Brasil economicamente forte

O Brasil economicamente forte é uma economia com crescimento sustentado e menos vulnerável às crises internacionais, seja de natureza financeira como comercial.

A questão inicial é: com que inserção da economia brasileira na economia mundial, com que estrutura comercial externa e estrutura financeira?

A inserção quantitativa é dada pela conjugação de 3 grandes indicadores:
  1.  tamanho relativo do mercado brasileiro no mercado mundial, medido pelos PIBs;
  2. volume global e participação relativa da corrente de comércio (exportações e importações) na corrente mundial;
  3. participação relativa da corrente de comércio e suas partes (exportação e importação) na composição do PIB.
São indicadores básicos para avaliar o grau de vulnerabilidade da economia brasileira em relação às variações do sistema produtivo e comercial mundial. Paralelamente  devem ser considerados os indicadores que caracterizam o grau de vulnerabilidade financeira da economia brasileira (tema tratado adiante).

Não bastam os indicadores quantitativos, devendo ser considerada a estrutura qualitativa componente dos indicadores macro econômicos.

A opção inicial é se a dinâmica econômica deve se basear nos recursos naturais,  na industrialização ou nas atividades mais voltadas ao consumo interno  (comércio e serviços)?

Historicamente essa opção foi  e tem sido objeto de muitos debates, com posições opostas, mas na prática o Brasil desenvolveu os três segmentos: o de commodities, a indústria e o terciário.

Mas a tendência está sendo divergente: o setor de commodities, principalmente os agrícolas, está em desenvolvimento, a indústria está decadente e o terciário que sustentou o crescimento e o emprego, está estagnado, em função da contenção do crescimento do consumo interno.

Em função desse quadro, o Brasil de 2022 dependerá de novas opções estratégicas, considerando 3 fatores críticos:
  1. investimentos em infraestrutura;
  2. desenvolvimento tecnológico, produtividade; e 
  3. educação.

 Investimentos em infraestrutura

O Brasil tem um enorme déficit de infraestrutura,  mas com implicações diferenciadas em função do  setor de atividade econômica.

O setor industrial não carece de grande déficit de infraestrutura, seja de logística, como de energia, as duas principais infraestruturas. Na logística o principal gargalo para a indústria é portuária, com desempenho relativamente baixo na movimentação de contêineres. Mas como a indústria está predominantemente voltada para o mercado interno, esse gargalo se manifesta na forma de custos maiores dos produtos importados. Não há falta de capacidade de movimentação para exportação, dentro dos padrões atuais. A região mais industrializada do país que é São Paulo, conta com a melhor malha rodoviária do país, com algumas das suas rodovias no melhor padrão internacional. Os maiores problemas estão nas transposições urbanas.
A movimentação ferroviária para produtos industrializados não é competitiva com o modo rodoviário, e é gargalo apenas para alguns casos específicos e pontuais de transporte de insumos minerais, como da bauxita para a produção de alumínio em Votorantim, no interior de São Paulo.

Também não há carência de capacidade de geração de energia elétrica para suprir as necessidades industriais, apesar da crise hídrica. A questão é de custos, pois no caso de insuficiência de chuvas o sistema elétrico aciona as termoelétricas a gás ou a diesel, cujo custo de produção é muito superior ao da hídrica. Mas ainda é uma vantagem da matriz elétrica brasileira em relação ao resto do mundo. Ocorre que esta vantagem, para a indústria e para os consumidores, em geral, é anulada pelos elevados custos tributários. 

Já para as commodities a carência logística é enorme, mas também diferenciada. O petróleo e gás contam com um sistema de polidutos, ainda insuficiente para o abastecimento nacional, mas sem gargalos maiores para o comércio externo. O minério de ferro, tem os seus sistemas próprios, mas novas minas dependem de investimentos em ferrovias. Os interesses são mais privados e regionais, uma vez que há excesso de minério de ferro no Brasil e no mundo. 

Já os setores de produtos florestais e de commodities agrícolas ainda dependem fortemente do modo rodoviário, com os produtos percorrendo estradas e más condições de tráfego. 

Dadas as enormes necessidades de investimentos em logística para o setor de commodities agrícolas, principalmente para a soja, em contrapartida à insuficiência de recursos, o Brasil - através dos seus principais protagonistas - precisa adotar uma opção presente, em relação ao seu futuro:
  1. melhorar e reforçar os corredores de escoamento da soja do centro-oeste para o sul e sudeste; ou
  2. desenvolver a saída norte, envolvendo os diversos corredores (madeira, tapajós, tocantins e norte-sul) entre as regiões produtoras e os portos do arco norte 
Na primeira opção o Brasil assegura maior integração regional, mas com a contrapartida de manutenção de maior desigualdade social.
Na segunda opção, poderemos ter um Brasil "partido" com um sul sudeste, predominantemente industrial, isto é, o Brasil Industrial e ao centro-oeste e norte predominantemente de commodities. 

Com o segundo com maior potencial de crescimento econômico, se contrapondo a uma provável crise continuada do primeiro.

Tecnologia e produtividade

Os setores das commodities se desenvolvem em grande escala, voltadas para o mercado mundial, alcançando altas produtividades em relação aos diversos fatores e com grande incorporação de tecnologias. 

Os ganhos de produtiva decorrem, em muito, da escala da produção, que permite investir em tecnologia, pois o volume de produção, apesar dos baixos valores unitários viabiliza o retorno dos investimentos.

Embora muitos ainda tenham a imagem de uma produção primária, extrativa e atrasada, são os setores com maior nível de inovações e incorporações tecnológicas, embora nem sempre registradas  em patentes.

Em contraposição a indústria brasileira integrante da cadeia produtiva da soja e de outras commodities agrícolas pouco evolui, não tendo capacidade de concorrer com os competidores externos.

À montante da produção agrícola, a produção dos equipamentos agrícolas é predominantemente dominada por multinacionais, algumas produzindo no país, outras importadas. Essas, em geral, de origem asiática. A Jacto é uma exceção, com o projeto e produção de modernas colheitadeiras e equipamentos correlatos, instalada no interior de São Paulo, mantendo um significativo volume de investimento em pesquisa & desenvolvimento.

Com o desenvolvimento das sementes transgênicas, o fornecimento delas foi dominada pelas multinacionais. Os fertilizantes e defensivos também são fornecidos pelas multinacionais, com uma pequena parte produzida no país. E agora vem sofrendo a invasão dos produtos chineses, com base nos preços menores, a partir de uma petroquímica mais eficiente. Embora os concorrente os acusem de prática de dumping. 

Na cadeia produtiva a jusante, o Brasil mal consegue industrializar os produtos naturais, com exceção da cana de açúcar e da laranja, entre os produtos agrícolas. Consegue um avanço maior na pecuária, em todos os tipos de carne e na celulose a partir do eucalipto. Mas na soja, o seu maior produto agrícola, a industrialização é baixa, havendo a predominância da exportação de grãos e não de farelo e óleo.

Argumenta-se com as questões tributárias (lei Kandir) e estratégias das tradings multinacionais que dominam a comercialização. Mas, no fundo, persiste a questão da falta de competitividade do produto industrializado.

O processamento ou transformação de um produto natural não agrega apenas valor, mas - principalmente - custos. Se a agregação de custos é maior que a de valor, essa atividade se torna, no nível microeconômico, desinteressante para a empresa. O custo decorre das condições operacionais da produção, incluindo as externalidades. O valor não é dado pelo produtor, mas pelo comprador. Ou em alguns casos, no qual se incluem os derivados da soja, em bolsas de mercadorias onde os preços se baseiam no equilibrio entre a oferta e a demanda, na escala mundial.

As empresas do complexo soja alegam que é mais rentável exportar soja em grão do que derivados, pois a margem que obtém é maior. Ou em termos econômicos, a renda marginal do processamento/transformação é negativa.

No "esmagamento" do grão, para a produção conjunta de farelo e óleo, os produtores tem preferido reduzir a exportação de óleo, para aumentar o fornecimento desse insumo para a produção interna de biodiesel. O que decorre de distorções na política de precificação dos combustíveis fósseis. 

O Brasil é competitivo na produção das commodities, com elevados índices de produtividade e incorporação de tecnologias, decorrentes das estratégias das empresas produtoras.

O Brasil não é competitivo nos segmentos industriais da cadeia produtiva da soja e de outras commodities seja porque a produção nacional é mais cara do que a importada, ou porque o valor agregado líquido da industrialização é negativo. 

Defender a preferência pela industrialização na suposição de que o valor agregado é sempre positivo, pode resultar em maiores perdas do que ganhos para a economia. 

Por outro lado, deve se considerar que o processamento industrial agrega custos, principalmente na forma de remuneração dos trabalhadores e esses irão gastar os seus ganhos no mercado, gerando um efeito adicional: o chamado efeito renda. Mas como essa renda adicional não entra para os cofres do produtor industrial não lhe interessa, a menos que o mesmo seja compensado pelo  Estado. O que pode gerar distorções maiores na economia.

Se a mudança não decorre de decisões de mercado por parte das empresas, pode ou deve o Estado intervir para estimular as empresas a decisões mais consentâneas com o interesse nacional?


O papel das multinacionais

Os produtores agrícolas são predominantemente nacionais. A comercialização é realizada pelo grupo das tradings que dominam o comércio mundial. 

Um dos maiores produtores nacionais está entrando também na comercialização, concorrendo com a 4 (ou 5) irmãs. 

As tradings estão verticalizadas, com a industrialização do óleo de soja, até a etapa do produto refinado vendido ao consumidor.

 Nos insumos também a presença das multinacionais é bastante ampla. 

Uma estratégia nacional de "adensamento" da cadeia produtiva deve ser desenvolvida com as multinacionais ou deve priorizar o desenvolvimento das empresas nacionais?

  

Educação

 A educação é um fator crítico ou estratégico para a promoção do desenvolvimento, em todos os sentidos, inclusive o econômico.

Haveria diferenças entre os níveis educacionais entre os setores rurais do agronegócio e dos setores urbanos ou suburbanos das indústrias.

A imagem da produção agrícola é ainda de uma atividade com o uso de mão-de-obra pouco qualificada, o que não corresponde mais à realidade.

O perfil atual é de uma mão de obra mais qualificada, mais preparada e com níveis educacionais mais elevados.  Com um interesse maior pela evolução tecnológica. 

O mesmo não estaria ocorrendo com os empresários e os trabalhadores industriais. Talvez porque uma grande parte é de multinacionais, com dirigentes contratados e não empresários.

Nesse caso a pergunta seria: como promover o desenvolvimento de um quadro empresarial privado e nacional, dentro da cadeia produtiva da soja?

O desenvolvimento do setor empresarial nacional do biodiesel, poderia ser uma estratégia?

Ou seria pela verticalização dos produtores agrícolas, se forem mais capitalizados?

Qual seria o papel da educação nesse processo de desenvolvimento industrial da cadeia produtiva da soja?



As alternativas  "monetaristas"

 Em termos do Brasil que Queremos todos concordam com indicadores melhores do que do Brasil que Temos.  As alternativas em relação a esses macro indicadores decorrerão  da velocidade dos ajustes e da retomada do crescimento, o que leva  à opção entre as seguintes de natureza monetarista:
  1. esperar e confiar que a economia se recuperará pela sua dinâmica própria, com os Governos mantendo a estratégia de mínima intervenção na economia, exceto pela taxa de juros, seguindo as perspectivas do mercado e pela obtenção das metas de déficit primário das contas públicas;
  2. resultados impulsionados com uma intervenção estatal, acima do mínimo, contendo a taxa de juros, esperando que isso reanime a economia e intervenções pontuais  de natureza setorial, com vistas a manter o nível de atividades e  de empregos;
  3. uma retomada mais acelerada, mediante intervenções mais amplas do Governo, com o sentido anticíclico, para maior defesa contra as crises internacionais e estimular o crescimento.
Em relação à primeira opção os oponentes apontam a elevada taxa de juros como a responsável pelo agravamento da recessão, assumindo que o resultado macroeconômico será pior.

Por outro lado os oponentes da terceira alternativa valem-se da tentativa similar feita ao longo do primeiro mandato de Dilma para demonstrar a probabilidade de resultados altamente negativos.

As alternativas estruturais

A par dessas alternativas de caminhos da economia brasileira de estratégia monetarista e sequências conjunturais, existem grandes opções de natureza estrutural:
  1. seguir o caminho do desenvolvimento focado na industrialização voltada para o mercado interno. O aumento das exportações, tanto das commodities como dos industrializados, em função da desvalorização do real, seriam condições conjunturais que ajudariam a retomada do crescimento, mas não alterariam o modelo estrutural;
  2. reorientar a indústria para suprimento mundial. Para isso o Governo buscaria eliminar ou reduzir os empecilhos às exportações, aceitar maior protagonismo das multinacionais nesse processo, acelerar e ampliar os acordos comerciais, com prioridade para os mercado das multinacionais já instaladas no país. Passaria a aceitar a figura ou conceito de plataformas mundiais, inclusive das plataformas de exportação.
  3. A terceira opção é de um Brasil das commodities, fazendo da produção e suprimento mundial desses produtos a principal alavanca da retomada do crescimento econômico e, na sequência, a base de sustentação. As prioridades de investimentos em infraestrutura estariam voltadas para o escoamento das commodities, com primazia para a saída norte.

A oposição  à primeira opção seria o esgotamento do mercado interno e a incapacidade, por força própria de recuperação. Ademais a consideram que a indústria instalada não se atualizou, não inova, não investe em pesquisa & desenvolvimento e não tem como concorrer com os produtos industriais asiáticos. E se eventualmente ocorrer uma revitalização do mercado interno, essa seria atendida prioritariamente por importações. Para evitar isso seria necessário aumentar o nível de proteção à indústria nacional, o que provocaria um atraso tecnológico maior.

A pretensão de desenvolver uma indústria para o mundo seria frustrada pelo atraso tecnológico, pela excessiva carga tributária, pelos custos trabalhistas, associados aos encargos sociais e por todos os demais itens do Custo Brasil. A principal estratégia para alcançar essa visão seria a dos "campeões nacionais" que deu certo em países asiáticos, mas fracassou no Brasil, além de estar associado a práticas corruptivas e privilégios aos "amigos do rei". As plataformas de exportação tem sido, no mundo, um mecanismo de exploração do trabalhador com a sua precarização para favorecer os consumidores dos paises ricos.

O Brasil não poderia depender de commodities que são produtos de baixo valor agregado, com a definição de preços por bolsas internacionais, com pouca interferência dos produtores que ficam sujeitas às flutuações dos preços impostos pelo mercado. As commodities seguem uma tendência secular de depreciação dos preços, ao contrário da indústria, que tem maior valor agregado e maior sustentação dos seus preços. Ficar na dependência das commodities representaria um Brasil economicamente fraco. Não seria o Brasil que Queremos.



















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