sempre se colocou de costas para os países da América do Sul, exceto a Argentina. Os demais sempre foram considerados países e economias de segunda classe. Com a mesma soberba e preconceitos que os EUA tratam o Brasil. E, com Trump, será pior. Volta a concepção de "quintal". E será perda de tempo e de esforço querer se "reaproximar" dos EUA. Será tratado, como país de quinta categoria e, provavelmente, sem a devida educação e diplomacia. "Preparem-se para as patadas, sem quiserem chegar mais perto do animal".

A oportunidade é virar-se e voltar de frente para os demais países da América do Sul. E passar a ver a América Latina como um único mercado.

Trump obrigará o Brasil, como todos os demais países a se reposicionar no mundo.




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