Brasil com Temer

Respeitando os ditames constitucionais, Michel Temer poderá ainda ter uma sobrevida como Presidente da República. Está na dependência de decisões pessoais. Esses seriam movidos por dois objetivos. O primeiro, de caráter objetivo: não ser transferido do Palácio do Jaburu para o "Palácio" da Papuda, ambos em Brasília. O segundo, subjetivo: passar para a história como o Presidente que recuperou a economia brasileira, após a sua mais prolongada crise.
Pelo primeiro, quer se manter na Presidência para permanecer com o foro privilegiado. Já o segundo corre o risco de desandar com a sua permanência. O fato é que a economia vinha se recuperando até o baque da noite de 17 de maio.
A oportunidade de saída, mostrando bons indicadores seria amanhã - dia 1 de junho de 2017 - com a divulgação dos resultados do PIB do primeiro trimestre. Persistindo na sua permanência, poderá ter que sair com a economia retrocedendo novamente, em função das incertezas e reações geradas pela sua permanência. Tudo o que se jacta de ter construído, desmoronaria. 

Mas será que a economia vai mesmo desandar com a sua permanência? Não será por fatos objetivos, mas subjetivos que povoam o imaginário popular, principalmente o sempre equivocado imaginário dos economistas, mas que influem no imaginário dos empresários e da mídia. Segundo esses na economia tudo é uma questão de confiança. 

Foi na confiança do admirável sucesso da J&F e da dupla caipira Joesley e Wesley, que o "Brasil" voltou à beira do abismo. 

Se Temer permanece, o Governo literalmente para, esperando por uma solução para a sua saída. Poderia ser ainda em junho, com a decisão do TSE. Mas não será. Mesmo que haja a decisão contrária, sem as postergações dos pedidos de vista, Temer continuará. Poderá ser ainda pela decisão final do STF aos recursos contra eventual decisão desfavorável do TSE. Ou mesmo em 31 de dezembro de 2018, quando se encerra constitucionalmente o seu mandato.

Não há incertezas. As decisões judiciais condenarão o registro da chapa e punirão Dilma. O pedido de separação de responsabilidades é uma excrescência jurídica. A decisão final será pela cassação completa. A incerteza é sobre quando isso ocorrerá. Poderá ser postergada até o final de 2018. E gerar a antecipação da posse do novo Presidente eleito.

Enquanto Temer ficar,  permanecerá a crise política, 
com uma sucessão de pedidos de impeachment que não terão andamento ou andamento lento. Também embates pessoais dentro do Congresso, com a oposição buscando "ganhar no grito". E as ruas com os movimentos Fora Temer. Com altos e baixos. As manifestações violentas só geram reações desfavoráveis aos manifestantes. 

Governo parado significa que não haverá inovações, grandes mudanças. A máquina governamental continuará funcionando. Mas problemas que dependeriam de intervenção diferenciada do Governo não terão solução. Como o Governo não dispõe de muitos recursos orçamentários, com mais de 90% em despesas obrigatórias, já não tinha condições de fazer coisas novas. Com a permanência ou não de Temer. "Tanto faz, como tanto fez".

As atividades econômicas, cujos empresários continuam esperando por subsídios, benefícios fiscais, regulações favoráveis e outras benesses continuarão ficando na espera,  comprometendo o desempenho da economia.

Outros empresários não ficarão esperando pelas sinalizações do Governo e buscarão mais vendas, mais produção e contratarão mais. Se forem maioria, mais dos que os primeiros que não querem "largar as têtas do Estado" a economia brasileira continuará  a crescendo, sem o suposto retrocesso que poderá decorrer da crise política.

A evolução da economia dependerá da microeconomia. Não dos modelos macroeconômicos.

Com Temer ou sem Temer o Governo continuará na mesma. Com mudanças de nomes, afetando os que perderão os cargos. Mas logo serão substituídos por outros que darão continuidade às mesmas políticas, às mesmas orientações, eventualmente com menos competência política e com maior demora. 

Com Temer ou sem Temer, a reforma trabalhista deverá ser aprovada no Congresso e a reformar previdenciária, será fatiada. Uma parte ficará para 2019 ou mais, a cargo do novo Governo e Congresso. A mini-reforma política pouco ou nada depende do Executivo. É uma briga doméstica, dentro do Congresso. E a interferência das "vozes das ruas" será mínima no seu desfecho. As demais ficarão "em banho maria".

No campo político, a saída ou não de Temer, é uma disputa de grupos internos pelo poder. Não há qualquer possibilidade de eleger um novo presidente, fora do grupo que assumiu o poder, depois de derrubar o PT.

A política brasileira é dominada por 3 grupos (que podem ser denominados partidos): o do PSDB, o do PT e satélites e do PMDB. Os dois últimos dominaram o poder, durante 12 ou 13 anos, sob comando do PT no Executivo e do PMDB no Legislativo. Com a derrubada de Dilma, o PMDB assumiu o Poder Executivo,  manteve o comando do Legislativo e o PT rompeu, passando à oposição. O PSDB se uniu ao PMDB, como já havia feito no Governo Cardoso, e passaram a ser o grupo dominante. A disputa por uma eventual presidência temporária é interna entre as duas partes desse grupo dominante. 

Qualquer um que possa vir a ser eleito indiretamente pelo Congresso será "pró-mercado", pró-reformas e anti PT.

No campo econômico, começa a haver uma acomodação e resignação. Ou a prevalência do pragmatismo empresarial. Se nada (ou pouco) vai mudar na economia com Temer ou sem Temer, deixem o ficar, e "vamos tocar em frente". 

Os setores produtivos já dão indícios de aceitação. O setor bancário está ainda reticente. Por que será? E os economocatastrofistas desesperados com o risco de suas projeções pessimistas não se concretizarem. 

O Brasil com Temer, ou sem Temer será o mesmo até o final de 2018. 

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