Dinâmica urbana (1): opinião publicada e não publicada

 O blog é um diário, para registro das reflexões diárias. Comecei o de hoje, com uma reflexão sobre a dinâmica urbana e as visões coletivas sobre essa. E acabei novamente afetado por um tema aqui recorrente. As diferenças entre as opinião publica e a não publicada as quais, no conjunto, formam a opinião pública.  Isso porque acabo de ver que a opinião não publicada mais uma vez derrotou a opinião publicada. E demonstrou que opinião publicada não é a opinião pública. Mas apenas uma parte. A opinião não publicada inglesa derrotou a opinião publicada. O artigo abaixo está dividido em duas partes: a primeira que analisa a dinâmica de ocupação das cidades. A segunda que envereda - mais uma vez - para as reflexões sobre a opinião publicada e a opinião pública.

As cidades, com o seu crescimento melhoram a vida dos seus moradores, mas também trazem grandes problemas: todos pontuais que afetam a vida cotidiana. É o congestionamento no trânsito, a falta da água, o esgoto correndo no meio da rua, o lixo não recolhido, a violência urbana, a carência de vagas em creches, etc, etc. Alguns são universais, como os problemas de mobilidade urbana. Outros afetam segmentos particulares, mas são mostrados e disseminados a todos, como problemas urbanos.

Todos esses tem a mesma origem estrutural a forma de ocupação territorial da cidade. Que por sua vez decorre da visão e percepção de cada ser urbano sobre como ocupar e se apropriar do que a cidade oferece ou proporciona. Essa visão não é monolítica e consensual. São visões diferenciadas com fundamentos econômicos e culturais e, muitas vezes, antagônicas. 

É a partir dessa "visão de cidade" que as pessoas fazem as suas opções. Nas quais a condição econômica é o elemento fundamental. Algumas pessoas, a minoria dos seres urbanos, tem uma gama de opções em relação a como ocupar e se apropriar da cidade. E, em tendo condições econômicas, para opções, essas são influenciadas por valores culturais.
A maioria, por limitações econômicas,  tem poucas opções.

Os governos  podem se posicionar em duas visões opostas. De um lado a esquerda defende a intervenção do Estado para mitigar a injustiça social e proporcionar a todos o direito de se apropriar da cidade. Ou seja, dos benefícios que a cidade proporciona, independentemente da sua condição de renda. 

De outro, o que se poderia alcunhar de "direita urbana" entende como natural a apropriação diferenciada em função da renda. Diverge ou até se opõe à interferência estatal para garantir aos "sem opção" a ocupação de territórios ao qual não teriam acesso em função da sua renda. 

A direita urbana entende que a dinâmica da cidade é um fenômeno econômico, em que a geração e apropriação de renda comanda todo o processo. Assume que a cidade funciona segundo as leis de mercado.

A esquerda urbana não aceita os fundamentos econômicos por entender que essa é de natureza capitalista e por isso injusta e que cabe aos Governos intervir para corrigir ou evitar as injustiças. 

Na realidade não essa dicotomia de forma simples, mas  fundamenta as diversas visões e ações dos governantes e da sociedade civil organizada. A qual forma a opinião publicada. Essa é um segmento da opinião pública.

Abrimos aqui um parentesis. 

Opinião pública, publicada e não publicada


Reiteramos a diferenciação sobre as amplitudes dessas categorias de opinião coletiva. Porque a opinião publicada domina as ações públicas a maior parte do tempo da vida cotidiana. Com exceção do período eleitoral.    E a opinião pública se manifesta nas urnas, muitas vezes contrariando a opinião publicada. 

Registro mais uma vez essa diferença, em função do resultado do plebiscito na Inglaterra em relação à permanência dela na União Européia ou não. Nas últimas semanas a opinião publicada dava como certa, embora com pequena margem, a vitória do Fica. Mas opinião não publicada foi às urnas, em massa, para votar pelo Brexit. Que acabou ganhando, por pequena margem. 

A grande ilusão política moderna é continuar entendendo que a opinião publicada determina ou comanda a opinião não publicada. 

O plebiscito da Grã Bretanha demonstrou mais uma vez que isso já não ocorre. 

Mas fechemos o parêntesis. 

 Uma visão equivocada da construção das cidades

 A opinião publicada - da qual faço parte, assim como os meus leitores - vê como os grandes construtores da cidade os Governos e o mercado imobiliário. 

Segundo a direita, o mercado imobiliario seria o grande construtor da cidades, promovendo a sua modernização e ofertando as oportunidades de moradia e locais de trabalho.

A esquerda urbana acusa esse mesmo mercado de ser o principal responsável pelas distorções da construção da cidade, promovendo um adensamento e verticalização predatória. E que seria responsável  pelos permanentes congestionamentos no trânsito da cidade, pela atração aos mesmos destinos das frotas  de carros, também em permanente crescimento.

Pois  as estatísticas já citada aqui mostram que a maior parte das construções, seja em quantidade de unidades, como de volume em m2 não é feita pelo mercado imobiliário, nem pelo governo. É feito pelas famílias, com a sua poupança. Sem financiamentos oficiais ou particulares. 

O responsável pela ocupação desordenada da cidade não é o mercado imobiliário. Essa não construiria mais que 20% de todas as construções.  Mas tem influência indireta. 



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