Michel Temer não tem condições de mudar o modelo do "presidencialismo de coligação", um eufemismo do modelo patrimonialista e de loteamento político, reimplantado com a redemocratização do país, em 1985.
Tancredo Neves montou um Ministério loteado, mas faleceu antes da posse e Sarney o herdou. Gerenciou com relativa competência. Enfrentando oposição e crise. Teve que reduzir o mandato, mas não chegou a ser impedido, apesar das "barbeiragens" na economia. Collor tentou romper com o modelo e acabou impedido, sem o apoio do Congresso. Itamar não tentou mudar, tampouco Fernando Henrique Cardoso, com razoável sucesso apesar da aguerrida oposição do PT. Ao assumir o poder, o PT tentou um ajuste no modelo, trocando o loteamento pela ajuda financeira, o famoso "mensalão". Não conseguiu, teve que ceder os cargos, mas promoveu um importante ajuste: não loteou "porteira fechada", procurando manter os cargos executivos com a "turma do PT". Em muitos casos promovendo servidores concursados. Lula dava o cargo de Ministro ao político e ao seu partido, mas não o Ministério. O Secretário Executivo era pessoa da confiança do partido.
Apesar dos conflitos com os partidos e com as suas lideranças, mediante a sua habilidade pessoal conseguiu manter uma base aliada, com razoável sucesso. Manteve controle sobre o Congresso, apesar das críticas de alianças espúrias, com as com seus antigos oponentes.
Dilma assumiu com total incompetência e inabilidade para trabalhar com esse modelo. Teve que "engolir" e nomear Ministros com os quais não tinha nenhum relacionamento positivo, tampouco confiança. Foi perdendo sucessivamente o apoio no Congresso. Agravada pelo confronto com Eduardo Cunha.
Ampliou o loteamento sem conseguir os resultados. Vai acabar impedida, pela maioria absoluta dos parlamentares nas duas casas.
Temer assume, com o mesmo modelo, mas - supostamente - com experiência e habilidade que Dilma não tem.
Ele precisa aprovar algumas medidas estratégicas e evitar outras (a chamada "pauta bomba") no Congresso. Para isso poderia contar com um parceiro incômodo que é Eduardo Cunha.
"Quem não tem Cunha vai de Waldir".
Eduardo Cunha tinha como um dos grandes trunfos, embora não o único, o profundo conhecimento pessoal do Regimento Interno da Câmara e sabia manobrar com maestria a seu seu favor e infernizar os adversários. Waldir Maranhão não tem a mesma competência. Era um "pau mandado" de Cunha.
Não tendo Cunha, esse é o perfil que Temer precisa. Tem apenas que torná-lo um "pau mandado de Temer".
Os que só vêem o presente, devem lembrar que Michel Temer já foi, por três vezes, Presidente da Câmara e conhece muito bem o regimento interno. Pode estar desatualizado, mas já deve estar se atualizando, por não poder contar com Cunha.
O que é também um alívio. Cunha é um parceiro incômodo. Bom, mas cobra muito caro.
Diferentemente de Dilma, mesmo sem o poder formal, Cunha não será carta fora do baralho. Ainda irá manobrar, com todas as suas forças, mas terá como prioridade absoluta tentar salvar o seu mandato.
O Ministério de Temer não é o que a sociedade organizada queria e espera. Mas é, provavelmente, o possível dentro das circunstâncias.
A esperança é que ele, com a suposta habilidade política, consiga estabilizar a crise política, não obstante a resistência e oposição do PT e seus parceiros e faça com que a economia volte a funcionar.
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